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Efemérides

Morte de Nikias Skapinakis

No dia 26 de agosto de 2020 faleceu o artista plástico Nikias Skapinakis, uma referência fundamental da cultura portuguesa contemporânea.

(1913 - 2020)


Nikias Skapinakis fez da pintura atividade dominante, vendo nela "um processo de conhecimento", uma procura constante da "essência das coisas", que estendeu por mais de 60 anos.

Filho de pai grego e de mãe portuguesa, Nikias Skapinakis nasceu em Lisboa, em 1931. Começou por estudar pintura e desenho, nos cursos da Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), ainda na adolescência, a que se seguiu o curso de Arquitetura de que foi expulso, pelas autoridades do regime, por motivos políticos.

O processo acabou porém por o levar à expressão que mais desejava, a Pintura, e à qual se dedicou de forma regular e quase exclusivamente, durante toda a vida, desde a década de 1940.

Expôs pela primeira vez em 1948, na SNBA, nas mostras coletivas dos jovens artistas da época. Dedicou-se à litografia, à serigrafia e à ilustração. Ilustrou "Quando os Lobos Uivam", de Aquilino Ribeiro (Livraria Bertrand, 1958), e "Andamento Holandês", de Vitorino Nemésio (Imprensa Nacional, 1983).

"Partindo de uma figuração lírica, que assimilou dados da modernidade figurativa do início do século, muito cedo a sua pintura revelou uma capacidade interpretativa do quotidiano lisboeta. As cores saturadas do final da década de 1950 antecipam uma viragem que conjuga uma mais plena assimilação da bidimensionalidade modernista com a linguagem popular dos cartazes e posters que invadem a vida de um novo mundo", lê-se no catálogo da antológica "Presente e Passado".

Skapinakis revisitou os géneros tradicionais, como a natureza-morta ou a pintura de história, mas reconfigurou tudo, tendendo para abstrações, "que se definem ambíguas e inesperadamente tomadas de um sentido do real", para linguagens gráficas ou populares, 'tags', assimilando sempre múltiplas referências, que nunca deixaram de estruturar o seu trabalho, como se lê naquele catálogo.

É autor do "Retrato dos Críticos" (1971), um dos painéis concebidos para "A Brasileira do Chiado", em Lisboa, onde reúne José-Augusto França, Fernando Pernes, Francisco Bronze e Rui Mário Gonçalves.

A obra faz parte do ciclo temático "Para o estudo da melancolia em Portugal", que iniciara em 1967, com "As Três Graças" e que culminaria em 1974, no encontro das escritoras Natália Correia e Fernanda Botelho com a pianista Maria João Pires, uma das pinturas que marcam a arte portuguesa da década de 70.

São também de Skapinakis "As Metamorfoses de Zeus" e os "Enlevos de Miss Europa", que leva ao longo da década de 1970, os "Retratos de Ausência", no conjunto de "Pessoas, Ninfas, Bichos, Frutos e Manequins", que estendeu por mais de 40 anos, desde 1960.

"Com o passar dos anos foram-me atribuindo várias classificações genéricas - expressionista, neorrealista, pop, pós-modernista, clássico, metafísico... Com exceção da asserção neorrealista, que era despropositada, todas as outras designações respeitam, efetivamente, aspetos mais ou menos prolongados do meu trabalho", escreveu na introdução à mostra "Presente e Passado".

Os "Quartos Imaginários", que expôs no Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva, em que combina 'leituras' de Duchamp, Tàpies, Lucien Freud, Juan Gris, Paul Klee, David Hockney, Max Ernst ou William Blake, retomam uma figuração, nos anos de 2000, que as paisagens dos anos de 1990 pareciam ter decomposto.

Em 2005, para a estação de Arroios, do metro de Lisboa, que se mantém em obras de ampliação, concebeu o painel "Cortina Mirabolante" - do "pintor mirabolante" que também se assumiu -, pensado para a área central, antecedendo o acesso aos painéis originais de Maria Keil.

Em 2009, levou "Desenho a preto e branco e a cores", ao Centro Cultural de Cascais, abrangendo a obra gráfica de 1958 a 2009.

Um ano depois, concebeu "Paisagem-Bandeira Portuguesa", sobre a Bandeira Nacional, no âmbito das Comemorações do Centenário da República.

Em 2014, apresentou na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, a série de guaches "Lago de Cobre" e os desenhos "Estudos de Intenção Transcendente". Ilustrou a revista Colóquio Letras dedicada a Almada Negreiros.

Em 2017, apresentou no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, igualmente em Lisboa, a série desenvolvida a partir de 2014, "Paisagens Ocultas - Apologia da Pintura Pura".

Em setembro de 2019, a série "Descontinuando", do pintor, foi mostrada no Teatro da Politécnica, Lisboa, a 'casa' dos Artistas Unidos, companhia dirigida por Jorge Silva Melo, que em 2007 dirigiu o documentário "Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros".

As principais retrospetivas dedicadas a Skapinakis aconteceram em 1985, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com a primeira grande exposição antológica da sua pintura, completada com uma retrospetiva da obra gráfica e guaches na SNBA.

Em 1996, o Museu do Chiado mostrou "Para o Estudo da Melancolia. Retratos de Retratos" e, em 2000, Serralves dedicou-lhe a "Prospectiva 1996-2000".

No passado mês de julho, a Galeria Fernando Santos, no Porto, inaugurou uma exposição de obras inéditas de Nikias Skapinakis, sobre o tema da paisagem, com o lançamento do livro "Nikias Skapinakis - paisagens [landscapes]", de Bernardo Pinto de Almeida, numa edição conjunta com a Documenta.

Em 1990, o pintor recebeu o prémio da secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte; em 2005, o Grande Prémio Amadeo de Souza Cardoso, da Câmara Municipal de Amarante, e, em 2006, o Prémio do Casino da Póvoa de Varzim. Nesse mesmo ano, foram-lhe atribuídas as insígnias de Grande Oficial da Ordem de Santiago de Espada.

Está representado em perto de uma centena de coleções nacionais e estrangeiras, privadas e institucionais, como as da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação de Serralves, do Museu Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporânea e do Museu Coleção Berardo, da Sociedade Nacional de Belas-Artes e da Caixa Geral de Depósitos/Culturgest, nas coleções de Manuel de Brito, António Prates, Nuno Portas e da galeria Fernando Santos, entre outras.

 
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