Uma Peça | Um Museu
Biombos Namban
Em 1543, os portugueses chegaram ao Japão, iniciando um contacto entre povos que foi, acima de tudo, um encontro de civilizações. Desenvolveu-se a partir dessa data um intercâmbio comercial e cultural que ficou registado nestes dois pares de biombos.
Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga.
Biombos Namban
Japão, Kano Naizen
1593-1602, Período Mamoyama
Têmpera sobre papel, folha de ouro, seda, laca e metal
Inv. 1640 - 1641 Mov.
Pensados para compartimentar os espaços, os biombos eram geralmente executados aos pares, compondo-se por um número variável de folhas articuladas cobertas de papel, rematadas por uma fina moldura em laca. Nessas superfícies, o pintor registava, em cores fortes e brilhantes, temas que tinham continuidade narrativa do primeiro para o segundo biombo. Os acontecimentos quotidianos realçados em fundos dourados eram, em regra, o tema preferencial da nova classe dominante japonesa que emergia num período de crescente estabilidade política Foi em tal contexto que se encomendaram estes biombos. Neles se regista o ambiente festivo e de novidade que representava a chegada do barco negro dos namban jin (os bárbaros do sul, como eram designados os portugueses) ao porto de Nagazaqui.
No primeiro par de biombos, marcado com o selo do pintor Kano Naizen, narram-se, da esquerda para a direita, os preparativos para a saída da nau de um porto que se pretende que seja Goa, intenção sublinhada pela representação de elefantes e de uma arquitetura outra. No biombo da direita, representa-se a chegada da nau ao seu porto de destino no Japão, e o desembarque dos seus preciosos bens, representados com todo o pormenor. Assim, identificam-se perfeitamente as sedas da China, os animais exóticos, e todos os restantes produtos transacionados pelos portugueses em diversos portos do oriente, transportados num cortejo encabeçado pelo capitão-mor da nau. Mais à direita, membros de várias ordens missionárias aguardam a chegada desta comitiva junto a uma igreja.
No segundo par de biombos, atribuído ao pintor Kano Domi, tendo embora o mesmo tema, a escala é diferente. No biombo da esquerda, negoceia-se numa nau sem velas, enquanto em terra se controla a descarga dos preciosos bens, onde mais uma vez avultam as ricas sedas chinesas em fardo ou em rolo. No biombo da direita, representa-se, liderado pelo capitão-mor, o cortejo em direção à Casa dos jesuítas. Segue-o um grupo de personagens de ricos trajes, não se omitindo no desfile o cobiçado cavalo persa, a cadeira chinesa, os animais exóticos e os famosos potes vidrados para transportar especiarias.
A minúcia com que são representados os vários intervenientes, a descrição da nau e do seu precioso carregamento e sobretudo a determinante presença dos missionários jesuítas, ultrapassam, pelo seu significado, o próprio registo visual, tornando estas peças num documento ímpar no contexto das relações Portugal-Japão.