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FILIPE LOPES: HÁ DEZ ANOS NAS PRISÕES A LIBERTAR POESIA

Filipe Lopes anda há dez anos a saltar de prisão em prisão. Mas não é um criminoso reincidente, é um dinamizador cultural que utiliza a literatura e a arte para apoiar o processo de reinserção dos reclusos.


Filipe Lopes anda há dez anos a saltar de prisão em prisão. Mas não é um criminoso reincidente, é um dinamizador cultural que utiliza a literatura e a arte para apoiar o processo de reinserção dos reclusos.

Desde 2003 que o projeto "A Poesia não tem grades" percorre os Estabelecimentos Prisionais portugueses, desenvolvendo acções de sensibilização para a leitura. Mas não são aulas nem palestras eruditas, são momentos de partilha onde todos os participantes se podem rever e deixar levar pelas palavras dos escritores, expondo as suas sensações e até os próprios textos.

Mas quem é afinal este homem que dedica grande parte do seu tempo a trabalhar atrás das grades? Filipe Lopes é um dos fundadores do coletivo tomarense "O Contador de Histórias" e trabalha a tempo inteiro na promoção do livro e da leitura em escolas, bibliotecas e outros espaços menos óbvios como as pediatrias hospitalares ou os lares de idosos. Procurou desde sempre públicos menos comuns, muitas vezes excluídos das rotas culturais, dando particular atenção ao contacto com as populações mais afastadas dos grandes centros urbanos. A procura de todos os locais possíveis para passar a mensagem da importância da leitura levou-o ao Estabelecimento Prisional de Sintra, em 2003, no primeiro contacto com uma realidade desconhecida. A partir daí e com o apoio do Instituto do Livro, durante alguns anos, começou a realizar projetos com os reclusos, numa fase inicial de forma continuada, em Sintra e Tires e posteriormente em sessões únicas, permitindo o acesso a esta atividade em locais mais distantes de Lisboa e Porto, marcando presença de Bragança aos Açores, em parceria com Direção Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais.

Nos últimos cinco anos o projeto "A Poesia não tem grades" tornou-se exclusivamente um trabalho voluntário, com todos os encargos com a atividade realizada, incluindo as deslocações pelo país, a serem assumidos pela pequena estrutura que suporta o Grupo O Contador de Histórias. Sem apoios públicos ou de outra ordem, as atividades não deixaram de ocorrer e em 2015 Filipe Lopes prepara-se mesmo para alargar o número de sessões a realizar, continuando também um processo de formação de voluntários em diversos pontos do país. Para garantir a viabilidade financeira do projeto estão a decorrer diversos iniciativas como a angariação de fundos através de crowdfunding através da plataforma PPL e em breve será lançado o livro "O lado de dentro do lado de dentro", com originais de autores como Afonso Cruz, Richard Zimler, Alice Vieira, Inês Fonseca Santos ou Filipa Leal, entre muitos outros, e cujas vendas vão reverter inteiramente para aquele trabalho.

 Para Filipe Lopes, a necessidade de continuar esta iniciativa aumenta na mesma medida em que as prisões portuguesas estão cada vez mais sobrelotadas e que os serviços estão limitados na sua capacidade de oferecer aos reclusos atividades que possam estimular o seu desenvolvimento intelectual. A poesia e literatura em geral são ferramentas para um processo que passa também pela introspeção, lidando com sentimentos fortes e permitindo uma catarse que promova a renovação individual. Para muitos destes homens e mulheres, o contacto com um livro ou com um recital poético dá-se na cadeia e muitos deixam-se tocar por aquelas palavras, encontrando nelas algum significado para as suas vidas. "A Poesia não tem grades" tem também como objetivo chamar a atenção da sociedade para a realidade do ambiente prisional, desconhecida para a maioria e desfasada de uma realidade transmitida pelo cinema e televisão. Se é fundamental fazer cumprir a lei e punir os infratores, também é necessário que não nos esqueçamos que a não existe pena de morte ou sequer prisão perpétua, em Portugal. "O recluso de hoje é o nosso vizinho de amanhã!" é a frase que Filipe Lopes repete para lembrar a importância de criar condições para que a passagem pela prisão traga algo de positivo, permita alguma reabilitação e prepare para uma integração na vida ativa.

Em 2015 vão realizar-se 50 sessões em diversos estabelecimentos prisionais do Continente e Regiões Autónomas. O apoio individual ou institucional para que tal seja possível pode ser feito através da página do projeto em www.apoesianaotemgrades.pt.



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