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SONY MUSIC PORTUGAL DISPONIBILIZA ÁLBUNS DE VINICIUS DE MORAES
No dia 17 de fevereiro 2014, a Sony Music Portugal disponibiliza os álbuns “A Vida Tem Sempre Razão”, um álbum de homenagem ao centenário do nascimento de Vinícius de Moraes, que foi lançado no Brasil no ano passado e que agora chega ao nosso país, e o projeto “Arca de Noé”, uma releitura do clássico álbum infantil de Vinícius de Moraes de 1980, que vê novamente a luz do dia com novas adaptações/interpretações.
Site oficial: www.viniciusdemoraes.com.br
No dia 17 de fevereiro 2014, a Sony Music Portugal disponibiliza os álbuns “A Vida Tem Sempre Razão”, um álbum de homenagem ao centenário do nascimento de Vinícius de Moraes, que foi lançado no Brasil no ano passado e que agora chega ao nosso país, e o projeto “Arca de Noé”, uma releitura do clássico álbum infantil de Vinícius de Moraes de 1980, que vê novamente a luz do dia com novas adaptações/interpretações por conhecidos nomes da MPB como Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Erasmo Carlos, entre outros grandes nomes da MPB. Também os Buraka Som Sistema participam neste álbum, em conjunto com Ivete Sangalo.
“A VIDA TEM SEMPRE RAZÃO”
Há cem anos, nascia um dos maiores poetas que o Brasil já conheceu. Vinicius de Moraes deixou a sua marca na MPB, sendo eternamente lembrado como um dos grandes letristas da Bossa Nova.
Os seus clássicos estão marcados no imaginário de todo o povo brasileiro e não há como falar de amor sem falar de Vinicius.
Como forma de homenagear o centenário desse génio da Bossa Nova, o produtor musical Zé Milton reuniu os maiores nomes da música popular brasileira para interpretar os mais importantes clássicos do poeta. Entre os convidados estão, Chico Buarque, Seu Jorge, Raimundo Fagner, Nana Caymmi, João Bosco, Toquinho, Zeca Pagodinho, Ana Carolina, Arlindo Cruz entre outros. O resultado desses convites são regravações inéditas e surpreendentes.
“A Vida Tem Sempre Razão” é item obrigatório nas coleções de quem gosta de boa música e de poesia.
“ARCA DE NOÉ”
Releitura da clássica de um dos álbuns de maior sucesso junto do público infantil, “Arca de Noé” de 1980, de Vinícius de Moraes, traz as maiores vozes da MPB num só álbum.
Canções gravadas por: Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Erasmo Carlos e outros grandes nomes da MPB.
O projeto “Arca de Noé 2013” que foi concebido por Susana Moraes, filha de Vinicius, ao lado de Dé Palmeira, Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto tem como principal objetivo atualizar músicas que existem há mais de 30 anos, seguindo o espírito aberto, ousado e inquieto de Vinicius.
O resultado do projeto foi um álbum de qualidade impecável e primorosa, com versões novas, divertidas e com os artistas fora da zona de conforto de cada um.
A novidade deste trabalho é a faixa "O Elefantinho", composição de Adriana Partimpim sobre poema inédito de Vinicius. Num clima de cartoon, arranjo jazzy, uma linha de baixo mortal (de Alberto Continentino) e com apenas um acorde, Adriana mantém o clima esperto das músicas infantis de Vinicius. Além dessa, existem outras músicas com arranjos tão diferentes que até parecem novas, como “As Borboletas” e “A Cachorrinha”.
E com tantas e tão ricas transformações, a "Arca de Noé 2013" fecha-se ao som do próprio Vinicius, com Toquinho ao violão, cantando "A Casa". Como que para lembrar que mudam os tempos, mudam as sonoridades, mas a poesia de Vinicius para crianças, com a sua esperteza, a sua mistura de lirismo, crueldade e invenção (na tradição da melhor literatura infantil dos contos de fada) talvez seja eterna.
“A VIDA TEM SEMPRE RAZÃO” - alinhamento:
1. O Amor Em Paz - Chico Buarque
2. Chega De Saudade - Zeca Pagodinho
3. A Felicidade - Joyce Moreno E Roberta Sá
4. Janelas Abertas - Nana Caymmi
5. Canto Triste - Edu Lobo
6. Onde Anda Você - Maria Creuza
7. Você E Eu - Carlos Lyra E Marcus Valle
8. Samba Em Prelúdio - Miúcha E Renato Braz
9. Medo De Amar (Vire Essa Folha Do Livro) – João Bosco
10. Eu Sei Que Vou Te Amar - Ana Carolina
11. Chora Coração – Fagner
12. Sem Mais Adeus - Mônica Salmaso
13. Consolação / Formosa / Pra Que Chorar – Arlindo Cruz E Moyseis Marques
14. Canto De Ossanha - Seu Jorge
15. Cartão De Visita - Georgiana De Moraes
16. Sei Lá (A Vida Tem Sempre Razão) – Toquinho
17. Garota De Ipanema (Bonus Track) – Emilio Santiago
18. Pela Luz Dos Olhos Teus (Bonus Track) - Miúcha E Tom Jobim
A VIDA TEM SEMPRE RAZÃO (Vinícius de Moraes)
Por Joaquim Ferreira dos Santos
As comemorações do centenário de Vinicius de Moraes recebem o songbook definitivo da efeméride, uma coleção de algumas de suas músicas mais conhecidas através de amigos de geração e artistas jovens, que continuam renovando a obra do “poetinha”.
São 16 faixas inéditas e duas bônus track. De Chico Buarque a Seu Jorge, estão todos presentes em A Vida tem sempre razão. A produção é de José Milton. Georgiana de Moraes idealizou o projeto.
“Entre os mais antigos, procuramos artistas que tivessem participado de projetos com Vinicius”, diz Georgiana, “e entre os mais jovens, aqueles que certamente estariam na turma dele, se ele ainda estivesse por aqui”.
Um dos critérios de seleção de repertório foi contemplar todos os parceiros mais importantes de composição, como Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, Edu Lobo, Francis Hime e Toquinho. As músicas foram selecionadas em comum acordo com os intérpretes que, apesar do elenco all star, foi fácil de reunir. “Todos toparam na hora”, diz Georgiana. “E o clima no estúdio era repleto de histórias do relacionamento deles com Vinicius”. Edu Lobo, por exemplo, contou a história de como compôs “Só me fez bem” com ele, numa festa em Petrópolis. Edu, jovem, disse ter ficado tão excitado com aquilo, um texto inédito do grande mestre, que, para não perder a letra, colocou-a dentro do sapato.
Segundo Zé Milton, o conceito do disco é “a exaltação da beleza, da elegância, da harmonia perfeita. Procurei não desestruturar coisas tão delicadas, não inventar em cima do que já está muito bem acabado. Segui a máxima do Vinicius: ‘Beleza é fundamental’. Acho que deu certo”.
As Faixas
O amor em paz, com Chico Buarque – Inicialmente, a ideia era que Chico gravasse uma das músicas que compôs em parceria com Vinicius (“Desalento”, “Valsinha”, “Gente humilde”...), mas ele preferiu “O amor em paz”, inédita em seu repertório. Chico, repare só, está cantando cada vez melhor.
“Chega de saudade”, com Zeca Pagodinho – A música, que começou a bossa nova em 1958, ganha uma versão mais acelerada, revelando o samba que já havia por baixo da gravação clássica de João Gilberto. A bossa nova não tinha uma dança própria, mas aqui, com Pagodinho, o clima é de gafieira, com muitos metais ao fundo. Vinicius pagodou geral. No final, Zeca abre o jogo e encaixa uma frase nova nos versos: “E cantar samba de Vinicius sei que é muito bom pra mim”. Pra todos nós. O arranjo é de Cristóvão Bastos.
“A felicidade”, com Joyce Moreno e Roberta Sá – Joyce, quando ainda estava na dúvida se abandonava o jornalismo, deu seus primeiros passos na carreira artística sob a bênção de Vinicius. Desde então, apesar da diferença de idade, ficaram muito amigos. O compositor é presença certa nos shows internacionais de Joyce, que nesta faixa se junta a Roberta Sá, de uma nova geração de cantoras, para renovar um dos maiores clássicos da MPB. Atenção para o violão de Joyce.
“Janelas abertas”, com Nana Caymmi – Quem mais, além de Nana, para cantar versos que falam em “casa sombria” e o desejo, ao fim de um caso de amor, de morrer para tudo “serenizar”¿ Outros cantores poderiam se descabelar. Na voz de Nana, o drama fica na elegância exata.
“Canto triste”, com Edu Lobo – A densidade melódica é uma das marcas da parceria de Vinicius e Edu, que percorreu boa parte da década de 1960. “Canto triste”, que Elis Regina defendeu no I Festival Internacional da Canção, de 1966, da TV Globo, recebe releitura ainda mais comovente, com um lindo solo de Carlos Malta no sax alto.
“Onde anda você”, com Maria Creuza – O disco é um encontro de Vinicius com seus companheiros de viagem, e Maria Creuza literalmente viajou muito com ele. Na companhia ainda de Toquinho, fizeram uma espécie de trio que percorreu vários países da América Latina, resultando num disco gravado ao vivo em Buenos Aires. “Onde anda você” estava sempre no repertório.
“Você e eu”, com Carlos Lyra – O charme desta faixa é a participação de Marcos Valle ao piano. Vinicius sempre foi muito generoso ao citá-lo, mas nunca chegaram a compor ou trabalhar juntos. Este “erro” da História é consertado aqui, com o piano de Marcos realçando o balanço natural da canção, um clássico da bossa nova.
“Samba em prelúdio”, com Miúcha e Renato Braz – Ela já fez um disco inteiro apenas com canções de Vinicius, escolhendo principalmente as mais desconhecidas. Ele, um dos cantores mais interessantes das últimas gerações, é um estreante no repertório do compositor. Encontraram-se nesse dueto criado por Vinicius para que a voz feminina e a masculina celebrem a saudade amorosa.
“Medo de amar”, com João Bosco – Só, ao violão, João inventa na introdução um outro instrumento com a voz. Ele conheceu Vinicius quando estudava engenharia em Ouro Preto, numa reunião na casa do pintor Carlos Scliar. “Medo de amar” é das composições em que Vinicius, excelente melodista, se aventurou sem parceiro.
“Eu sei que vou te amar”, com Ana Carolina – Uma cortina de violinos decora a mais clássica das baladas de Tom e Vinicius, a canção preferida dos noivos brasileiros para entrar na igreja e pedir a bênção divina para a união dos corpos.
“Chora coração”, com Fagner – Muitos não sabem, mas Fagner assina a parceria, além de ser o cantor, do poderoso “Leão” (“o rei da criação”), o clássico infantil brasileiro que está entre as músicas do musical “Arca de Noé”, todo com poemas de Vinicius. Em “Chora coração”, Fagner rasga o peito sofrido nesta declaração pungente de dor amorosa.
“Sem mais adeus”, com Mônica Salmaso – Mônica estreou em 1995 com um CD de afrosambas de Baden e Vinicius e no momento percorre o país com um show também em sua homenagem. Afinadíssima, técnica, ela grava pela primeira vez “Sem mais adeus”, que consta do repertório do seu novo show.
“Consolação / Formosa / Pra que Chorar”, com Arlindo Cruz e Moiséis Marques – Os três sambas de Baden Powell e Vinicius, lançados por Ciro Monteiro nos anos 1960, abrem a roda deste disco. Arlindo, nos terreiros do pagode carioca desde os anos 70, e Moiséis, cantor nascido com a turma que renovou a Lapa a partir dos anos 90, cantam juntos pela primeira vez. O clima é de roda de samba, com os violões de Claudio Jorge e João Lyra em destaque.
“Canto de Ossanha”, com Seu Jorge – Os Afrosambas, coleção de cantos de Baden e Vinicius a partir de temas da religiosidade negra, são um dos momentos mais celebrados da música brasileira. Elis Regina, em 1966, eternizou a canção numa interpretação arrebatada, bem ao gosto daquela época de festivais. “Canto de Ossanha” agora reaparece atualizada pelo moderno Seu Jorge e sua voz de malandro cool.
Cartão de visita, com Georgiana de Moraes – Uma canção pouco conhecida da parceria de Carlinhos Lyra e Vinicius, “Cartão de visita” é das preferidas de Georgiana, filha do meio do poeta. O samba foi lançado em 1964, como parte do musical “Pobre menina rica”.
“Sei Lá / A vida tem sempre razão”, com Toquinho – A parceria com Toquinho rendeu sucessos nas trilhas da novela, como é o caso desta música (também conhecida como “Sei lá”). Ela foi feita especialmente para a trilha de “Nossa filha Gabriela”, novela de Ivani Ribeiro, na Rede Tupi de Televisão, em 1971. Em 2009, “A vida tem sempre razão” reapareceria na Rede Globo, na abertura de “Viver a vida”, de Manuel Carlos.
“Garota de Ipanema”, com Emílio Santiago – Emílio estava escalado para o disco (ia gravar “Tempo feliz”), mas faleceu no início de 2013. “Garota de Ipanema”, escolhida como bônus track, numa gravação feita em 2000, é uma homenagem ao grande cantor, que mais uma vez dá provas da sua afinação e balanço. Esta é para dançar. Emílio canta a “Garota” como se estivesse no conjunto de baile de Ed Lincoln, onde estreou, nos anos 70.
“Pela luz dos olhos teus”, com Miúcha e Tom Jobim – As notas do piano de Tom na introdução são dos momentos mais marcantes da história da MPB. Esta gravação, de 1977, com a assinatura apenas de Vinicius, é a que abria em 2002 a novela “Mulheres apaixonadas”, de Manuel Carlos.
“ARCA DE NOÉ” - alinhamento:
1. A Arca de Noé – Maria Bethânia, Seu Jorge e Péricles
2. O Leão – Caetano Veloso e Moreno Veloso
3. O Pato – Zeca Pagodinho
4. O Peru – Arnaldo Antunes
5. O Gato – Mart’nália
6. O Pintinho – Erasmo Carlos
7. A Corujinha – Chitãozinho & Xororó
8. As Borboletas – Gal Costa
9. A Formiga – Mariana de Moraes
10. A Galinha D’Angola – Ivete Sangalo e Buraka Som Sistema
11. O Pinguim – Chico Buarque
12. A Cachorrinha – Maria Luiza Jobim
13. O Elefantinho – Adriana Partimpim
14. As Abelhas – Marisa Monte
15. A Foca – Orquestra Imperial
16. São Francisco – Miúcha e Paulo Jobim
17. A Casa – Vinicius de Moraes
A ARCA DE NOÉ
Por Hugo Sukman
É uma querida parceira de Vinicius de Moraes, Maria Bethânia, que abre a nova Arca de Noé dizendo, de seu modo tão pessoal, os versos sobre o arco-íris que aparece para celebrar a algazarra dos bichos que vai se seguir. Outro velho parceiro, Chico Buarque (que recitava na "Arca de Noé" gravada em 1980 os mesmos versos agora ditos por Bethânia), também está presente numa faixa que faria muito gosto ao poeta: um "O pinguim" com jeito de samba antigo, amaxixado, como se fosse arranjado por Pixinguinha (o é por Paulão 7 Cordas) e cantado por Mario Reis (de um jeito cool e humorado do qual Chico, como cantor, é herdeiro). Vemos também outra amiga de Vinicius, Miúcha, ao lado de Paulo Jobim (filho de seu parceiro Tom), fazendo um "São Francisco" com letra e harmonia recuperadas da gravação original de Silvio Caldas, em 1954, sutilmente diferente da versão mais conhecida, cantada por Ney Matogrosso em 80.
Tudo o mais é novidade nesta “Arca de Noé 2013”, as famosas canções infantis de Vinicius e parceiros, recriadas por artistas da música brasileira de hoje, por ocasião do centenário do poeta.
_ A ideia básica era essa: atualizar essas músicas, que já estão aí há mais de 30 anos. Era nosso desejo que as pessoas de hoje interpretassem essas canções que fazem sucesso há tanto tempo - explica Susana Moraes, filha de Vinicius que concebeu o projeto da regravação ao lado de Dé Palmeira, Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto. _ E era nosso desejo, também, que as novas versões seguissem o espírito aberto, ousado e inquieto de Vinicius. O resultado está aí, versões novas, divertidas, os artistas fora da zona de conforto de cada um...
As gravações, a maioria produzida por Dé Palmeira e algumas por Adriana Calcanhotto, são novas não só pelos artistas envolvidos mas sobretudo pela forma musical. Logo na faixa de abertura, a épica "A arca de Noé", a voz potente de Seu Jorge e o jeito divertido de Péricles (ex-Exaltasamba) recriam a linda melodia de Toquinho emoldurados pelo sofisticado arranjo do americano Miguel Atwood-Ferguson, maestro ligado à cena hip-hop da Califórnia, a partir do arranjo original de Rogério Duprat, mas com caminhos e harmonias novos.
A partir de uma ideia de Dé Palmeira, Caetano e Moreno Veloso transformam "O Leão", criado por Fagner, num suingadíssimo e inesperado pagode baiano. Enquanto Arnaldo Antunes faz "O Peru" com uma levada country e andina, com instrumentos como um violão tenor venezuelano e o charango.
Mart'nália, com arranjo de sopros de Dirceu Leitte, faz de "O Gato" quase uma trilha de desenho animado. Enquanto Zeca Pagodinho acha uma divisão rítmica louca, daquelas que só ele é capaz, para transformar "O Pato", originalmente uma valsa, naturalmente em compasso 3/4, num samba em compasso 2/4.
_ Fomos para o estúdio, Paulão 7 Cordas e eu, achando que era impossível transformar a valsa em samba - diz Dé Palmeira. _ Aí chegou o Zeca e mandou muito bem. Era como se o pato estivesse no meio de uma roda de samba. O objetivo em todas as faixas era esse, buscar novas formas de se fazer aquelas canções.
Foi assim que "A Corujinha", criada magnificamente por Elis Regina há mais de 30 anos de forma densa e dramática, foi transformada numa singela moda de viola por Chitãozinho & Xororó, com arranjo simples de viola caipira e sanfona, remetendo à memória da infância de Susana, quando Vinicius começou a escrever os poemas infantis, e a corujinha representava a melancolia dos fins de tarde na fazenda.
E foi assim também que "A Galinha-d'angola" assumiu sua identidade africana, com Ivete Sangalo e o Buraka Som Sistema (grupo angolano radicado em Lisboa) fazendo com que o samba-reggae da Bahia se encontre com o kuduro angolano.
Ou que Erasmo Carlos faz "O Pintinho" totalmente rock'n roll. Na verdade, ele cria duas vozes para o diálogo entre o pintinho (punk) e o velho galo (iê-iê-iê), com direito a guitarra de Dado Villa-Lobos.
Algumas gravações dialogam mais diretamente com as originais. Mariana de Moraes, por exemplo, apresenta uma gravação da marcha rancho "A Formiga", bem na tradição da canção brasileira, referindo-se à pegada de Clara Nunes. Marisa Monte também dialoga em "As Abelhas" com o clima Novos Baianos da gravação original de Moraes Moreira. Assim como a Orquestra Imperial recupera, de forma musical totalmente distinta, o clima irreverente criado por Alceu Valença para "A Foca". As três gravações fazem essa referência e, contudo, mantêm o frescor: são, como as outras, músicas inteiramente novas.
Nova mesmo é "O Elefantinho", composição de Adriana Partimpim sobre poema inédito de Vinicius. Num clima de cartoon, arranjo jazzy, uma linha de baixo mortal (de Alberto Continentino) e com apenas um acorde, Adriana mantém o clima esperto das músicas infantis de Vinicius. Já "As Borboletas" é quase nova: feita por encomenda da própria Adriana Calcanhotto e lançada no seu disco "Adriana Partimpim 2" é uma composição de Cid Campos sobre poema até então inédito, agora recriada por Gal Costa com sua banda atual e seus experimentos eletrônicos. E tão diferente que parece até nova é "A Cachorrinha", de Tom Jobim, e recriada por sua filha Maria Luiza Jobim, numa versão livre e eletrônica, à maneira do trabalho que ela vem desenvolvendo com o duo Opala.
E com tantas e tão ricas transformações, a nova "Arca" se fecha ao som do próprio Vinicius, com Toquinho ao violão, cantando "A Casa". Como que para lembrar que mudam os tempos, mudam as sonoridades, mas a poesia de Vinicius para crianças, com sua esperteza, sua mistura de lirismo, crueldade e invenção (na tradição da melhor literatura infantil dos contos de fada) talvez seja eterna.