Comunicamos o lançamento pelo CIEBA, Secção de Ciberarte, do livro de ensaios Art and Remediation, coordenado por José Quaresma. Objeto bilingue (portugês e inglês), e-book, com a participação dos seguintes autores: Ana Rito, Célia Pereira, Lurdi Blauth, Pascal Krajewski, Rute Selésio de Morais, e Telma João Santos.

O livro tem a particularidade de ser exclusivamente e-book, com as respetiva arquitetura fluida e adaptável a diversos dispositivos de leitura, estando disponível a partir de hoje na Amazon.uk para leitura em formato kindle.

Introdução do livro

“[...] We are in an unusual position to appreciate remediation, because of the rapid development of new digital media and the nearly as rapid response by traditional media. Older electronic and print media are seeking to reaffirm their status within our culture as digital media challenge that status. Both new and old media are invoking the twin logics of immediacy and hypermediacy in their efforts to remake themselves and each other.”

Jay David Bolter; Richard Grusin, Remediation: Understanding New Media

“Et ouvrant la fenêtre de la cellule, il désigna du doigt l’immense église de Notre-Dame, qui, découpant sur un ciel étoilé la silhouette noire de ses deux tours, de ses côtes de pierre et de sa croupe monstrueuse, semblait un énorme sphinx à deux têtes assis au milieu de la ville.
L’archidiacre considéra quelque temps en silence le gigantesque édifice, puis étendant avec un soupir sa main droite vers le livre imprimé qui était ouvert sur sa table et sa main gauche vers Notre-Dame, et promenant un triste regard du livre à l’église:

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Victor Hugo, Notre-Dame de Paris

“As with all documentary heritage, selection principles may vary between countries, although the main criteria for deciding what digital materials to keep would be their significance and lasting cultural, scientific, evidential or other value. “Born digital” materials should clearly be given priority. Selection decisions and any subsequent reviews need to be carried out in an accountable manner, and be based on defined principles, policies, procedures and standards.”

UNESCO, Charter on the Preservation of Digital Heritage, Chapter 7, 15 October, 2003 

Este livro é muito devedor de teses conhecidas sobre o conceito de Remediation, nomeadamente da reflexão de autores como Jay David Bolter e Richard Grusin. Não existindo categorias que funcionem como “panaceia” para a inteligibilidade dos objetos da arte e tecnologia, a Remediation, no seu sentido mais lato, permite-nos criar com diversos “materiais” em diferentes dimensões da temporalidade, por exemplo, na direção do que é pretérito (por vezes valorizando o anacronismo) para “enxertar” essas produções numa realidade mediológica outra, tecnológica e temporalmente distinta, sem que esses “materiais” se descaracterizem totalmente.

Não se descaracterizam, pois, é-lhes asseguranda uma sobrevivência funcional, com propriedades anteriores reposicionadas, propriedades emergentes em demanda de um lugar na identificação do novo objeto de arte, verificando-se que algo se perdeu para sempre, ao mesmo tempo que algo brotou deste entrosamento de diferentes media, ou então, da articulação de momentos diferentes da “história” de um mesmo medium. Como afirmam Joe Bolter e Richard Grusin na página anterior: “Both new and old media are invoking the twin logics of immediacy and hypermediacy in their efforts to remake themselves and each other.”

Inserido na nossa linha temática O Mundo das Imagens / A Demanda Ontológica dos seus Estatutos, pesquisa alargada que implica um forte investimento na transversalidade entre Tecnologia, Arte, Design, História de Arte e Estética, os autores deste livro foram convidados a produzir textos que apresentassem elos inequívocos com a Remediation, explorando a relação entre diversas expressões artísticas e a tecnologia. Entre estes textos também nos deparamos com uma abordagem museológica contemporânea, relacionando-a com o conceito de Remediation, noção fundamental para a criação e preservação tecnológica da arte e do design, mas também do património artístico e cultural no seu todo, como podemos observar na citação da UNESCO na página anterior.

Mantendo a centralidade da noção de Remediation para a criação e a preservação digital de obras de arte, livros, e outras concreções culturais, o espaço de reflexão e de discussão abriu-se também à intermedialidade, ao hibridismo tecnológico, à obsolescência, à alienação imersiva e virtual, e a outros conceitos correlacionados.
Terminamos com a apresentação do objetivo principal deste livro: pensar de maneira alargada, isto é, com diversos autores, a noção de Remediation no seio das artes, do design, da tecnologia, dos media studies, e da arqueologia, seja como ato de criação, seja como ato de preservação de obras criadas no passado (remoto ou recente), e as respetivas ligações com a realidade atual e futura.

José Quaresma
Lisboa, 5 de dezembro, 2013.