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ATÉ VER A LUZ - ESTREIA A 22 DE AGOSTO
Um filme de Basil da Cunha com estreia marcada para 22 de agosto! "É um filme de género num universo realista. O filme oscila entre o policial e o documentário. O espectador vai partilhar o quotidiano cheio de sarilhos de um dealer que acaba de sair da prisão, mas também o universo e a cultura de um bairro muito particular de Lisboa."
um filme de Basil da Cunha
Suiça 2013
95 mn, 1.85, 5.1 SR
Sinopse
Acabado de sair da prisão, Sombra volta à sua vida de dealer no bairro da Reboleira.
Entre o dinheiro emprestado que não consegue recuperar e aquele que deve, uma iguana pouco comum, uma pequena vizinha sempre por perto e um chefe de gang que duvida da sua boa fé, Sombra começa a pensar que, de facto, mais valia ter ficado dentro...
ENTREVISTA COM BASIL DA CUNHA
Fale-nos do seu método e da sua forma de considerar uma filmagem.
Cada um dos meus filmes é fruto de um trabalho de artesão. Sempre foram fabricados em família, com e sobre as pessoas que me rodeiam, seja na Suiça ou em Portugal. Os atores, a maioria amigos ou vizinhos, acompanham-me há alguns anos. Escrevi e filmei «Até Ver a Luz» em estreita colaboração com as pessoas que vivem no bairro da Reboleira. O filme está construído à volta de e com as pessoas e pretende ser uma espécie de reinterpretação da sua vida.
As pessoas transformam-se em personagens, a ficção permite sublimar o real, por mais duro ou absurdo que seja.
De que se alimenta o seu desejo de fazer cinema?
Uma coisa é certa, na origem da maioria dos meus filmes há uma vontade de devolver a sua dignidade àqueles a quem ela é frequentemente negada. É o que está na origem: devolver a sua beleza àqueles que amo. Os meus filmes nunca partem de uma ideia ou conceito. Não decido escrever a partir de um tema definido. O ponto de partida é o desejo de filmar aquela pessoa, de encenar uma situação, ou aproveitar aquele músico fantástico cuja música pode enriquecer todo o filme...
Depois há, claro, todas as histórias que ouves e alimentam a tua imaginação. Pouco a pouco, desenha-se uma história que está ao serviço de todos esses elementos no centro do filme, nos quais acreditas.
«Até Ver a Luz» cria um universo visual original, que nos propõe uma mistura de géneros cinematográficos. Poderia falar-nos disso?
É um filme de género num universo realista. O filme oscila entre o policial e o documentário. O espectador vai partilhar o quotidiano cheio de sarilhos de um dealer que acaba de sair da prisão, mas também o universo e a cultura de um bairro muito particular de Lisboa. O universo narrativo do policial é utilizado para permitir a compreensão da evolução da personagem. Mas o género esbate-se por momentos para ceder o lugar a personagens surpreendentes: uma iguana, uma menina que parece estar sempre por perto, uma tia protetora, um amigo aluado mas um pouco profeta, um bruxo...
O meu desejo é ultrapassar um certo cinema social unidimensional e condescendente. Quero misturar a realidade com a qual trabalho com uma linguagem cinematográfica que dê espaço a universos poéticos e relações de carinho autenticas entre as personagens.
O tom do policial hiper-realista conjuga-se com momentos de branda loucura, com a absurdidade poética do quotidiano. Cria-se então um desfasamento poético.
Como trabalha com os atores?
Não me interessa recriar a realidade e não espero que os meus atores imitem a realidade. Tenho esperança que aconteçam coisas frente à câmara. A vida. Senão é uma seca. A rodagem é para mim uma altura de liberdade. É o momento da procura e do perigo porque, mesmo que tenhamos esperança de chegar a algum lado, nunca sabemos bem como. E é isso que filmamos: o caminho. No fundo, a essência do meu trabalho é criar um espaço no qual se possa viver.
Os atores nunca ensaiam e não leem o guião. Só conhecem as intenções da cena, algumas deixas essenciais e o resto é como o jazz, uma espécie de improvisação orquestrada.
Criam um género de reinterpretação da sua própria vida. Aí, o meu trabalho é surpreende-los a cada take, reinventar os instrumentos com os quais vão jogar para viver algo genuíno.
A regra nas minhas rodagens é que a relação de forças entre o cinema e a vida do bairro dê a vantagem à segunda, porque mesmo que a moldemos e a encenemos, vamos deixar-la existir. Por isso é que trabalhamos com uma pequena equipa de quatro pessoas: o diretor de fotografia, o diretor de som, um amigo que faz um pouco de tudo e eu. O resto é feito pelos moradores do bairro que ajudam aqui e ali, quando podem, e que cumulam assim várias profissões do cinema. É importante que aconteçam mais coisas frente à câmara do que atrás.
Mas tinha um guião escrito?
Para «Até Ver a Luz», como para «Os Vivos Também Choram», ou até «À Coté», (e ao contrário de «Nuvem») havia um guião com diálogos que serviu sobretudo para esclarecer e resolver questões de narrativa. É muito útil já ter pensado nas elipses, nos fora de campo, antes de filmar. Mas não usamos esse guião com os atores antes da rodagem, e muito menos durante.
Só tinha guardado uma folha com uma frase para cada cena.
No final de contas, o filme é parecido com o que tinha em mente quando escreveu o guião?
Felizmente isso nunca me aconteceu. Claro que a essência é a mesma. Mas aquilo que me dão é sempre melhor que aquilo que poderia ter escrito.
BASIL DA CUNHA
biografia
Suiço de origem portuguesa, nascido em 1985, Basil da Cunha integra o curso de cinema da Haute Ecole d’Art et de Design de Genève em 2007. Em 2011 e 2012, as suas curtas-metragens «Nuvem» e «Os Vivos Também Choram» são selecionados para a Quinzena dos Realizadores de Cannes, onde «Os Vivos...» ganha a Menção Especial do Prémio Illy para Melhor Curta-Metragem. «Até Ver a Luz» é a sua primeira longa-metragem.