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FESTIVAL ASSOCIA GRANDES NOMES DA MÚSICA À DEFESA DA BIODIVERSIDADE ALENTEJANA

O programa de biodiversidade do Festival Terras Sem Sombra foi considerado um “exemplo perfeito” na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que teve lugar no Rio de Janeiro, em 2012 – o maior evento já realizado pela ONU neste setor.


O programa de biodiversidade do Festival Terras Sem Sombra foi considerado um “exemplo perfeito” na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que teve lugar no Rio de Janeiro, em 2012 – o maior evento já realizado pela ONU neste setor. Graças à intervenção de um perito muito ouvido, o espanhol Amalio de Marichalar, serviu para suportar a 4.ª recomendação do respetivo plano: promover a cultura como pilar central da sustentabilidade.

No Alentejo estão a ser dados passos inéditos no sentido de unir música, património e biodiversidade, com o projeto Terras sem Sombra. Através da parceria que associa o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja – a entidade promotora – e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), aos municípios, universidades e “forças vivas” presentes no terreno, desde 2011 que a região é alvo de ações-piloto para a salvaguarda da biodiversidade, envolvendo músicos, espectadores e outros voluntários, com uma ligação forte aos agrupamentos escolares e às famílias. Da sua magna carta fazem parte os princípios da inclusão e da sustentabilidade. Concertos e demais atividades são de acesso livre, dentro dos condicionalismos impostos pela defesa dos monumentos e sítios visitados.

É certo que o Alentejo se apresenta como um dos territórios com melhores índices de preservação do Sul da Europa, mas não deixa de ser verdade que se trata, igualmente, de um espaço onde a desertificação do interior e o declínio do mundo rural levantam sérios desafios. Perante um património natural tão rico – basta lembrar que a costa alentejana é uma das zonas europeias com maior biodiversidade florística –, este Festival aposta na projeção dos tesouros ainda pouco conhecidos da região e na intervenção das comunidades locais, tirando partido da vinda, até nós, de um conjunto de intérpretes, jornalistas e “opinion makers” internacionais, que são convidados a associarem-se aos residentes para iniciativas muito concretas de voluntariado.

“O Terras sem Sombra pretende salvaguardar, através de concertos de música sacra nas principais igrejas da região, o património religioso – isso, por si só, já seria de louvar; mas vai mais longe; no dia seguinte aos concertos é desenvolvida uma ação de sensibilização ambiental”, explica Armando Sevinate Pinto, que preside, desde 2010, ao Conselho de Curadores do Festival. O ex-ministro da Agricultura e atual consultor da Presidência da República para os Assuntos Agrícolas e o Mundo Rural conclui, afirmando que “estas iniciativas permitem que voluntários de origens ou perfis muito diversos colaborem, ombro com ombro, em atividades úteis à preservação da biodiversidade”.

Algumas iniciativas são muito práticas e visam colmatar lacunas, como identificar espécies protegidas nos cursos de água, marcar árvores jovens no montado, remover infestantes nas dunas costeiras, instalar ninhos para aves ou morcegos, limpar fontes indispensáveis à vida selvagem ou reconstruir infraestruturas de apoio à visitação, destruídas pelo vandalismo. Outras têm um caráter simbólico, mas nem por isso menos impactante, como trabalhar num apiário tradicional, cantar às plantas, fomentar a criação de um banco para a troca de sementes, anilhar aves ou batizar sobreiros e azinheiras com o nome dos artistas que participam no Festival – e se tornam seus padrinhos, assumindo o compromisso de serem embaixadoras da iniciativa.

José António Falcão, responsável geral pelo Festival, salienta que “as ações têm impacto ao nível da consciencialização das comunidades em torno da promoção dos recursos endógenos do Alentejo, com realce para a biodiversidade, valorizando um sentimento de pertença em torno da herança natural”. E o diretor do Património da Diocese de Beja acrescenta: “a participação de artistas internacionais justifica-se pelo seu perfil altamente sensível às questões ambientais e aos bens imateriais e, também, pela possibilidade de alcance além-fronteiras.” Isto traduz-se, igualmente, em resultados palpáveis ao nível do tecido social e económico da região, permitindo dar a conhecer locais, atividades e produtos que de outro modo permaneceriam pouco acessíveis.

Até agora já intervieram no projeto nomes do panorama mundial, como os maestros Marcello Panni, Donato Renzetti e Giovanni Andreoli, as sopranos María Bayo e Marifé Nogales, o ensemble laReverdie, o barítono Marc Mauillon ou o flautista Pierre Hamon. No âmbito nacional, foram convidados o ator Luís Miguel Cintra, os maestros António Lourenço César Viana, a soprano Raquel Alão e a ministra da Agricultura, Assunção Cristas. Espera-se este ano a colaboração de muitos outros convidados, como a soprano Carmen Romeu, o Cuarteto Casals e a Camerata Boccherini. Um entusiasta das ações pró-biodiversidade é o responsável artístico do Festival, Paolo Pinamonti, professor na Universidade de Veneza. Figura bem conhecida do meio português – foi brilhante diretor do Teatro Nacional de São Carlos, que nunca recuperou após o seu afastamento –, dirige o Teatro de la Zarzuela, em Madrid.

Tendo um vasto território abrangido pela Rede Natura 2000, boa parte dele classificado como área protegida, o Alentejo está a dar passos importantes na sustentabilidade dos recursos biodiversos. Pedro Rocha, diretor regional do ICNF, considera que o projeto desenvolvido com o Terras sem Sombra constitui uma oportunidade única. “Se, por um lado, a intervenção humana é necessária para a manutenção do estado de conservação de determinados habitats, por outro lado esta atividade pode levar à sua destruição. Coloca-se, assim, a necessidade de garantir, num contexto territorial de áreas predominantemente privadas, boas práticas de caráter agrícola, silvícola e pecuário.” Para isso, torna-se fundamental “que os instrumentos de apoio ao mundo rural (como o PRODER 2014-2020) incorporem as necessidades de conservar espécies e habitats da Rede Natura 2000 e sistemas florestais de alto valor de conservação.”

Com um programa muito completo, que se prolonga até 14 de julho, as ações previstas pelo Festival Terras sem Sombra incidem em aspetos tão variados como a defesa dos ecossistemas ribeirinhos da Ribeira do Vascão, a monitorização das aves que visitam a Lagoa de Santo André, em trânsito de África em direção ao Norte da Europa (e vice-versa), a gestão do montado de sobro, em Grândola, a sensibilização para a riqueza ecológica dos sistemas agrícolas e florestais na Vidigueira, a transumância de rebanhos, característica do Campo Branco, e, ainda, a compatibilização da indústria com a salvaguarda dos recursos naturais no litoral de Sines. Atividades que movimentam largas centenas de voluntários e encerram toda uma mensagem dirigida aos decisores e à opinião pública.

 

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