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EDUARDO NERY: UMA VIDA EM OBRAS

Eduardo Nery (1938-2013) percorreu uma grande diversidade de técnicas, da pintura ao azulejo, passando pela tapeçaria, vitral e fotografia. A face mais visível da sua obra é a arte pública. Artista plástico multifacetado, Nery morreu este sábado em Lisboa, aos 74 anos.



Eduardo Nery no seu atelier em Campo de Ourique, Lisboa
Foto de Daniel Rocha

Eduardo Nery (1938-2013) percorreu uma grande diversidade de técnicas, da pintura ao azulejo, passando pela tapeçaria, vitral e fotografia. A face mais visível da sua obra é a arte pública.

Artista plástico multifacetado, Nery morreu este sábado em Lisboa, aos 74 anos. Nascido em 1938, na Figueira da Foz, formou-se em Pintura, na Escola de Belas Artes de Lisboa, tendo efetuado uma breve passagem pelo Curso de Arquitetura, na mesma escola. Realizou a sua primeira exposição individual em 1964, na Sociedade Nacional de Bela Artes.

A sua estadia em França no início dos anos 60, nomeadamente o estágio junto de Jean Lurçat, grande responsável pela renovação da tapeçaria contemporânea, parece ter sido determinante na sua carreira artística.

A propósito das obras Estrutura ambígua IV e Estrutura n.º 10, da coleção do Centro de Arte Moderna, a crítica de arte Leonor Nazaré escreveu sobre o artista: "O trabalho de Eduardo Nery centra-se desde o início na pesquisa da luz e da cor, no ilusionismo ótico e no uso sistemático de dégradés, processos identificáveis aos da Op (optical) Art e da arte Cinética."  A sua estadia em França no início dos anos 60, nomeadamente o estágio junto de Jean Lurçat, grande responsável pela renovação da tapeçaria contemporânea, parece ter sido determinante na sua carreira artística. "As experiências em tapeçaria e os primeiros desenhos a preto e branco relacionados com um imaginário encontrado no mundo das publicações científicas tê-lo-ão conduzido a estas opções formais, anteriores no tempo, ao surgimento da OP art internacional, segundo o próprio afirmava", continua o texto do CAM.

Nery combinou os conhecimentos daquela arte têxtil com a Op Art, revelando um trabalho inovador, que continuaria a explorar não só na tapeçaria, como também no azulejo, vitral, mosaico e no desenho de grandes pavimentos, como se vê na sua intervenção da calçada portuguesa da Praça do Município em Lisboa.

A obra de Nery parece evocar a ideia expressa por Vasarely no Manifesto Amarelo, publicado em 1955, quando este defende que a democratização da arte passa pela presença das suas formas no espaço da cidade. Do Centro de Saúde de Angra do Heroísmo, nos Açores, à abstração dos painéis que ladeiam a Avenida Calouste Gulbenkian, passando pelo trabalho desenvolvido para a estação de metropolitano do Campo Grande ou o viaduto da Infante Santo, em Lisboa, a sua obra é uma presença habitual no quotidiano de muitos portugueses.

Uma das primeiras experiências de integração da sua obra na arquitetura e no espaço urbano concretizou-se, entre 1966-1967, com a criação do painel em cerâmica e azulejo para a fachada da fábrica da Sociedade Central de Cervejas, em Vialonga. Numa conferência apresentada por ocasião da cerimónia de entrega do arquivo pessoal de Eduardo Nery à Direção-Geral do Património Cultura, a investigadora Ana Filipa Candeias comentou que esta composição veio sublinhar todas as potencialidades do azulejo, conferindo vida e movimento a uma parede que de outra forma seria estática e desprovida de qualquer função.

As obras datadas da primeira metade dos anos 1970 são apelidadas "pintura metafísica" pelos críticos de arte. Neste período foi professor da disciplina de Desenho, Cor e Texturas no IADE, durante dois anos, e em 1973 foi um dos fundadores do Ar.Co. Entre 1970 e 1973, expôs na Galeria Buchholz, na Galeria Zen, na Galeria 111, e ainda com Noronha da Costa no Centro Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.

No final da década de 70, dá início a uma fase de paisagismo abstrato, em tinta spray, e expõe fotografia na Galeria Quadrum (1979). Em 2002, regressa à fotografia a preto e branco, sob a temática de arte africana (Centro Cultural de Cascais e SNBA).

A partir dos anos 80, o artista dedica-se sobretudo à intervenção na arquitetura e espaço público, colocada em relevo na sua retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1997, em simultâneo com outra na Culturgest, de pintura, desenho, colagem e fotografia. Desta década data um painel para o Museu da Água (Lisboa), que recebeu o Prémio Municipal de Azulejaria. Em 2003, o Museu Nacional do Azulejo, em parceria com o Museu da Água, dedica-lhe uma retrospetiva nos domínios do azulejo, do mosaico, do vitral e da tapeçaria, para ser mostrada no ano seguinte no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

Eduardo Nery recebeu, em 2012, a comenda de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelas mãos do Presidente da República.


Por Ana de Freitas, in Público | 5 de março de 2013

 

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