Vai ser formalizada, no dia 22 de setembro, a Doação do Espólio de  Constança Capdeville (1937-1992) à Biblioteca Nacional de Portugal, durante uma sessão em sua homenagem que se realiza nesta Instituição, em que será lançado um número temático da revista Glosas, sobre a compositora, com a presença de Olga Prats e Sérgio Azevedo.

Compositora singular que se destacou por aliar a música à componente cénica no contexto do teatro musical, Constança Capdeville foi precursora nesse domínio em Portugal, a que se dedicou mais especialmente a partir da década de 1980, designadamente com o grupo ColecViva, que fundou e dirigiu, utilizando também elementos cénicos em algumas das suas peças de câmara, e  compondo música para cinema.

Constança Capdeville nasceu em Barcelona onde iniciou os estudos musicais que haveria de continuar em Portugal, a partir de 1951, quando a sua família aqui se estabeleceu devido ao difícil contexto da Guerra Civil de Espanha. No Conservatório Nacional de Música de Lisboa, prosseguiu os estudos superiores em piano, com Varela Cid, e em composição, com Jorge Croner de Vasconcellos. Frequentou mais tarde os Cursos especiais de Musicologia, Interpretação de Música Antiga e Técnica de Acompanhamento, sob a orientação de Macário Santiago Kastner.

Em 1962, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, trabalhou com o compositor Philip Jarnach e recebeu, nesse ano, o Prémio de Composição do Conservatório Nacional de Lisboa, atribuído à obra Variações sobre o nome de Stravinsky, para órgão. Acompanhou o percurso da Orquestra Universitária de Lisboa, onde participou inúmeras vezes como compositora e intérprete. Foi membro dos Menestréis de Lisboa, do grupo de câmara Convivium Musicum e do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa. Em 1969, realizou a sua primeira participação no Festival de Música Gulbenkian.

Através da Gulbenkian, participou em trabalhos musicológicos na Biblioteca da Ajuda e na Biblioteca Nacional, tendo ainda colaborado com Mário de Sampaio Ribeiro num estudo sobre o tratado Lux Bella, de Domingos Marques Durán. Foi, ainda, professora em diversas escolas de música de Lisboa e, a partir de 1980, lecionou História e Problemática da Interpretação, e Análise da Música do Séc. XX, no Curso de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa.

Foi membro da Direção do Conselho Português da Música e da Associaciò Catalana de Compositors de Barcelona. Em 1990, recebeu a Medalha de Mérito Cultural e, em 1992, o Grau de Comendador da Ordem de Santiago de Espada, a título póstumo.

O Espólio de Constança Capdeville passará a integrar a coleção de Música da BNP, onde se encontram já os espólios de outros compositores portugueses do século XX como Augusto Machado, Vianna da Motta, Armando José Fernandes, Luís de Freitas Branco, Jorge Croner de Vasconcellos, Ruy Coelho, Raul de Campos e Joly Braga Santos. 

A BNP (www.bnportugal.pt) é detentora de uma das maiores e mais importantes coleções de música existentes em Portugal. Especialmente relevante para a investigação histórica e musicológica da produção musical portuguesa, desde o século XIII ao século XX, constitui também uma fonte primordial para a atividade atual de compositores e intérpretes.  

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