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FESTIVAL TERRAS SEM SOMBRA EM VILA DE FRADES

O Festival Terras sem Sombra escolheu, como fio condutor da edição de 2012, a projeção da voz na música sacra. Um momento culminante deste percurso tem lugar em Vila de Frades, a 19 de maio, pelas 21h30: as “Vésperas” Op. 37, de Rachmaninov, pelo Coro Filarmónico de Câmara da Estónia, sob a direção do maestro britânico Daniel Reuss.


Vésperas
, de Rachmaninov, pelo Coro Filarmónico de Câmara da Estónia:
uma janela sobre a alma eslava

O Festival Terras sem Sombra escolheu, como fio condutor da edição de 2012, a projeção da voz na música sacra. Um momento culminante deste percurso tem lugar em Vila de Frades, a 19 de maio, pelas 21h30: as “Vésperas” Op. 37, de Rachmaninov, pelo Coro Filarmónico de Câmara da Estónia, sob a direção do maestro britânico Daniel Reuss. A igreja matriz de S. Cucufate, no coração desta histórica vila do concelho de Vidigueira, caracteriza-se, além do valor patrimonial, pela acústica perfeita, muito adequada a repertórios cheios de contrastes e de coloridos, como acontece com esta obra de Sergei Rachmaninov, a mais surpreendente e a mais insólita das muitas que compôs – e também a mais autenticamente russa.

“A música deve exprimir o país natal do seu compositor, os seus amores, a sua religião, os livros que o influenciaram e os quadros que ele amou”, escreveu Rachmaninov. A sua ligação à Rússia manifesta-se de modo exemplar nestas Vésperas (cujo título se traduziria melhor por Vigília Noturna). Escritas em 1915, em plena I Guerra Mundial, foram estreadas num concerto de apoio ao esforço militar russo. Profundamente emotivas e espirituais, revelam verdadeira mestria no domínio da escrita vocal litúrgica, o que levou a considerá-las a obra-prima do grande artista. São também uma “ponte” entre a tradição ortodoxa e a espiritualidade moderna, profundamente marcada pela angústia existencial.

Esta experiência incide, na primeira parte, num impressionante apelo ao arrependimento e à oração, explorando a metáfora da luz do dia que se extingue – como no ofício das Trevas – e da luz metafísica, eterna, que irradia de Cristo, epicentro da peça. Quanto às Matinas, oferecem uma jubilosa celebração da Ressurreição. Isto permite um fecundo cruzamento musical do Oriente com o Ocidente da Europa, que corresponde precisamente a um alvo que o Festival Terras sem Sombra persegue com especial acuidade neste ano, a visão ecuménica do fenómeno religioso enquanto manifestação estética e ética.

Fundado em 1981 por Tõnu Kaljuste, que foi seu diretor artístico e maestro principal durante 20 anos, o Coro Filarmónico de Câmara da Estónia (EPCC) é considerado o melhor agrupamento da atualidade na interpretação de um riquíssimo repertório eslavo que se estende do canto gregoriano ao Barroco Tardio e à música do século XX. Coloca uma ênfase muito especial nas obras dos compositores estónios (Pärt, Tormis, Tüür, Grigoryeva, Tulev, Kõrvits), divulgando-os internacionalmente. É a primeira vez que apresenta entre nós a versão integral das Vésperas.

Daniel Reuss (n. 1961) estudou direção coral no Conservatório de Roterdão, sob a orientação de Barend Schuurman. Em 1990 foi nomeado maestro titular da Cappella Amsterdam, que transformou num agrupamento profissional. Maestro titular do RIAS Kammerchor, de Berlin, de 2003 e 2006, viu a sua ação distinguida com vários prémios. O CD com obras de Martin e Messiaen recebeu, em 2004, o Diapason d'or de l'année e o Preis der Deutschen Schallplattenkritik.

Como maestro convidado, trabalhou com famosos ensembles, como Concertgebouw Chamber Orchestra, Akademie für Alte Musik (Berlim), Concerto Köln, Schönberg Ensemble, Netherlands Radio Choir, Collegium Vocale Gent, Balthasar Neumann-Chor, SWR Vokalensemble, Stavanger Symphony Orchestra, Nieuw Ensemble, Prometheus Ensemble, Viotta Ensemble etc. Em 2007 realizou um notável début na English National Opera com Agrippina, de Handel.

Durante as últimas temporadas, Daniel Reuss e o EPCC obtiverem grande sucesso em importantes centros culturais e festivais europeus, entre os Wiener Konzerthaus, Berliner Philharmonie, Paisley Choral Festival (Escócia), Schwetzingen Festival, L’été musical in France. Têm estreado igualmente obras de compositores da Estónia (Grigoryeva, Krigul, Kõrvits). A oratória Golgotha, de Frank Martin Together, gravada em colaboração com Cappella Amsterdam e a Orquestra Sinfónica Nacional da Estónia (Harmonia Mundi, 2010), foi nomeada para o Grammy.


Biodiversidade, vinhas e monumentos

Fiel ao compromisso com a salvaguarda da biodiversidade, o Festival promove, no dia 20, com início às 10h30, um percurso de interpretação da natureza, de Vila de Frades ao sítio arqueológico de São Cucufate (villa romana que hospedou, na Idade Média, um mosteiro). Trata-se de uma iniciativa organizada em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade que lança um olhar renovado sobre as terras que foram de D. Vasco da Gama, 1.º conde de Vidigueira, zona de excecional riqueza agrícola cuja fama o escritor Fialho de Almeida (nascido em Vila de Frades em 1857) imortalizou como o “País das Uvas”.

A importância histórica da região deve-se, em larga medida, às videiras e às variedades tradicionais de uva, muitas das quais antiquíssimas. O percurso visa também compreender esta atividade e como a mesma tem evoluído (e resistido) ao longo dos séculos. Para além da observação da fauna e da flora, realizar-se-á ainda uma sessão de fotografia da natureza. Associam-se à atividade a Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, a Câmara Municipal de Vidigueira, o Agrupamento de Escolas e a Junta de Freguesia de Vila de Frades.



Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

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