A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão quer “incentivar a criação de trabalhos na área do ensaio literário, mobilizando os meios académicos e literários do País”. A intenção da autarquia foi anunciada pelo seu presidente, Armindo Costa, durante a entrega do Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho ao escritor João Barrento, pela sua obra "O Mundo está cheio de Deuses - Crise e Crítica do Contemporâneo”, que se realizou na passada sexta-feira. A sala Eduardo Prado Coelho na Biblioteca Municipal de Famalicão foi pequena para acolher as dezenas de pessoas que estiveram presentes na cerimónia. Para além das presenças do Presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), José Manuel Mendes, e do Porta-voz do Júri do concurso José Carlos Seabra Pereira, a sessão contou com familiares do ensaísta falecido em 2007, alunos, professores e figuras das letras e cultura.

Segundo Armindo Costa “a entrega deste prémio é um momento em que evocamos a memória de Eduardo Prado Coelho, que continua entre nós, através dos seus livros e através da lição de vida que nos deixou”. Eduardo Prado Coelho foi, de resto, tema das várias intervenções. Segundo o edil “a ligação de Prado Coelho a Vila Nova de Famalicão materializou-se na doação de mais de doze mil publicações do seu espólio pessoal, que estão aqui disponíveis para consulta pública, ao serviço da formação e desenvolvimento das pessoas.” E salientou: “Com esta biblioteca e com a instituição deste prémio, criado em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores, estamos a contribuir para eternizar o nome de Eduardo Prado Coelho, recordando a sua importância no debate de ideias o seu contributo na promoção da cultura e o seu exemplo de cidadania”.

“Prado Coelho era um amante do conhecimento, do saber e da cultura. E o Município de Famalicão, desde a primeira hora, assumiu o compromisso de fazer do seu acervo bibliotecário uma alavanca de ação cultural, abrindo-a aos estudantes e aos investigadores”, destacou ainda o edil.

José Manuel Mendes começou por elogiar a escolha do espaço para a entrega do prémio. “É particularmente feliz a realização desta cerimónia no espaço que hoje ocupamos, porque esta sala tem o nome de Eduardo Prado Coelho, porque aqui estão os livros que lhe pertenceram  e que hoje são de uma comunidade”.

Desafiando os jovens a descobrir Eduardo Prado Coelho, o presidente da APE salientou que o ensaísta foi “uma das figuras mais fascinantes do Portugal dos séculos XX e XXI”. João Manuel Mendes aproveitou ainda a oportunidade para elogiar a atividade cultural do município famalicense, referindo “a existência deste prémio, como a existência do Grande Prémio de Conto sob a égide de Camilo Castelo Branco, como aliás a existência da vasta atividade cultural que esta autarquia promove e é exemplo à escala do país”.

Também o galardoado João Barrento falou de Eduardo Prado Coelho como “uma das figuras mais revigorantes, de horizontes mais abertos e pontos de vista mais generosos”. O escritor comparou o seu percurso com o de Eduardo Prado Coelho e disse mesmo que o título do livro "O Mundo está cheio de Deuses”, “podia ser um título de Prado Coelho”.

JOÃO BARRENTO, UM ESCRITOR PREMIADO

Armindo Costa entregou Grande Prémio de Ensaio ao escritor João Barrento

A obra "O Mundo está cheio de Deuses - Crise e Crítica do Contemporâneo", editada pela Assírio & Alvim, foi escolhida por unanimidade pelo júri da APE. Para Armindo Costa, “João Barrento é um dos intelectuais portugueses mais profícuos do nosso tempo.” Crítico, ensaísta e tradutor literário de língua alemã, João Barrento é um autor consagrado, como demonstram os vários prémios literários já conquistados. Neste sentido, o edil afirmou que “João Barrento não é um estreante no que toca ao reconhecimento público sobre a qualidade das suas publicações”. No entanto, segundo Armindo Costa, “faltava-lhe o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, um galardão evocativo de um grande vulto da cultura contemporânea portuguesa, que, apesar da sua tenra idade, é já uma referência em Portugal.”

José Manuel Mendes falou do galardoado como “um amigo a quem devo ensaios de uma claridade surpreendente”. Da parte do júri, os elogios foram imensos ao autor e à sua obra.

Nesta terceira edição do galardão, relativa aos livros publicados em 2011, o júri foi constituído por José Carlos Seabra Pereira, Luísa Mellid-Franco e Margarida Braga Neves. Este prémio, no valor de 7.500 euros, com o patrocínio integral da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, já distinguiu autores como Vítor Aguiar e Silva e Manuel Gusmão.

Crítico, ensaísta e tradutor literário de língua alemã, João Barrento nasceu em 1940, em Alter do Chão. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com uma tese sobre a obra do dramaturgo inglês Harold Pinter.

Foi galardoado, entre outros, com o Grande Prémio de Tradução do Pen-Clube e da Associação Portuguesa de Tradutores, o Prémio de Ensaio "Jacinto do Prado Coelho", da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários, a Bundesverdienstkreuz (Cruz de Mérito Alemã) e a Medalha Goethe da República Federal da Alemanha.

Depois da entrega do prémio, realizou-se um colóquio subordinado ao tema “Os Universos de Eduardo Prado Coelho”, moderado pelo professor Sérgio Sousa. 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.