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"A MORTE DE CARLOS GARDEL"
"A Morte de Carlos Gardel" tem estreia marcada em 9 salas de cinema a partir de dia 22 de Setembro.
"A Morte de Carlos Gardel" tem estreia marcada em 9 salas de cinema a partir de amanhã. Depois da estreia no Douro Film Harvest e da exibição integrada no ciclo de homenagem a António Lobo Antunes no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, com a presença do escritor, a primeira adaptação de uma obra de Lobo Antunes ao cinema, chega às salas da capital e também de Oeiras, Almada, Coimbra, Aveiro, Viseu e Porto.
"A Morte de Carlos Gardel" é a história de Nuno, um jovem toxicodependente em coma, a morrer num hospital. Durante os dois dias em que se encontra entre a vida e a morte, cada um dos familiares evoca junto a ele uma teia de recordações do passado, através das quais percebemos o presente de Nuno. Álvaro e Cláudia, os pais divorciados e as suas novas relações disfuncionais, Graça, a tia médica que nunca terá filhos porque vive com Cristiana, todos eles se sentem culpados pelo estado de Nuno, pelos desalentos da vida, mas também pelos sonhos que criaram. O pai, Álvaro, apaixonado por tango, recusa-se a aceitar a morte de Nuno, deixando-se levar numa espiral de delírio e confundindo um imitador com o seu cantor de tango argentino favorito, já desaparecido: Carlos Gardel.
Com este novo trabalho, Solveig Nordlund cumpriu mais uma prodigiosa aventura pela adaptação cinematográfica de uma obra literária. "Gosto de ler e gosto de me identificar com um escritor. Nunca tive ambições literárias, mas gosto de participar na escrita dos meus guiões". Tem sido nesta perspectiva criativa, que algumas das mais importantes obras de curta e longa-metragem de Solveig Nordlund se centram em narrativas literárias tão significantes, como contos de ficção científica de J. G. Ballard ou H. P. Lovecraft e ficções de J. Marmelo e Silva, Richard Zimler e António Lobo Antunes.
Nascida em Estocolmo, Solveig Nordlund alimentou a sua paixão pelo cinema ainda nos bancos da universidade enquanto frequentava o curso de História de Arte. Radicada em Portugal desde há quarenta anos, Solveig Nordlund iniciou a sua carreira como assistente de realização e montadora, tendo trabalhado em vários filmes portugueses de realizadores como Manoel de Oliveira e João César Monteiro.
Desde a sua primeira longa-metragem de ficção – o filme "Dina e Django", realizado em 1983 – a vasta filmografia de Solveig Nordlund tem-se repartido entre Portugal e a Suécia, desempenhando um papel nuclear no panorama do cinema português. Profundamente inspirada pela obra do marcante realizador francês Jean Rouch, de quem foi aluna em França em 1972, Solveig Noderlund diz que «gosta de fazer filmes que nos surpreendam intelectual e formalmente», revelando uma notável preocupação em tocar a essência do espectador, quer pela qualidade do fluxo narrativo, quer pela linguagem formal da realização.
"A Morte de Carlos Gardel" recebeu apoio à produção do Instituto do Cinema e Audiovisual/Ministério da Cultura, contando igualmente com a participação financeira da RTP – Rádio e Televisão de Portugal.
Entrevista a Solveig Nordlund
Onde começa esta relação com a obra de António Lobo Antunes que a levou agora a escolher esta obra em particular?
Em 1997, fui convidada pela SVT - a televisão sueca - para fazer uma introdução à obra de Lobo Antunes, que nessa altura era uma dos candidatos mais falados para o Prémio Nobel. E comecei a ler António Lobo Antunes. Li todos os seus livros e tornei-me fã da sua forma impressionista de escrever. Gostei sobretudo de "Os Cús de Júdas", "Fado Alexandrino" e "A Morte de Carlos Gardel". Com os anos fui ampliando e completando o documentário até acabá-lo em 2010 com o título "Escrever, Escrever, Viver". Entretanto tinha falado com António sobre a possibilidade de adaptar "A Morte de Carlos Gardel" para o cinema e ele deu-me carta-branca para escrever o guião.
Já trabalhou no cinema muitas obras literárias, o que a cativa neste processo de compor imagens em cima das palavras?
Já fiz várias adaptações de obras literárias para o cinema – "Até Amanhã, Mário" (de Grete Roulund), "Comédia Infantil" (de Henning Mankell), "Aparelho Voador a Baixa Altitude" (de J.G. Ballard), "O Espelho Lento" (de Richard Zimler) e agora "A Morte de Carlos Gardel" de António Lobo Antunes. Não sei porque prefiro adaptar uma obra já existente em vez de escrever uma história de raiz, que também fiz várias vezes – "Dina & Django", "A Filha". Penso que me considero mais protegida quando houve outra pessoa antes de mim a pensar na história e nas suas implicações. E é também um desafio traduzir uma obra de que se gosta muito para uma outra linguagem.
Onde acaba a obra de António Lobo Antunes e começa a de Solveig Nordlund?
"A morte de Carlos Gardel" é um exemplo disto. Gostei muito do livro e da emoção que transmitia. O desafio a adaptá-lo ao cinema foi tornar a história compreensível sem perder a respiração e a emoção do livro. O livro estende-se no tempo e no espaço, tive que reduzir as personagens e centrar a história ao essencial - a morte do filho toxicodependente e como esta morte transforma as pessoas à sua volta.
Qual o aspecto que a atraiu mais nesta história?
O que me atrai nesta história é a grande culpa que as personagens sentem. Não sabem agir perante os acontecimentos e procuram desesperadamente algo que dê sentido e que lhes possa fazer perdoar. O pai procura um falso Carlos Gardel para dar sentido à sua vida depois da morte do filho.
Filmografia
2011: A MORTE DE CARLOS GARDEL, baseado na obra António Lobo Antunes | EM TRÂNSITO, documentário sobre o artista José Pedro Croft
2010: CONVERSAS NO CABELEIREIRO, 3 documentários para a RTP2 sobre mulheres artistas
2009: O ESPELHO LENTO, curta-metragem | ESCREVER, ESCREVER, VIVER, documentário sobre o escritor António Lobo Antunes
2008: OUTRA MEMÓRIA, curta-metragem | TERRITÓRIOS DE PASSAGEM, 3 pequenos documentários sobre o artista José Pedro Croft
2007: NÓS POR ELES, 5 documentários sobre escritores estrangeiros em Portugal
2005: O BEIJO, curta-metragem
2004: TIA LINNEA E O MUNDO (Moster Linnea och Världen), curta-metragem | AMANHÃ, curta-metragem, RTP
2003: A FILHA, longa-metragem
2002: APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, longa-metragem baseada no romance de J. G. Ballard
1999: THE TICKET INSPECTOR, curta-metragem
1998: UMA VOZ NA NOITE, curta-metragem
1997: COMÉDIA INFANTIL, longa-metragem baseada no romance de Henning Mankell
1996: O CAMINHO DE REGRESSO (Vägen Tillbaka), documentário sobre a recuperação de toxicodependentes na Suécia
1995: MEETING MAI, curta-metragem com Mai Zetterling | ANTÓNIO LOBO ANTUNES, documentário para a SVT sobre o escritor português | FEITIÇO (Bergtagen), curta-metragem
1993: MARGUERITE DURAS, documentário
1992: ATÉ AMANHÃ, MÁRIO, longa-metragem baseada na obra de Grete Roulund
1990: UMA HISTÓRIA IMORTAL, documentário sobre o Tchiloli de São Tomé
1989: FINEBOYS, documentário para a SVT sobre modelos masculinos
1988: MANCHAS DE LUZ, documentário para a SVT sobre músicos idosos
1987: STIG CLAESSON and J. G. BALLARD, série documental para a SVT sobre escritores
1986: VIAGEM A ORION (Resa Till Orion), curta-metragem baseada na obra "13 to Centaurus" de J.G.Ballard
1985: BARNUM, ópera | HOT LINE (Heta Linjen), episódio da longa-metragem OU O QUE ACONTECEU AO RATO NO ANO DO GATO
1984: COM OUTROS OLHOS, série documental para a SVT sobre realizadoras de cinema
1983: DESCOBRIR PORTUGAL, documentário para a SVT
1982: CASA (Hemmet), curta-metragem | MEMÓRIAS DA MINHA ALDEIA (Minnen Fran Byn Torrom), curta-metragem
1980: DINA AND DJANGO, longa-metragem
1979: E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LO?, série para a RTP sobre Karl Valentin
1978: MÚSICA PARA SI / VIAGEM PARA A FELICIDADE / NOVAS PERSPECTIVAS, documentário sobre 3 peças de teatro de de F. X. Kroetz para a RTP
1977: NEM PÁSSARO NEM PEIXE, curta-metragem
1976: A LEI DA TERRA, documentário de longa-metragem sobre a Reforma Agrícola em Portugal | ASSIM COMEÇA UMA COOPERATIVA, documentário | A LUTA DO POVO, documentário sobre a alfabetização em Santa Catarina
1975: DESAPARECEU, série documental sobre jovens que fugiram de casa
Ficha técnica
Realização Solveig Nordlund Produção Luís Galvão Teles / Fado Filmes Produtor Executivo João Fonseca Fotografia Acácio Almeida Montagem Paulo MilHomens Música original Pedro Marques Com Rui Morisson, Teresa Gafeira, Celia Williams, Carlos Malvarez, Miguel Mestre, Joana de Verona, Elmano Sancho, Ida Holten Worsøe, Albano Jerónimo, Maria João Pinho Participação especial: Ruy de Carvalho E ainda: Carla Maciel, Diogo Dória, Teresa Faria, Cecília Henriques, Maria Arriaga Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: POR, 2011, Cores, 87 min.
Link: http://carlosgardelfilme.blogspot.com/
Sinopse
Nuno (Carlos Malvarez) é um jovem toxicodependente em coma. Durante os dois dias que passa entre a vida e a morte, cada um dos seus familiares evoca na primeira pessoa uma teia de recordações. O pai, Álvaro (Rui Morisson), apaixonado por tango, recusa-se a aceitar a realidade, confundindo um imitador (Ruy de Carvalho) com o seu cantor de tango argentino favorito: Carlos Gardel. Um emaranhado de discursos cruzados e de memórias, em que a culpa está sempre latente, conduz-nos por uma rede de memórias até ao presente. É a vida toda, com a morte dentro.