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GRÂNDOLA INAUGURA MUSEU DE ARTE SACRA
O Museu de Arte Sacra de Grândola abre as portas ao público, a 23 de Agosto, na igreja de São Sebastião, para apresentar a sua colecção permanente, formada por fundos de pintura, escultura e artes decorativas.
O Museu de Arte Sacra de Grândola abre as portas ao público, a 23 de Agosto, na igreja de São Sebastião, para apresentar a sua colecção permanente, formada por fundos de pintura, escultura e artes decorativas. Esta iniciativa, da responsabilidade do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, da Câmara Municipal e da Paróquia de Grândola, integra cerca de uma centena de obras de arte, oriundas de igrejas da sede do concelho, das freguesias de Azinheira dos Barros e de Santa Margarida da Serra e da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia.
Grândola possui um extenso e variado património religioso, ainda escassamente divulgado, que é merecedor de visita atenta. A povoação começou por denominar-se Bendada e após a “Reconquista” cristã (inícios do século XIII) fez parte do concelho de Alcácer do Sal, sendo entregue pelos primeiros reis de Portugal, como sucedeu com boa parte do Baixo Alentejo, à Ordem militar de Santiago da Espada. O facto de se situar numa encruzilhada de caminhos e estar rodeada de terras férteis deu-lhe grande importância nos finais da Idade Média.
D. Jorge, mestre das ordens de Santiago e Avis e duque de Coimbra, frequentou assiduamente Grândola. A tradição registou a predilecção que lhe mereceu a actividade venatória nos matos e serranias da zona, em que abundava a caça grossa, mas não oculta um interesse mais profundo em apoiar o desenvolvimento de uma povoação dotada de efectivo valor estratégico, em termos económicos e sociais, para a milícia espatária. A permanência do mestre e da sua corte ajudaram a chamar moradores à terra, imprimindo-lhe a feição senhorial que perduraria até tarde.
O rei D. João III concedeu em 1544 carta de foral a Grândola, elevando-a a vila e cabeça de concelho, sinal de reconhecimento do progresso atingido pela povoação. Foi o corolário de um período áureo. A vocação agrícola e comercial da terra conheceria novos rumos ao longo dos séculos XVII e XVIII. No centro histórico subsistem notáveis solares brasonados desta época, mas as igrejas, ermidas e capelas continuam a ser o principal testemunho de uma memória colectiva deveras rica.
Vanguarda do ideário republicano no Sul, Grândola viria a perder, nos anos que se seguiram a 1910, parte da sua herança religiosa. O espólio que sobreviveu à voragem, porém, é muito significativo, como o demonstra o acervo patente no Museu de Arte Sacra. Através dele podem reconstituir-se alguns dos mais interessantes aspectos do quotidiano religioso, desde a organização pastoral das paróquias até ao esplendor do culto litúrgico e ao florescimento das devoções. A época contemporânea também não foi descurada: uma peça fundamental é o retábulo de “São Jorge e o Ladrão”, pintado em 1961 por José Escada para a igreja da mina de Lousal.
A ermida de São Sebastião foi construída, nos primórdios do século XVI, por iniciativa do povo de Grândola, num arrabalde da vila, junto à estrada real, para proteger a comunidade da peste. Em tempos de epidemia, serviu como posto de controlo dos viandantes. Prestou igualmente apoio aos peregrinos que por aqui passavam em direcção a Santiago de Compostela. Monumento de carácter vernáculo, de linhas simples e austeras, ao gosto popular, tornou-se uma importante referência do imaginário e da toponímia locais. Com o crescimento da terra, após a passagem do caminho-de-ferro (1916), passou a fazer parte do circuito urbano.
São Jorge e o Dragão, José Escada (1961).