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CARTAS DE UM PRESIDENTE DÃO ORIGEM A LIVRO
O auditório do Museu de Portimão encheu no passado dia 12 de Março para o lançamento do livro “Cartas de M. Teixeira Gomes a João de Barros”, inserido nas comemorações do 150º aniversário de Manuel Teixeira Gomes. O livro, coordenado pela jornalista Manuela de Azevedo, foi apresentado pelo professor da Universidade Nova de Lisboa Nuno Severiano Teixeira.
Episódios da República por Manuel Teixeira Gomes
Cartas de um Presidente dão origem a livro
António de Barros entrega a correspondência a Manuel da Luz
O auditório do Museu de Portimão encheu no passado dia 12 de Março para o lançamento do livro “Cartas de M. Teixeira Gomes a João de Barros”, inserido nas comemorações do 150º aniversário de Manuel Teixeira Gomes. O livro, coordenado pela jornalista Manuela de Azevedo, foi apresentado pelo professor da Universidade Nova de Lisboa Nuno Severiano Teixeira.
Manuela de Azevedo, primeira mulher a exercer jornalismo em Portugal e actualmente com 98 anos, foi convidada a marcar presença na apresentação e debruçou-se sobre a “relação muito cordial entre dois vultos da cultura e da democracia”, sublinhando que as comemorações do 150º aniversário de Manuel Teixeira Gomes, a decorrer ao longo deste ano, “celebram um grande português, amigo muito querido de João de Barros, o poeta da integridade e do civismo.”
“Teixeira Gomes foi, fundamentalmente, um ‘pintor’ do Algarve, tendo gravado com a sua caneta paisagens sensuais e espantosas. Escritor correcto, de uma linearidade admirável, deixou tudo pela escrita - não querendo ser licenciado ou político, foi Presidente da República, mas, acima de tudo, marcou lugar indelével na literatura portuguesa”, realçou a coordenadora da obra.
Na sua intervenção, Nuno Severiano Teixeira reconheceu os méritos desta colectânea, que lhe proporcionaram “belas horas de deleite na leitura das cartas e respectivas anotações, com as quais aprendi muito, fundamentalmente através do rigor do trabalho de Manuela Azevedo.”
Para o docente universitário, “a jornalista, e também escritora, revela grande erudição e uma particular sensibilidade humana, que lhe permitem compreender as duas personagens que se escrevem entre si, valendo este conjunto de cartas e postais pelo texto e pelo contexto, pela forma e pelo conteúdo.”
Estudioso do período histórico em que se insere a troca de correspondência agora editada em livro, Severiano Teixeira considera que “este espólio, pertencente à cultura portuguesa, é também um exercício de liberdade, onde se reflectem períodos distintos na vida de Teixeira Gomes: entre 1905 e 1910, nos últimos anos da Monarquia, afirma-se um comerciante próspero, entusiasmado com o despertar dos seus projectos literários e vivendo desafogadamente na sua terra natal; de 1910 a 1926, no início conturbado da República, temos apenas duas cartas, devido a uma intensa actividade diplomática que não lhe dá muito descanso; entre 1926 e 1931, período no qual é escrita a esmagadora maioria das missivas, revela-se livre como um passarinho, feliz pelo auto-exílio a que se propôs; por fim, na última década da sua vida, já em Bougie, apresenta-se progressivamente mais sombrio, ao sentir o aumento do isolamento e a diminuição da saúde, sobretudo a perda da visão.”
A terminar a sua intervenção, Severiano Teixeira lembrou que “nas últimas cartas entre dois grandes vultos da cultura e da democracia portuguesa, Teixeira Gomes assume, entre outros desencantos, um claro desdém pela censura salazarista que asfixiava o seu país, ao qual nunca mais regressou.”
António de Barros, neto do poeta João de Barros, mostrou o seu contentamento ao ver as cartas agora reunidas em livro. “É uma enorme satisfação ver, finalmente, o livro saído do prelo, devido ao empenho da Câmara Municipal de Portimão. É o fim de 22 anos de impasse, uma vez que está terminado desde em 1987. Culmina, assim, um longo processo que consumiu o entusiasmo do meu pai, que tudo tentou para que as cartas de Teixeira Gomes ao meu avô fossem publicamente conhecidas.”
Depois de agradecer o empenho da família Barros neste projecto, o presidente da Câmara de Portimão, Manuel da Luz, realçou que “nunca é demais o esforço que o Município está a fazer em prol da cultura, especialmente com o rico programa de comemorações deste ano e onde parte substantiva é justamente a edição das obras de Manuel Teixeira Gomes, já que a melhor homenagem que se lhe pode prestar é ler a sua rica obra.”
O autarca defendeu que “as escolas do Município deveriam ter autonomia para incluir Teixeira Gomes no seu currículo escolar”, dirigindo o desafio aos professores para que “interessem os seus alunos por este grande escritor portimonense”.
A par do lançamento da colectânea, os herdeiros de João de Barros procederam à entrega formal do conjunto das cartas e postais originais de Manuel Teixeira Gomes ao Município de Portimão, como gesto simbólico e valorativo da presença do antigo Presidente da República na sua terra natal.
Esta doação vem enriquecer o espólio do Museu de Portimão sobre Manuel Teixeira Gomes. O antigo Presidente da República é, actualmente, parte integrante da exposição permanente do Museu, onde existe um núcleo sobre a vida e a obra do ilustre portimonense. Uma exposição que dá a conhecer o viajante, o escritor e o político que foi Manuel Teixeira Gomes.