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MULHERES EM MARÇO
O MAEDS e a Direcção Nacional do MDM inauguram no dia 6 de Março, pelas 16.00H, na sede do MAEDS (Av. Luisa Todi, 162, Setúbal), três exposições temporárias que integram a celebração dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher.
Igualdade, Desenvolvimento e Paz | I centenário do 8 de Março
O MAEDS e a Direcção Nacional do MDM inauguram no dia 6 de Março, pelas 16.00H, na sede do MAEDS (Av. Luisa Todi, 162, Setúbal), três exposições temporárias que integram a celebração dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher, data que apela para uma solidariedade activa com as mulheres vítimas de opressão e violência.
No Sábado, dia 13, pelas 16.00H, organizaram um debate sobre “8 de Março-um século na luta emancipadora das mulheres” e “As mulheres sarauís olhares e desafios” onde todos poderão participar.
Exposições temporárias:
OLHAR FEMININO SOBRE AS MULHERES DO SAHARA OCIDENTAL
Fotografia de Helena Costa e Inês Seixas
A exposição "Olhar feminino sobre as mulheres do Sahara Ocidental" consiste num conjunto de 32 fotografias de Helena Costa e Inês Seixas. Estas duas fotógrafas, aderentes do MDM, participaram numa Caravana de Solidariedade aos acampamentos de refugiados sarauís, no sul da Argélia, em Abril de 2009. Em todos os países, em todas as civilizações, as mulheres são uma força para o avanço e desenvolvimento da sociedade. Em visita aos acampamentos de refugiados sarauís, no sul da Argélia, constata-se que as mulheres não são excepção. O MDM-Movimento Democrático de Mulheres esteve nestes acampamento, em Abril de 2009, integrado numa caravana de solidariedade promovida pelo CPPC(Conselho Português para a Paz e a Cooperação). O destino desta caravana era “Dajla”, o mais longínquo e logo menos visitado dos acampamentos sarauís na Argélia, tendo também visitado o “27 de Fevereiro”, “Smara” e participado numa acção de protesto junto ao Muro erguido por Marrocos, separando os territórios sarauís libertados dos ocupados, numa extensão de mais de 2.000km.
Aprendemos com a história destas mulheres o contributo para a sobrevivência do seu povo, ao atravessarem o deserto em busca de um lugar menos perigoso para viverem e resistirem à ocupação marroquina do seu território. A história destes acampamentos começa com essa grande travessia do deserto, em 1975, fugindo da genocida ofensiva marroquina. As mulheres, carregadas com os seus filhos e ajudando os mais idosos, deixando para trás todos os bens que possuíam e perdendo pelo deserto muitos familiares e companheiros, partilham a injustiça de uma pátria roubada e a violência do país opressor.
Actualmente, e após quase 35 anos de exílio, estas mulheres organizaram-se, constituindo a União Nacional de Mulheres Sarauís; potenciaram e desenvolveram as suas capacidades em prol da comunidade discutem e reflectem sobre temáticas do quotidiano (o trabalho, o divórcio, a saúde).
Essa reflexão terá sempre um enfoque especial, dado o contexto, mas aproxima-se das necessidades de qualquer mulher, em qualquer ponto do mundo: a discussão, o debate, o aprofundamento das ideias. A história recente deste povo, com muitos anos de guerra contra Marrocos, seguidos de quase 20 anos aguardando a realização de um referendo que tarda em chegar, proporcionou às mulheres uma intervenção determinante e transformadora na sociedade: combateram ao lado dos homens, defenderam acampamentos, ocuparam lugares de decisão, protegeram as suas famílias, sem nunca perderem o calor a generosidade que caracterizam o povo sarauí.
No cenário frugal e precário que é a sua vida real, as sarauís são mais um exemplo de mulheres que, no mundo, lutam não só pelo dia a dia, pelas suas famílias, pelos direitos mas também pelo seu país, por uma República Árabe Saharauí Democrática, livre e independente. O MDM, organização solidária com a luta das mulheres de todo o mundo por um futuro de paz e justiça, dedica particular atenção à corajosa luta das mulheres sarauís, partilhando com a opinião pública o necessária apoio a esta heróica causa.
TAPEÇARIA CONTEMPORÂNEA
de Maria José Mateus
Maria José Mateus faz parte de um grupo de artistas que renovaram a tapeçaria e que lhe deram um cunho experimental e decisivamente moderno, incluindo a área do mini-têxtil, que a sua ligação ao Grupo 3.4.5-Associação de Tapeçaria Contemporânea e a amizade com a saudosa Gisela Santi fortaleceu com a sua presença.
Aquilo que ressalta num primeiro olhar é a proximidade fascinante entre o universo da pintura e da tapeçaria. Esta situação tem que ver com vários aspectos, em particular o gosto pela pintura e o desenho que desde menina cultivou, incentivada mais tarde pela pintura de Tomás Mateus, seu marido e companheiro de muitos anos.
As obras de Maria José Mateus filiam-se numa corrente abstracta, onde as formas geométricas como as elipses, círculos, rectângulos e quadrados se articulam com elementos mais orgânicos criando labirintos fascinantes de cor, que se submergem uns nos outros. A alternância cromática ajuda ao ritmo da composição, salientando-se, de um modo geral, a sugestão de uma continuidade do desenho para além dos limites da trama, provocada pela intensidade dos efeitos perceptivos.
Cristina Azevedo Tavares
CHRYSALLIS
Fotografia e video de Rosa Nunes
Rosa Nunes desenvolve o presente projecto há cerca de 2 anos. Com ele, insensivelmente, esta criadora rompe a fronteira da fotografia e atravessa o domínio da escultura e das artes performativas, para voltar a entrar, com passo firme, na fotografia contemporânea.
Construiu vestidos rígidos, carapaças onde a quitina foi substituída por gesso; invólucros vazios, onde outrora habitaram corpos femininos jovens, perfeitos, radiosos.
Depois, esses vestidos foram encontrados pela fotógrafa à beira do esquecimento; resíduos materiais de um tempo de dolorosa metamorfose, em que criaturas silenciosas e secretas libertaram, em duelo com a morte, o corpo das armaduras, reaprenderam a amplitude dos movimentos e o adejar de asas.
As novas borboletas caminharam para o futuro e daquele momento mágico de libertação restam esses estranhos vestidos na paisagem. Alguns caminham como fantasmas, ou títeres, movidos ainda pela força interior que antes os animou delicada e timidamente, por lugares onde a Mulher chorou a partida do amante e desejou vogar sobre o Atlântico; por veredas de lagos e jardins onde podia ver-se em espelhos descomprometidos e discretos; por tantos lugares imprevisíveis…
No bulício da cidade, onde nada se detém, esses estranhos vestidos adquirem uma presença marcante, obrigando o transeunte comum a acercar-se de corpos ausentes,
a perscrutar-lhe as entranhas, de onde ouve gemidos, balbuciar de nomes, fonte de uma canção de Mahler, Das Lied Von Der Erde, ou simplesmente o cântico glorioso de uma Mãe de Brecht.
Apesar da estética inerente a este projecto fazer apelo a um certo lirismo e a linguagem poética, a sua intervenção de critica social no que ao género concerne é cristalina e não menos eficaz que, por exemplo, o trabalho fotográfico, ostensivamente irónico, de uma artista consagrada como Cindy Sherman, muito bem representado em “Untitled (Vivienne Westwood)”, de 1993, onde a autora fotografa uma noiva modelo, com as cuecas no toucado. Há nesta obra uma certa memória do feminismo dos anos 60 do século XX; no trabalho de Rosa Nunes não há tradição. Talvez nele se recupere a ideia de fractura com o instituído, também perseguida no teatro do absurdo.
Finalmente, uma nota obrigatória para a nova valência que esta mostra comporta em relação ao trabalho anterior da autora: vídeo, articulado com as impressões fotográficas, e que afinal nos revela o corpo que em boa hora se libertou do casulo, o mesmo é dizer da sujeição, em contexto social que, hipocritamente, advoga o fim da discriminação de género.
Joaquina Soares