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ADEUS, ATÉ AMANHÃ
“E um dia ao angolano António Escudeiro disseram: “Vai-te embora!” Corria o ano de 1975, trabalhava com imagem para o Governo de trabsição do MPLA. “Vai-te embora mas não amanhã, vai hoje, já!”
LANÇAMENTO DE DVD
de António Escudeiro
“E um dia ao angolano António Escudeiro disseram: “Vai-te embora!” Corria o ano de 1975, trabalhava com imagem para o Governo de trabsição do MPLA. “Vai-te embora mas não amanhã, vai hoje, já!” A 16 de Setembro, sem malas, sem resgatar o depósito bancário, só com a T-shirt e os calções que trazia vestidos, o realizador, fotógrafo e director de fotografia aterrou noutros horizontes (exíguos), noutras temperaturas (amenas), noutro continente (branco), noutro mundo (também amotinado). Há 32 anos, António Escudeiro disse “Adeus”. Hoje diz apenas “Até amanhã”. Um documentário on the road, 4 mil quilómetros, 25 dias em Angola: Lobito, Huambo, Huíla... Um roteiro sentimental, sem nostalgias estéreis nem saudosismos serôdios. Em que cada plano, captado quase sempre com tripé, tem a força de uma fotografia, de enquadramentos avaliados, e pontos de fuga e luz calculados ao pormenor. Escudeiro percorre aquela geografia que sempre considerou tão sua, desde o nascimento, infância, adolescência à idade adulta: “Sou angolano, sempre fui. Nunca me considerei outra coisa.” E desce (ou seria melhor dizer, sobe) àquele “estranho paraíso”. Entra nas suas velhas casas de infância, hoje pele e osso, descarnadas daquilo que foram. Passa por fachadas cravejadas de balas. Atravessa cidades-fantasma, onde os governantes vestem Armani, e o povo ainda agora renasce, na pujança de alguns mercados, cinco anos passados sobre a guerra. Tira sangue (“um gesto simbólico”) no velho e desertificado hospital – para depois se cruzar com a enfermeira, por acaso, na rua, que o alerta para os valores baixos de hemoglobina. Viaja nos obsoletos comboios, que de vagões de mercadorias se fizeram carruagens de passageiros. Demora dois dias nas crateras lunares do alcatrão, quando dantes o percorria em meia dezena de horas. Passa por colunas de 40 atascados e resignados camiões. Percebe, em Luanda, que as maiores inseguranças são os... seguranças, as extorsões e “o dinheiro para a gasosa”. No Huambo, detém-se no arruinado cinema ruacaná, corroído por dentro como uma cárie dentária. Senta-se na plateia, espectador de coisa nenhuma. Era ali que haveria de começar o filme. Assim foi.”
Ana Margarida de Carvalho
in Visão 2007/10/18
A edição em DVD, para além do filme com a duração de 56’, tem como extras o Making Of partes 1 (duração) e 2 (duração), capítulos e trailer. Disponível nas lojas Fnac.