A IX Festa do Teatro teve uma grande afluência de público, factor que muito nos anima para continuarmos em força com este Festival que, de ano para ano, se tem demarcado no panorama cultural da cidade de Setúbal.

Quatro espectáculos tiveram a lotação esgotada, foram eles os Titiricircus, pelo Tanxarina da Galiza, a língua não foi obstáculo para os Tanxarina, que, durante cerca de uma hora, interagiram e divertiram o público com as exibições das personagens (leia-se marionetas) do Titiricircus, como o encantador de serpentes, o malabarista e o equilibrista, Rumor Clandestino, pelo Teatro O Bando encheu o largo da Praça do Bocage, com espectadores em “perseguição” e armados com auscultadores, seguindo e ouvindo a dupla de actores de “Rumor Clandestino, Doutor Fausto, do Teatro ao Largo que deleitou as centenas de crianças, jovens e adultos que nessa noite se descolaram até ao Parque do Bonfim e “O que aconteceu a Betty Lemon?” pelo Teatro Estúdio Fontenova, espectáculo aplaudido calorosamente de pé pelo público durante alguns minutos, espectáculo este, que como nos descreve o autor “um auto-retrato de desafio e desespero”, Betty Lemon no seu mundo de solidão, ensaia um discurso que nunca fará e protesta a favor de todos os que ficam deficientes por medo aos seus padres, charlatães, políticos carismáticos, casamentos, professores ignorantes e pais fanáticos. Um retrato muito violento de uma sociedade ainda mais violenta.

A ESTE, a Companhia de Teatro do Algarve, o Teatro em Branco cujas representações foram na Capricho Setubalense e no INATEL, respectivamente, trouxeram-nos espectáculos mais intimistas… ambos um convite à reflexão em torno do tema da solidão, espectáculos estes que não esgotando tiveram também uma boa plateia de público.

Não podemos esquecer também a mostra de curtas-metragens do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística e do Clube de Cinema de Setúbal / Experimentáculo, lotou, também, a sala de convívio da Capricho.

E se a Festa arrancou numa sessão de abertura, pautada pela música e pelo humor, terminou no Fórum Municipal Luísa Todi com um dos mais conceituados autores da dramaturgia universal. Tendo em conta o tamanho da sala e os eventos paralelos que decorreram nesse preciso dia, podemos considerar que tivemos uma boa casa, com cerca de 100 de pessoas, a Escola da Noite de Coimbra ofereceram-nos um brilhante espectáculo construído a partir do universo das peças em um acto de Anton Tchékhov a par do humor franco que elas despoletam (e por causa dele), estas peças proporcionam, no entanto, diferentes níveis de leitura, revelando-nos as enfermidades de uma sociedade em estado de crise e de transformação acelerada, na qual a explosão se pode dar com extrema rapidez… onde nos convidou desta forma a reflectir sobre o mundo contemporâneo que nos rodeia.  

Nem a chuva impediu que o Tanxarina apresentasse o seu espectáculo, que transitou para o interior do edifício dos Paços do Concelho. Solução de recurso que se revelou muito adequada para o tipo de espectáculo e abriu desta forma um precedente até ali inédito, a utilização do átrio do edifício dos Paços do Concelho para este tipo de eventos, o que agradou imenso aos nossos amigos galegos que ficaram muito satisfeitos com o público setubalense que os aplaudiu calorosamente.

A “Festa do Teatro” está a ser cada vez mais, um êxito de visibilidade e afirmação a nível nacional, levando o nome de Setúbal a figurar nesta altura do ano em quase todos os órgãos de informação nacionais.

Lamentamos, no entanto, que este esforço da organização não esteja a ser acompanhado por parte de algumas instituições pondo em causa a continuidade do Festival. Setúbal e o teatro não merecem ver morrer outro Festival, mas sim, catapultá-lo para o panorama internacional. 

O Público da “Festa do Teatro”, neste momento não constitui exclusivamente setubalenses mas um público que vem também de fora, juntando-se à comunidade local e contribuindo para que esta festa seja cada vez mais pautada de qualidade e singularidade, não residindo só na programação eclética e diversificada mas sobretudo no contributo dado por cada um dos espectáculos e também das pessoas que viram, participaram e protagonizaram a “IX Festa do Teatro”.

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