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Mensagem do Director Geral da UNESCO por ocasião do Dia Mundial da Água

O tema “Água e Cultura” exprime exactamente a visão da UNESCO no que se refere à gestão e supervisão da água. Por forma a alcançar soluções sustentáveis que contribuam para a equidade, paz e desenvolvimento, a gestão e supervisão deste recurso têm de ter em conta a diversidade biológica e cultural. Por isso, a UNESCO acredita que a dimensão cultural da água merece uma exploração mais aprofundada por forma a haver uma melhor compreensão das suas múltiplas ramificações.

Mensagem do Director Geral da UNESCO, Mr Koïchiro Matsuura, por ocasião do Dia Mundial da Água, que se celebra dia 22 de Março. 

Este tema reveste-se de  particular significado para a UNESCO, que  liderará as iniciativas  envolvidas nas celebrações deste ano.

O tema “Água e Cultura” exprime exactamente a visão da UNESCO no que se refere à gestão e supervisão da água. Por forma a alcançar soluções sustentáveis que contribuam para a equidade, paz e desenvolvimento, a gestão e supervisão deste recurso têm de ter em conta a diversidade biológica e cultural. Por isso, a UNESCO acredita que a dimensão cultural da água merece uma exploração mais aprofundada por forma a haver uma melhor compreensão das suas múltiplas ramificações.

Nos tempos modernos, as abordagens à gestão de recursos hídricos têm sido esmagadoramente orientadas num sentido tecnológico, numa tentativa de resolver os problemas mundiais relacionados com a água. Actualmente, de acordo com o 2º Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento Hídrico, , 1.1 biliões de pessoas não têm acesso a água potável e 2.6 biliões não têm saneamento básico. Ocorrências extremas relacionadas com a água, tais como  inundações ou secas, matam mais pessoas do que quaisquer outros desastres naturais, e as doenças transmitidas através da água continuam a causar a morte de centenas de crianças todos os anos. A tecnologia por si só, contudo, não nos levará a situações viáveis.

Enquanto que a ciência e a tecnologia são vitais para a compreensão do ciclo da água e seu correcto aproveitamento, elas desenvolveram-se em adaptação a  contextos ambientais específicos e em resposta às necessidades e ambições das pessoas, que são condicionadas por factores culturais e sociais. A água, na verdade, tem importantes funções culturais. Dado que ela toca todos os aspectos da existência humana, cada comunidade criou estruturas sociais, regras e práticas para a sua utilização, baseadas nas respectivas visões do mundo e códigos deontológicos. Consequentemente, a água é rica em significados culturais e sociais. A sua gestão é simultaneamente técnica e cultural, reflectindo como os povos e as comunidades se relacionam com a natureza. Desde os tempos pré-históricos até à actualidade, a forma de a humanidade se relacionar com a água influenciou fortemente a sustentabilidade das sociedades.

Devido ao seu crescimento e desenvolvimento, a população humana cada vez mais afecta o ciclo hidrológico, alterando a sua qualidade e distribuição. Mas a quantidade de água fresca na terra, para ser partilhada entre outras formas de vida, permanece a mesma. Esta situação impõe à humanidade a responsabilidade de desenvolver sistemas de governo deste recurso eticamente sólidos.

Com vista a este fim, temos de compreender melhor as complexas interacções entre sociedades, água e ambiente. Estas interacções estão enraizadas em processos sociais e culturais; na verdade, a própria gestão da água precisa de ser compreendida como um processo cultural. Esta perspectiva influencia algumas das maiores iniciativas e prioridades da UNESCO, nomeadamente as que visam  aumentar o conhecimento sobre a água e  ecosistemas com ela relacionados, para promover a diversidade cultural e o reconhecimento do valor do património tangível e intangível da humanidade, a ética na ciência e na tecnologia, e para ajudar a impedir e resolver problemas com este bem precioso.

Existe um reconhecimento crescente de que, para compreender e conservar os recursos naturais como a água, é necessário compreender as culturas humanas que formam e interagem com os sistemas naturais. Nesta perspectiva, a necessidade de reconhecer e valorizar o conhecimento tradicional está a ganhar terreno. Ao adoptar a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da UNESCO  (2001), a comunidade internacional demonstrou o seu empenhamento em reconhecer a “contribuição do conhecimento tradicional, particularmente no que respeita à protecção ambiental e à gestão dos recursos naturais, e ainda à promoção de sinergias entre a ciência moderna e o conhecimento local” (Plano de Acção nº 14 da Declaração).

O conhecimento tradicional alerta-nos para o facto de que a água não é uma mera comodidade. Desde os primórdios da humanidade que ela nos inspira, dando vida espiritual, material, intelectual e emocional. Partilhar e aplicar os ricos conteúdos dos nossos sistemas de conhecimentos, incluindo os das sociedades tradicionais e indígenas, bem como as lições aprendidas das nossas interacções históricas com a água, podem fortemente ajudar a encontrar soluções para os desafios actuais que este recurso nos coloca.

O nexo entre cultura e natureza é a avenida para compreender a elasticidade, criatividade e adaptabilidade tanto nos sistemas sociais como ecológicos. Nesta perspectiva, a utilização sustentável da água e, consequentemente, um futuro sustentável, dependem da relação harmoniosa entre água e cultura. É,pois, vital que a gestão da água tenha em forte consideração as tradições culturais, as práticas indígenas e os valores sociais.

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