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Vencedores da 3.ª edição dos Prémios Curtas
Foi neste sábado, dia 5 de abril, que se celebrou no Fórum Lisboa a cerimónia da 3.ª edição dos Prémios Curtas, onde todos os vencedores foram anunciados!

A cerimónia contou com a apresentação de Rui Alves de Sousa, e a curta-metragem "Era Uma Vez no Apocalipse" foi a que arrecadou mais prémios, conseguindo um total de 5 estatuetas, incluindo Melhor Actor e Melhor Actor Secundário, para Sérgio Godinho e Paulo Calatré, respetivamente. Também na ficção a curta-metragem "Umbral", que era o filme mais nomeado nesta edição com um total de 10 nomeações, saiu vencedora ao levar o prémio de Melhor Curta de Ficção.
O género documental teve um grande destaque com o filme "Kora" de Cláudia Varejão, cuja realizadora venceu nas categorias de Melhor Realização e Melhor Montagem, com o filme também a vencer a categoria de Melhor Curta Documental.
Outro grande vencedor veio do género de animação, com a curta-metragem "Percebes" a arrecadar 3 prémios, incluindo Melhor Curta de Animação.
Filmes como "À Tona d'Água", "O Procedimento", "Antes do Nascer da Lua", "Quando a terra foge" e "Prima ku Lebsi" também saíram vencedores desta cerimónia.
Pela primeira vez nos Prémios Curtas foi atribuído um Prémio Honorário, com a primeira distinção a ir para o ator Luís Miguel Cintra, onde Hugo Gomes, crítico de cinema e membro do Júri, subiu ao palco e apresentou o seguinte discurso:
"Hoje, nesta celebração do cinema, temos a honra de parar por um instante e prestar tributo a um nome maior, que, mais do que um ator, é um pilar da cultura portuguesa: Luís Miguel Cintra.
Deixe-me recordar de um breve encontro no Festival de Cannes, após a projeção do mais recente restauro de “A Ilha dos Amores”, onde afirmou convictamente que o mercado de trabalho para si não existe. “O que existe” passo a citar “é o trabalho de ator, um trabalho que tem a ver com a própria personalidade”. E talvez seja essa entrega absoluta que faz dele um artista ímpar, alguém cuja matéria-prima é, antes de mais, a sua própria alma.
Luís Miguel Cintra carrega consigo décadas de palco e de ecrã, atravessando tempos e formas de fazer arte com uma dedicação que transcende o próprio ofício. Seja no teatro da Cornucópia, que ajudou a fundar e onde deu corpo a clássicos e a contemporâneos, seja no cinema, onde a sua voz e a sua presença se tornaram inconfundíveis, Cintra nunca aceitou o caminho fácil. Preferiu sempre o da verdade e da procura, o da entrega e da dúvida.
Regressando a Cannes e à Ilha de Paulo Rocha, o que vi foi um ator com emoção de quem sente o peso do tempo e a leveza da missão cumprida. Sentiu a nostalgia dos anos passados, sim, mas também o orgulho de quem fez parte de uma obra que, nas suas palavras, “funciona como uma pérola raríssima num mar dominado pelo mercado”.
Luís Miguel Cintra nunca foi apenas intérprete. Foi cúmplice, criador,resistente. E é essa resistência que hoje homenageamos. A resistência de quem nunca dissociou a arte da vida, de quem sempre acreditou que o teatro e o cinema não servem apenas para entreter, mas para iluminar, questionar, provocar.
Quem o conhece sabe: Cintra não precisa de apresentações – ou melhor, não deveria precisar. Mas num país tantas vezes distraído com o efémero, é urgente relembrar e reavivar o valor dos que verdadeiramente nos representam. Sempre pregou o seu ofício com a lucidez de quem sabe que ser ator é – seja em teatro, cinema ou em televisão – a mesma coisa, porque é sempre uma questão de imaginação e verdade.
Luís Miguel Cintra é daqueles raros artistas que fazem da sua própria vida uma extensão da arte. Ele próprio confessou, com um misto de resignação e ternura, que gostaria de ser “menos sábio”, quando foi colocado no lugar do ancião nas suas últimas participações no cinema. Mas para nós, espectadores e cúmplices de tantos anos, a sua sabedoria é um farol.
Neste instante, recordo a imagem de Camilla, no filme “A Comédia e a Vida” de Renoir, quando se vê dividida entre o palco e o mundo real, entre o teatro e a vida. Luís Miguel Cintra fez há muito essa escolha, a do palco, a da criação, a do olhar artístico sobre o mundo. E é por isso que hoje, ao celebrarmos a sua carreira, também celebramos a sua coragem, o seu rigor e, acima de tudo, a sua generosidade.
Recentemente, Sofia Marques, com o documentário “Verdade ou Consequência?”, ofereceu-nos um retrato comovente deste mestre, onde Cintra se afirma com a serenidade de quem ainda nos diz: “Ainda estou aqui!”.
E nós, felizes por isso, dizemos: que privilégio é termos aqui, entre nós, um dos maiores artistas portugueses de sempre.
Senhoras e senhores, com o coração cheio e em nome de todos aqueles que foram tocados pela sua arte, o Prémio Curtas tem a mais honrosa entrega da noite, o Prémio Homenagem a Luís Miguel Cintra."
Vê aqui a lista completa dos vencedores:
Melhor Curta de Ficção:
'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
'Era Uma Vez no Apocalipse'
'Golden Shower'
'Mau Por Um Momento'
'Umbral' – Vencedora
Melhor Curta Documental:
'Kora' – Vencedora
'Os Cães Voltaram a Ladrar'
'Quando a terra foge'
'Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas'
'Uma mulher do género'
Melhor Curta de Animação:
'A Cada Dia Que Passa'
'O Estado de Alma'
'Percebes' – Vencedora
'Pietra'
'Três Vírgula Catorze'
Melhor Realização:
Cláudia Varejão por 'Kora' – Vencedora
Daniel Soares por 'Mau Por Um Momento'
Inês Lima por 'O Jardim em Movimento'
Isadora Neves Marques por 'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
Mário Veloso por 'Chuvas de Verão'
Melhor Argumento:
Alexander David por 'À Tona d’Água' – Vencedor
António Miguel Pereira e Tiago Pimentel por 'Era Uma Vez no Apocalipse'
Chico Noras e Rafael Traquino por 'O Procedimento'
Isadora Neves Marques por 'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
Miguel Andrade por 'Umbral'
Melhor Ator:
Daniel Silva em 'Umbral'
João Nunes Monteiro em 'Nós'
João Villas-Boas em 'Mau Por Um Momento'
José Eduardo em 'Desgosto de Morrer no Inverno'
Sérgio Godinho em 'Era Uma Vez no Apocalipse' – Vencedor
Melhor Atriz:
Cirila Bossuet em 'Êxtase'
Kim Ostrowskij em 'Golden Shower'
Nádia Yracema em 'Prima ku Lebsi'
Paula Só em 'O Procedimento' – Vencedora
Teresa Faria em 'Porta-te Bem'
Melhor Ator Secundário:
Diogo Fernandes em 'Golden Shower'
Luis Reboredo em 'Nós'
Nuno Branco em 'Santa Rita Dream'
Paulo Calatré em 'Era Uma Vez no Apocalipse' – Vencedor
Will Costa em '00:00 MEIA-NOITE'
Melhor Atriz Secundária:
Ana Luísa Martins em 'O Jardim em Movimento'
Bia Gomes em 'Antes do Nascer da Lua' – Vencedora
Diana Sá em 'Umbral'
Isadora Alves em 'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
Mariana Pacheco em 'Era Uma Vez no Apocalipse'
Melhor Interpretação Infantil:
Ada Costa em 'À Tona d’Água' – Vencedora
Evie Gomes em 'À Tona d’Água'
Inês Cruz em 'Conseguimos Fazer Um Filme'
João Bica em 'Francisco Perdido'
Leandro Vieira em 'Vale do Fogo'
Melhor Montagem:
Cláudia Varejão por 'Kora' – Vencedora
Daniel Soares e Lucas Moesch por 'Mau Por Um Momento'
João Brás por 'Vale do Fogo'
João Cunha e Maria Cândida por 'Umbral'
Vera Lúcia Rita por 'O Procedimento'
Melhor Fotografia:
Bruno Reis Oliveira por 'Chuvas de Verão'
Frederico Lobo por 'Quando a terra foge' – Vencedor
Marta Simões por 'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
Miguel Cravo por 'Êxtase'
Vasco Viana por 'Mau Por Um Momento'
Melhor Som/Efeitos Sonoros:
Alex Gregson, Danny Jones e Ryan Sweetman por 'The Hunt'
Bernardo Bento, Ricardo Salazar e Vasco Carvalho por 'Percebes' – Vencedores
Filipe Rebelo, Mauricio d'Orey, Rafael Cardoso e Sérgio Silva por 'Quando a terra foge'
Guilherme Marta e Lurdes Osswald por 'Umbral'
Tiago Inuit e Tomé Palmeirim por 'Quorum'
Melhor Guarda-Roupa:
Ana Abelha por 'Umbral'
Cátia Santos por 'O Procedimento'
Luís Sequeira e Sofia Videira Pinto por 'Era Uma Vez no Apocalipse'
Mónica Lafayette por 'Antes do Nascer da Lua'
Mónica Lafayette por 'Prima ku Lebsi' – Vencedora
Melhor Caracterização:
Alexandra Santos por 'Umbral'
Cidália Espadinha por 'Santanário'
Cláudia Fonseca por 'O Procedimento'
Jude Sousa por 'Menor que três'
Susana Cruz por 'Era Uma Vez no Apocalipse' – Vencedora
Melhor Direção Artística:
Ana Abelha por 'Umbral'
Ana Meleiro por 'As Minhas Sensações São Tudo O Que Tenho Para Oferecer'
Cátia Santos por 'O Procedimento'
João Sousa por 'Penrose'
Luís Sequeira por 'Era Uma Vez no Apocalipse' – Vencedor
Melhor Banda Sonora:
Cristopher Ruiz Cárdenas, Inês Lima e Margarida Gonçalves por 'O Jardim em Movimento'
Nicolas Tricot por 'Percebes' – Vencedor
Rui Gaio por 'Rosa Choque, Ou Se'
Timóteo de Azevedo por 'O Procedimento'
Vagné Lima por 'Latitude Fénix'
Melhores Efeitos Visuais:
Diogo Vale, Mário Espada e Vítor Carvalho por 'O Jardim em Movimento'
Duarte Gandum e Tiago Loureiro por 'Depois do Tempo'
Gonçalo Homem e Johnny Rodrigues por 'Era Uma Vez no Apocalipse' – Vencedores
João Pedro Gomes por 'Quorum'
Nuno Costa por 'Umbral'
O Júri da terceira edição foi composto por: Frederico Corado (realizador, encenador e programador), Marina Leonardo (atriz e realizadora), Hugo Gomes (crítico de cinema), Inês Moreira Santos (blogger de cinema/TV e divulgadora cultural), Rafael Félix (crítico de cinema), Carolina Serranito (artista e programadora), Francisco Rocha (blogger de cinema, programador e fotógrafo), Jasmim Bettencourt (crítico de cinema e realizador), Filipa Amaro (realizadora e argumentista), André Pereira (editor de vídeo e videógrafo), Bernardo Freire (crítico de cinema, apresentador e podcaster) e Bruno Gascon (realizador e argumentista).
A 3.ª edição dos Prémios Curtas contou novamente com o apoio da plataforma de streaming FILMIN, e ainda com diversas parcerias de divulgação, como o Canal Q, o podcast VHS, a revista Metropolis e as páginas Cinema Sétima Arte, Fio Condutor e Cinema em Portugal.