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Histórias de masculinidade e resistência, histórias inacabadas, no novo DDD

Nona edição do festival de dança portuense decorre de 23 de abril a 4 de maio e conta com Victor Hugo Pontes, Gaya de Medeiros, Circolando, Marcelo Evelin, Ana Isabel Castro ou William Forsythe.

Os Gigantes, colaboração entre Victor Hugo Pontes e a Dançando com a Diferença, marca o arranque do Dias da Dança_Paulo Pimenta

Victor Hugo Pontes a regressar a Pirandello (desta feita, com a Dançando com a Diferença), Gaya de Medeiros em diálogo com Pina Bausch (e, talvez sobretudo, com a depressão da sua mãe), a Circolando a tentar “contar outras histórias entre Portugal e Moçambique”, o trabalho doméstico, a masculinidade, a ópera através de uma lente “tropical e definitivamente brasileira”. Estes são alguns dos temas que marcarão a nona edição do DDD — Dias da Dança, cujo programa foi apresentado no Rivoli, por aquele que, desde julho do ano passado, é o único diretor artístico do festival e do Teatro Municipal do Porto (TMP), Drew Klein. Esta programação ainda nasce, porém, da colaboração com a sua antiga colega, Cristina Planas Leitão.

Entre os dias 23 de abril e 4 de maio, 18 espaços espalhados por Porto, Gaia e Matosinhos receberão 27 espetáculos (49 récitas), dos quais 15 correspondem a co-produção do DDD. Também destes, 19 serão apresentados em estreia absoluta ou nacional. O número de criadores nacionais é quase idêntico ao de internacionais, apontou o presidente e vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira. A sua intervenção, a primeira da conferência de imprensa desta quinta-feira, teve um ar de despedida, bem como as dos vereadores de Matosinhos e Gaia, Fernando Rocha e Paula Carvalhal. Nenhum dos três poderá recandidatar-se nas eleições autárquicas deste ano; todos partilharam a “esperança” de que, no novo ciclo político, o festival, “uma marca afirmada”, continue.

A última edição a acontecer sob a sua responsabilidade arranca com a estreia nacional, no Rivoli, de Os Gigantes, colaboração de Victor Hugo Pontes com a Dançando com a Diferença. Nascido de um convite feito ao coreógrafo pela companhia madeirense, o espetáculo, cuja banda sonora cabe aos Throes + The Shine, tem como ponto de partida Os Gigantes da Montanha, peça que Luigi Pirandello, dramaturgo cujo trabalho Victor Hugo Pontes conhece bem (Drama, de 2019, já dialogava com Seis Personagens à Procura de um Autor), não conseguiu completar antes de morrer. O coreógrafo, que marcou presença na conferência de imprensa para falar da sua criação, pega nesta ideia de incompletude para explorar, “num tempo e lugar indeterminados”, “o que é realidade e o que é fantasia, o que é sombra e o que é luz”.

Também no primeiro dia do DDD, a catalã Aina Alegre apresenta no Palácio do Bolhão FUGACES, peça nascida do seu fascínio pela bailarina de flamenco Carmen Amaya. No dia seguinte, olhos postos no Auditório Municipal de Gaia, que receberá Cafézinho, de Gaya de Medeiros. Também presente na conferência de imprensa, a coreógrafa descreveu a criação como o resultado de uma “provocação” que recebeu para “falar sobre Café Müller”, de Pina Bausch. Admitindo que não gosta muito de “trabalhar reinterpretações”, explicou que decidiu assistir a uma nova récita da coreografia para ver aquilo que lhe relembrava. “Lembrei-me daquilo que é conviver com uma pessoa deprimida — neste caso, a minha mãe, uma pessoa com muita raiva reprimida.” Cafézinho tenta identificar qual é “o lugar possível da raiva nos dias de hoje, em que a ideia de amor é planificada, monótona, linear”.

No dia 25 de Abril, sobe ao palco do Constantino Nery, em Matosinhos, OU, colaboração que junta a Circolando ao moçambicano Panaibra Canda. André Braga, da Circolando, disse que a peça, “um encontro entre dois corpos com 50 anos” (o seu e o de Panaibra), tenta “contar outras histórias entre Portugal e Moçambique”. “Queremos encontrar-nos em palco e esquecer a História, deixar que os corpos e a paisagem falem.”

Resistência feminista

De Moçambique vem também Vagabundus (3 e 4 de maio no Campo Alegre), performance de Ídio Chichava “na qual 13 intérpretes dançam e cantam músicas moçambicanas antigas e atuais, gospel e motivos barrocos sem parar, expondo as suas almas”, lê-se na sinopse do espetáculo. Nos mesmos dias e na mesma casa (e também em estreia nacional), Eisa Jocson, das Filipinas, e Venuri Perera, do Sri Lanka, apresentam Magic Maids, que explora as “figuras femininas arquetípicas” da bruxa e da empregada doméstica. Peça na qual “a vassoura já não simboliza a opressão, mas sim a resistência feminista”, esta é uma “luta contra a invisibilidade do trabalho de assistência e as estruturas que desprezam as mulheres”.

Destaque também para VAIVÉN (3 e 4 de maio no Constantino Nery), em que o colombiano Camilo Mejía Cortes sonda a relação do seu corpo com a salsa, explorando igualmente “conceitos como negritude, masculinidade, queerness, migração e espiritualidade”. O reencontro com o coreógrafo brasileiro Marcelo Evelin acontece no Palácio de Bolhão, que a 2 e 3 de maio recebe, em estreia nacional, Bananada: OPERANTÍPODA (parte I), que, nas palavras de Drew Klein, “brinca com a ópera através de uma lógica tropical e definitivamente brasileira”.

KING SIZE, de Sónia Baptista (29 e 30 de abril no Constantino Nery), “pretende analisar como se constrói a masculinidade”, mergulhando no universo drag. Adoçar, de Ana Isabel Castro (2 e 3 de maio no Auditório Municipal de Gaia), é uma ode ao tempo para reflectir e observar. O coletivo Kor’sia revisita, em Mont Ventoux (3 e 4 de maio no Rivoli), a Subida do Mont Ventoux, carta de Francesco Petrarca na qual o poeta e humanista do século XIV “propõe uma alternativa à fé do mundo, uma viagem ascendente para que a humanidade escape e deixe para trás os anos sombrios da Idade Média”. Vânia Doutel Vaz tem em violetas (25 e 26 de abril no Campo Alegre) “uma peça íntima na qual se existe e resiste num ambiente minimalista”.

Este nono DDD também abrirá as suas portas pela primeira vez a criadores como André Uerba, Be Dias ou Fábio Krayze. Receberá ainda propostas de nomes consagrados como C.C. Crematística e Contraforça, nova peça de Vera Mantero (29 e 30 de abril no Rivoli), ou Friends of Forsythe (29 e 30 de abril no Campo Alegre), espetáculo no qual o coreógrafo norte-americano William Forsythe, com colaboradores, “explora as raízes da dança folclórica, do hip-hop e do ballet”. Paralelamente aos espetáculos, somam-se, como já é habitual, programas de aulas e workshops, voltados não apenas para profissionais de artes performativas como para o público geral.


por Daniel Dias in Público | 10 de maio de 2025
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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