Notícias
"Mundo Sepúlveda". Uma exposição onde o escritor não aparece a escrever

Na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim, inaugurou a exposição de fotografia de Daniel Mordzinski. “Mundo Sepúlveda” reúne dezenas de imagens do escritor Luis Sepúlveda, que mostram várias facetas do autor. É também possível ver a sua primeira máquina de escrever.
Daniel Mordzinski quis contar a história do seu amigo Luis Sepúlveda em imagens. Na exposição “Mundo Sepúlveda”, inaugurada na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim, reuniu imagens que retratam mais de 30 anos de amizade e cumplicidade de trabalho com o autor de “O Velho que Lia Romances de Amor”.
Depois de já ter editado um livro com o mesmo nome, Mordzinski quis acrescentar mais imagens à história da vida que partilhou com o escritor chileno que morreu há cinco anos e que era presença assídua no Festival Correntes d’Escritas.
Na exposição, o “fotógrafo dos escritores”, como é conhecido, procurou mostrar “todos esses mundos Sepúlveda, desde o cinematográfico, ao literário e ao familiar”. “É impossível reduzir a um número a quantidade de fotografias que fiz do Luis”, desabafa Mordzinski, que partilhou muitos projetos e viagens com o autor que morreu vítima de covid-19.
Nas paredes da biblioteca estão imagens de Luis Sepúlveda na cozinha, ou rodeado de amigos escritores, abraçado à sua mulher, a poeta Carmen Yáñez, ou com o seu editor Manuel Alberto Valente.
São, contudo, imagens onde não se vê o escritor a ser escritor, ou seja, a escrever. “Sempre acreditei que a melhor maneira de retirar o escritor da sua pose encartada de escritor é propor-lhe uma nova pose”, explica Daniel Mordzinski.
“Assim como nunca retrataria um pianista sentado ao piano a tocar, penso que as imagens dos momentos íntimos são muito mais interessantes do que as imagens de um escritor a escrever”, sublinha o fotógrafo, que fala de Sepúlveda com saudade.
“Não há atividade mais solitária do que a de um escritor!”
A exposição na Biblioteca Rocha Peixoto é também um tributo da cidade da Póvoa de Varzim a Luis Sepúlveda, ele que foi um dos autores que participava no Festival Correntes d’Escritas desde a primeira edição.
“Ele era muito feliz sempre que se aproximava fevereiro e tinha a possibilidade de aqui regressar”, lembra Daniel Mordzinski. Compara as suas vindas à Póvoa como a de um cidadão que tem “via verde” para aceder a tudo.
“Ele não precisava de convite. Sabia que esta era a sua casa no mundo durante o mês de fevereiro”, explica o fotógrafo, que olha para o oficio do seu amigo como um lugar de retiro.
“Não há atividade mais solitária do que a de um escritor!”, diz-nos Mordzinski, que não fotografou Sepúlveda a escrever. No entanto, o visitante desta exposição poderá ver aquela que foi a sua primeira máquina de escrever, numa vitrine onde está parte do espólio do autor chileno.
Esta máquina é um dos exemplos do acervo de Sepúlveda que será doado à Póvoa de Varzim para uma casa-museu. Na exposição, além de várias edições traduzidas de Luis Sepúlveda, estão também outros bens.
“Podemos encontrar desde uma fotografia escolar onde vos convido a descobrir quem é o Luis. Até à sua primeira máquina de escrever, a uma t-shirt do salão do livro ibero-americano de Gijon e algumas pequenas peças que pareceram interessantes partilhar”, explica Daniel Mordzinski.
por Maria João Costa in Renascença | 19 de fevereiro de 2025
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença