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"A Escolha de Karla"
John le Carré é literariamente ressuscitado por Nick Harkaway, seu filho, que através desta história volta a dar vida a personagens e ao universo do grande mestre da espionagem.
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Corre a primavera de 1963 e George Smiley deixou o Circus. Com os destroços da guerra de espionagem do Ocidente contra os soviéticos espalhados por toda a Europa, Smiley está apenas concentrado numa vida mais tranquila. E, efetivamente, com o casamento mais estável do que nunca, correm rumores em Whitehall – não confirmados e algo escandalosos – de que é capaz de estar quase feliz.
Mas o Controlo tem outros planos. Um agente russo desertou nas circunstâncias mais invulgares e o homem que o mandaram matar em Londres está desaparecido.
Smiley aceita com relutância desempenhar uma única e simples tarefa, a de entrevistar Susanna, uma imigrante húngara empregada do homem desaparecido, e farejar uma pista. Mas, na sua ausência, as sombras de Moscovo foram-se alongando.
Smiley não tardará a ver-se embrenhado num perigoso mistério que definirá as batalhas futuras e atingirá o coração do seu maior inimigo...
Ambientado na década ausente entre os dois emblemáticos romances protagonizados por George Smiley, O Espião Que Saiu do Frio e A Toupeira, este é um extraordinário e empolgante regresso ao mundo do mestre da espionagem John le Carré, escrito por Nick Harkaway, filho do autor e romancista aclamado.
«A ementa é espetacular», disse uma vez Ann, a primeira mulher do meu pai, a um perplexo chefe de mesa, «mas a questão é esta: sabe cozinhar?»
Não tardaremos a sabê-lo. De certo modo já o sei: a minha família está satisfeita com este livro. Caso eu tivesse escrito algo que garantisse todo o reconhecimento público e eles o detestassem, isso seria uma forma muito especial de Inferno. E sei também que haverá conclusões antecipadas para todos os gostos. Existirão pessoas que adoram o livro seja ele o que for, porque a sua adesão a George Smiley e ao Circus é tao profunda que o mais leve contacto da sua mão basta para lhes causar júbilo. Outros haverá a quem, exatamente pela mesma razão, não passará pela cabeça lê-lo, e cujos cabelos se hão de eriçar a menção da minha absurda arrogância. A esses, que inevitavelmente serão presenteados com o livro por bem-intencionados familiares e que terão de fingir sentir-se agradecidos por meio de um instintivo grunhido, só posso pedir desculpa: espero que, porventura no banho, após um dia particularmente desanimador, peguem no livro abandonado com o fundamento de que as coisas não podem de maneira nenhuma piorar e descubram que o apetite vem com o comer.
Sempre se pensou que haveria mais livros de Smiley; eu sei, porque estava lá. Nasci em novembro de 1972 – por coincidência ou não, perto da data em que o Controlo morreu– e cresci com George. A sua presença, sob diversas formas, foi um fantasma amigo na minha secretária. Primeiro houve o George do meu pai, de voz tensa e que por vezes se elevava, de indignação, para um momento mais tarde emergir das entranhas e proferir a verdade, por mais sombria que fosse. Houve a seguir a versão de Sir Alec Guinness, suave, obstinada e reflexiva, como se ao génio apenas fosse dado alguma vez sair fugazmente do nevoeiro. Michael Jayston leu Smiley num audiolivro abreviado, e eu todas as noites ouvia as cassetes para adormecer. Mais tarde, o meu pai leu o seu livro no mesmo formato, numa cadência caldeada agora com a de Guinness – sendo essa a razão, segundo dizia, pela qual não conseguiu escrever tantos livros da série como inicialmente tencionava. O Smiley exterior tinha suplantado aquele que existia na sua mente. Muito mais tarde houve ainda Denholm Elliot, a seguir Gary Oldman e outros em diferentes contextos, e todos eles ressoavam nos meus ouvidos, enquanto me mantinha na expectativa de conseguir encaixar uma história qualquer naquele intervalo de dez anos entre O Espião Que Saiu do Frio e A Toupeira.
Da Nota do Autor
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Nick Harkaway nasceu na Cornualha, em 1972.
É autor de oito romances, entre os quais se contam The Gone-Away World, Angelmaker, Tigerman, Gnomon e Titanium Noir.
Harkaway, de seu nome verdadeiro Nicholas Cornwell, é o quarto filho de David Cornwell (que usava o pseudónimo John le Carré) e da sua segunda mulher, Jane Cornwell.
Em 2021, após a morte de John le Carré, Harkaway assumiu o papel do escritor ao trazer a público o último romance inédito de le Carré, Silverview. Disse na altura que o propósito do exercício residia em alcançar a maior invisibilidade possível.
Em 2022 foi chamado a executar o necessário trabalho final em Um Espião em Privado, uma coletânea das cartas do pai, na sequência da lamentável morte do irmão mais velho, Tim Cornwell, que estava a preparar a edição da obra.
Os seus outros irmãos Simon e Stephen Cornwell são os fundadores de The Ink Factory, o miniestúdio de cinema e televisão que está por detrás da série televisiva O Gerente da Noite.
Vive em Londres com a mulher e dois filhos.
Literatura Traduzida
384 páginas
22,20 Euros
ISBN: 978-972-20-8443-7
1.ª Edição: Fevereiro 2025
Dom Quixote | Leya