Património
Livraria Buchholz distinguida como "Loja com História" pela Câmara Municipal de Lisboa
A icónica Livraria Buchholz, um dos mais emblemáticos espaços culturais de Lisboa, passa a integrar o programa "Lojas com História" da Câmara Municipal de Lisboa. Este reconhecimento valoriza a relevância histórica e cultural deste espaço que, desde 1943, tem sido um epicentro literário e artístico da cidade.
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O programa "Lojas com História" tem como objetivo salvaguardar e promover os estabelecimentos comerciais que, pelo seu património, contribuem para a identidade cultural, económica e histórica da cidade. “A Livraria Buchholz sempre foi mais do que um espaço de venda de livros; é um ponto de encontro da cultura em Lisboa. A integração da Livraria Buchholz no programa 'Lojas com História' é um reconhecimento merecido para um espaço que há 80 anos contribui para a elevação da vida quotidiana na cidade, enquanto referência nas áreas da literatura, da arte e do conhecimento. Com este reconhecimento, reafirmamos o nosso compromisso em manter a Buchholz como um polo cultural dinâmico, acessível e relevante para Lisboa”, refere Ana Rita Bessa, CEO da LeYa.
Um Refúgio Cultural com 82 anos
Há mais de 80 anos que a livraria fundada por Karl Buchholz se afirma como um espaço de liberdade e pensamento no centro de Lisboa. Em três pisos dedicados à literatura portuguesa e estrangeira, ao ensaio, à novela gráfica e às artes, desenvolve também uma intensa atividade cultural, com clubes de leitura, conversas, concertos, podcasts ao vivo, workshops e exposições.
Nascido em Göttingen a 26 de agosto de 1901 e educado em Frankfurt por uma tia, Karl Buchholz chega a Berlim no arranque dos loucos anos 20, em busca de trabalho como livreiro. Ousado e impetuoso, passados apenas quatro anos, abre uma livraria em nome próprio. Será a primeira de 12, na Europa e nas Américas. A de Lisboa surge em 1943, no n.º 50 da Avenida da Liberdade, onde chegara poucos meses antes. Além dos livros em diversas línguas, negoceia na clandestinidade “arte degenerada”, assim apelidada pelos nazis. Em 1965, a Buchholz muda-se para os três andares da Duque de Palmela, que passam a incluir discoteca e galeria de arte. Nesta altura já o nome do alemão chegou à Colômbia, onde a família se instalou na década de 1950 e já conta com quatro livrarias/galerias. Karl Buchholz morre em Bogotá em 1992.
Desde a fundação, a Buchholz tornou-se ponto de encontro de uma elite intelectual estabelecida e de outra em vias de o ser, dos estudantes e jovens artistas, aos políticos, escritores e jornalistas. Eram clientes habituais Mário Soares, Diogo Freitas do Amaral, Francisco Sá Carneiro, José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Vergílio Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Vasco Graça Moura, Helena Almeida, Al Berto e Nuno Júdice, apenas para referir alguns.
A livraria faz também parte das vidas de Marcelo Rebelo de Sousa, Francisco Pinto Balsemão, Marcello Mathias, Jaime Gama, António Barreto, António Lobo Antunes, José Pacheco Pereira e Irene Flunser Pimentel. Foi ainda aqui que, na década de ‘80, num encontro fortuito entre Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, surgiu a ideia para a criação do semanário O Independente.
Em 2009, a Buchholz entrou para o grupo LeYa. E se em 2017, 2018 e 2019 foi eleita livraria favorita dos portugueses, em 2023, por ocasião dos 80 anos de vida, apresentou-se renovada, com uma aposta atenta na literatura, incluindo livros em inglês e em francês, na venda de discos em vinil (através de uma parceria com a Flur Discos, considerada a melhor discoteca de Lisboa pelo Financial Times) e de arte portuguesa (com curadoria da Icon Shop, sedeada no Chiado).
À imagem dos anos 60 e 70, em que promovia na Galeria exposições e encontros de jovens artistas, como Helena Almeida, Mário Cesariny e José Escada, desde 2023 que a Buchholz oferece à cidade uma programação cultural cada vez mais fresca e variada, com exposições, concertos, podcasts ao vivo, clubes de leitura, conversas e lançamentos de livros. Para março, e por ocasião dos 10 anos do seu desaparecimento, está ainda agendada uma mostra de peças raras relacionadas com um dos maiores e mais misteriosos nomes da poesia portuguesa dos séculos XX e XXI, Herberto Helder.
“Nos últimos anos, a LeYa tem desenvolvido um programa cultural que mostra a vitalidade deste espaço histórico. Queremos garantir que este património será protegido e valorizado para as gerações futuras”, reforça Ana Rita Bessa.