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"A Complete Unknown" conta o início tumultuoso da carreira de Bob Dylan
Uma viagem à década de 60, quando a música folk marcou uma geração ativista, recriada de forma fiel através da realização de James Mangold. Longa-metragem está nomeada para oito Óscares.
!["A Complete Unknown" com Timothée Chalamet a fazer de Bob Dylan "A Complete Unknown" com Timothée Chalamet a fazer de Bob Dylan](https://www.e-cultura.pt/images/user/image17383155216274.jpg)
"A Complete Unknown" chegou esta quinta-feira às salas de Cinema e promete contar alguns dos pormenores do início tumultuoso da carreira de Bob Dylan.
O filme realizado por James Mangold tem Timothée Chalamet a encarnar o famoso músico, num papel que exigiu cerca de cinco anos de treino. O ator aprendeu a tocar todos os instrumentos de Dylan, incluindo a famosa harmónica, e a cantar no estilo de voz do artista.
Ao todo, Timothée Chalamet cantou 40 músicas, todas gravadas ao vivo, durante as gravações, usando microfones e instrumentos fiéis à década dos anos 60. A banda sonora final, lançada já no final de dezembro, inclui, ao todo, 23 canções.
O esforço terá valido a pena, porque a interpretação do ator tem sido aclamada e a longa-metragem recebeu oito nomeações para os Óscares, incluindo nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Ator, Melhor Atriz Secundária e Melhor Ator Secundário.
O filme retrata o arranque da carreira de Bob Dylan, a sua ascensão meteórica nos anos 60, as relações conturbadas que teve com as artistas Suze Rotolo e Joan Baez e a sua mudança de folk acústico para o rock elétrico que dividiu a opinião dos fãs.
Para além do foco em Dylan, "A Complete Unknown" também recria a época dos anos 60 e a cultura da música folk norte-americana. Figuras como Pete Seeger (Edward Norton) e Johnny Cash (Boyd Holdbrook) têm papéis importantes na narrativa, para lá das já mencionadas Suze Rotolo (Elle Fanning) e Joan Baez (Monica Barbaro), entre outros artistas com representações mais fugazes.
"Like a Rolling Stone"
Um das partes mais curiosas do filme é o retrato da época em que Bob Dylan, já um nome de peso dentro da comunidade folk, caracterizada pelo uso de instrumentos acústicos, começa a lançar e, mais tarde, atuar com instrumentos elétricos.
Depois dos seus primeiros quatro álbuns terem definido Dylan como um símbolo das canções de intervenção, o disco seguinte, "Bringing It All Back Home", apresentou várias músicas gravadas com apoio de uma banda rock e com uma escrita mais lírica e criativa.
O single "Like a Rolling Stone" serviu de exemplo para essa mudança de rumo que elevou o estatuto do artista para uma estrela de rock. O título do filme "A Complete Unknown" é retirado, precisamente, do refrão da música.
A nova sonoridade dividiu opiniões, especialmente dentro da comunidade folk. Uma reação polarizada que se sentiu num famoso concerto no Newport Folk Festival, a 20 de julho de 1965, em que Bob Dylan usou instrumentos elétricos ao vivo pela primeira vez. Parte do público protestou contra a mudança de estilo, durante o concerto e artistas da época condenaram a Dylan, acusando-o de abandonar o ativismo político.
As tournés de Bob Dylan entre 1965 e 66 continuaram a refletir esta difícil relação entre o artista e o grupo de fãs que o tinham popularizado no início da carreira. Os concertos dividiam-se em duas partes - a primeira focada na sonoridade folk e a segunda no estilo rock - o que fazia com que os fãs acolhessem uma metade do espetáculo e rejeitassem a outra. Durante um concerto em Manchester, um fã acusou Dylan de ser um "Judas".
Um acidente de mota, a 29 de julho de 1966, obrigou Bob Dylan a sair dos holofotes e a afastar-se dos palcos até ao início da década de 70. A polémica à volta da sonoridade elétrica acabou por dissipar-se nos anos seguintes, à medida que o próprio género folk começou a perder popularidade.
"A Complete Unknown" retrata os romances conturbados de Bob Dylan
por João Malheiro in Renascença | 30 de janeiro de 2025
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença