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"Ainda Estou Aqui"

A dramática história da família do próprio Marcelo Rubens Paiva deu origem ao filme, realizado por Walter Salles, que chega agora  às salas de cinema. A atriz Fernanda Torres, no papel de Eunice Paiva, já venceu o Globo de Ouro e continua bem lançada na corrida aos Óscares.

Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e exilado, em 1964.
Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto.
No meio daquela dor, ela reinventou-se. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas. Nunca chorou na frente das câmaras.
Ao falar de Eunice, e da sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva fala também da memória, da infância e do filho.
E mergulha num momento obscuro da história recente do Brasil para contar – e tentar entender – o que de facto ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele mês de janeiro de 1971.

Neste livro, Marcelo Rubens Paiva faz um retrato emocionante de Eunice, sua mãe, e pela primeira vez traça uma história dramática do que ocorreu – e do que pode ter ocorrido – com Rubens Paiva. «Meu pai, um dos homens mais simpáticos e risonhos que Callado conheceu, morria por decreto, graças à Lei dos Desaparecidos, vinte e cinco anos depois de ter morrido por tortura», narra ele.
Ainda estou aqui foi adaptado ao cinema por Walter Salles, com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro a interpretar Eunice Paiva, em diferentes idades, e Selton Mello no papel de Rubens Paiva.

Um estrondoso sucesso no cinema, que venceu o prémio de Melhor Argumento no Festival de Veneza, com Fernanda Torres a ser eleita Melhor Atriz pelo Critics Choice Awards 2024 e a conquistar o Globo de Ouro.

«(…) Já temos memória desde o primeiro dia em que nos deram à luz! Temos lembranças assim que acordamos, lembramos que o mundo é magnífico, sentimos um vazio no estômago, uma fralda pesada, molhada, e lembramos que, se chorarmos, milagrosamente aparece alguém que nos livra do desconforto.
Somos um pi-to-qui-nho de gente pe-ti-ti-ti-ca e temos memória, referências, jogamos com elas, calculamos nossas ações nos apoiando em lembranças (já) solidificadas. No entanto, não nos lembraremos de nada disso anos depois. Não nos lembramos de nada disso, mas nos lembramos do triciclo que ganhamos aos três ou quatro anos, da pré-escola, de uma festa de aniversário em que foram todos os amigos, de alguns brinquedos, babás, casas em que moramos, corredores, quartos, castigos, brigas, escolas, tias-professoras, coleguinhas.
As primeiras lembranças que guardamos para o resto da vida são as de quando temos três ou quatro anos, e a cada ano que passa virão mais lembranças que serão guardadas, cinco, seis, sete, que se tornam as primeiras lembranças mais fortes do que o esquecimento, que serão cobertas por novas experiências, que se acumulam, se acumulam, se acumulam, oito, nove, dez…»


Marcelo Rubens Paiva nasceu em 1959, em São Paulo.
É escritor, dramaturgo e jornalista.
O seu primeiro livro, Feliz ano velho, foi publicado em 1982 e recebeu o Prémio Jabuti de Literatura – Autor Revelação.
A seguir, lançou, entre outros, os romances Blecaute (1986), Não és tu, Brasil (1996), Malu de bicicleta (2003), A segunda vez que te conheci (2008) e, mais recentemente, Do começo ao fim (2022).
Vive e trabalha em São Paulo. 

Literatura Lusófona
272 páginas
18,80 Euros
ISBN: 978-972-20-8441-3
1.ª Edição: Janeiro 2025
Dom Quixote 

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