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A ausente de todas as conversas

Livros do Brasil publica A Outra Filha, um inédito em Portugal da Nobel Annie Ernaux. 

«Quando era pequena, pensava – de certeza que mo disseram – que era eu. Não sou eu, és tu.» Annie Ernaux evoca uma certa fotografia em tom sépia, oval, colada num cartão amarelecido, mostrando um bebé empoleirado, de través, em almofadas sobrepostas, com rebordo. Inadvertidamente, um dia a escritora francesa ouviu uma confidência entre a sua mãe e uma vizinha, assim descobrindo que não era a primeira filha dos seus pais. Existiu uma irmã que sempre esteve morta, que entrou morta na sua vida, no verão dos seus dez anos. É esta A Outra Filha, falecida de difteria aos seis anos, a quem se propõe escrever uma carta que resultaria no livro agora publicado na coleção Dois Mundos, com tradução de Tânia Ganho.

O livro já se encontra disponível online e nas livrarias.

Exercício bizarro esse de tentar encontrar laços para além dos de sangue com quem nunca brincou, comeu ou dormiu. Annie nunca a viu, tocou ou ouviu a sua voz. Não tem dela quaisquer recordações. E, no entanto, após a sua descoberta, passou a sentir que era alvo de um amor em segunda mão. A sentir-se comparada. Logo ela que era a incomparável filha única. «És a menina que foi para o céu, a menina invisível de quem nunca se falava, a ausente de todas as conversas. O segredo.»

SOBRE O LIVRO

A Outra Filha
Em 2010, Annie Ernaux recebeu um convite da editora NiL para participar na coleção Les Affranchis, construída a partir de um desafio aos autores: escrever uma carta a alguém a quem nunca se escreveu. Annie regressa então a um domingo de agosto de 1950, em Yvetot, quando, aos dez anos, ouve uma conversa entre a mãe e uma cliente e, em choque, fica a saber que, antes do seu nascimento, os pais haviam tido uma outra filha. A menina morreu aos seis anos, de difteria, e os pais nunca falaram dela a Annie – nem Annie alguma vez mencionou aos pais ter conhecimento da sua existência. É a ela, a essa irmã com quem nunca brincou ou discutiu, que dirige este texto. Reflexão sobre silêncios e expectativas, sobre a construção da identidade e os significados das memórias, sobre linguagem, A Outra Filha é um impressionante jogo de espelhos.

Ver primeiras páginas  

Título: A Outra Filha
Autora: Annie Ernaux
Tradução: Tânia Ganho
Páginas: 72
PVP: 13,30€
Coleção: Dois Mundos 

SOBRE A AUTORA

Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura. 

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