“A alegria das coisas não é a posse/ mas a semelhança delas com os nossos dedos”, escreveu Fiama Hasse Pais Brandão, a poetisa portuguesa que a RTP 2 recordará aos espectadores, na próxima 5ª feira, 17, às 22.55, através do documentário de Abílio Leitão, A Secreta Harmonia do Mundo. Com o objetivo de divulgar uma autora determinante na modernização da poesia portuguesa a partir do final da década de1950 (juntamente com alguns dos seus companheiros de geração, como Gastão Cruz, Casimiro de Brito, Luiza Neto Jorge ou Maria Teresa Horta), o documentário (com guião do realizador e Luís Sampaio) fornece algumas pistas de leitura para uma obra complexa e densa, em que o encantamento com o mundo natural (a tal alegria das coisas) coexiste com o imperativo de lutar contra a ditadura (muito presente no livro Barcas novas, datado de 1967, por exemplo).
Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, 15 de agosto de 1938 — Lisboa, 19 de janeiro de 2007) foi escritora, poetisa, dramaturga e tradutora. Passou a infância entre uma quinta em Carcavelos e o St. Julian's School, no Estoril, experiências que seriam decisivas quer para a atenção pessoal e literária que dedicava à Natureza, quer para o gosto pela poesia anglo-saxónica e pelo teatro. Foi estudante de Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido fundadora do Grupo de Teatro de Letras.
Estreou-se como autora com Em Cada Pedra Um Voo Imóvel (1957), obra que lhe valeu o Prémio Adolfo Casais Monteiro. Ganha notoriedade no meio literário com a publicação da antologia colectiva em fascículos, Poesia 61, em que Fiama publica Morfismos. Considerada uma das mais importantes autoras do movimento que revolucionou a poesia portuguesa nos anos 1960, foi distinguida por duas vezes com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1996 e 2000). Para além destes, o seu livro Cenas Vivas recebeu, em 2001, o prémio do P.E.N. Clube Português. Em 2006 com Contos de Imagem recebe o Prémio PEN Clube Português de Narrativa.
Desde cedo, a escrita para teatro (e mesmo a encenação) ocupou um lugar central na produção literária de Fiama, sendo autora de várias peças de teatro como O Cais, de 1958 (encenado um ano depois por Armando Cortez), ou Auto de Família, que subiria ao palco da Cornucópia em 1977. Em 1965, Fiama fundara o Grupo de Teatro de Letras de Lisboa juntamente com Luiza Neto Jorge e Gastão Cruz, com quem viria a casar. Em 1974, foi uma dos fundadoras do Grupo Teatro Hoje, companhia que deu a conhecer ao público português alguns dos nomes mais importantes da dramaturgia contemporânea e onde encenou Mariana Pineda, de Federico Garcia. Publicou também vários livros de prosa, em que se destaca o romance Sob o Olhar de Medeia. Traduziu para Português textos de John updike, Brecht, Artaud, Novalis, Tchekov, entre outros.
Notícias
Um documentário para lembrar a importância de ler Fiama
Senhora de uma voz literária delicada mas vigorosa, Fiama Hasse Pais Brandão foi um nome decisivo para a renovação da poesia portuguesa nos anos 1960. A RTP 2 recorda-a, com um documentário de Abílio Leitão.