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Lobos Solitários. Brad Pitt e George Clooney em after hours…
Comédia “caper” que se torna num acontecimento invulgar no streaming (chega amanhã à AppleTV+): um blockbuster com Brad Pitt e George Clooney que criminosamente não chega às salas. 'Lobos Solitários', de Jon Watts, é bem capaz de ser o melhor divertimento do ano.
O comportamento masculino ironizado e escalpelizado num espetáculo de Hollywood. Afinal, a comédia de maneiras pode ter alguns disfarces. Sob o ângulo de Jon Watts é uma observação sobre cumplicidade masculina, um elogio ao efeito “bromance” que se calhar fazia mais sentido nos anos 1990. Por alguma razão, não estamos a ter Wolfs nos cinemas porque há essa impressão que este humor sobre personagens, neste caso, “gajos”, pareça algo datado. Mas é nesse “alure” de velha guarda que este filme tem graça. Tem graça antes de ter piada e isso é tão raro.
Lobos Solitários, com George Clooney e Brad Pitt, mostra dois agentes de limpeza de crimes, daqueles que resolvem cenas de crime, limpam tudo sem deixar pistas e salvam os envolvidos nos sarilhos. São solitários e desta vez são obrigados a formar dupla. Têm aquelas luvas de plástico e todos os truques de não serem apanhados nas câmaras de vigilância. Claro que os dois ao princípio passam a vida a competir com bocas e piadas de ego, verdadeiramente à boa maneira das comédias“screwball”. Estes dois fixers têm objetivos diferentes, um protege uma procuradora geral após uma noite de sexo com um rapaz com idade para ser seu filho, o outro a administração do hotel onde poderá ter ocorrido um acidente fatal. Para complicar as coisas, há 4 pacotes de cocaína pertencentes à máfia croata e a albanesa, associados a um suposto cadáver…
Entre a sofisticação dos modelos da comédia de ação e a vénia ou reciclagem do Rat Pack (com direito a uma homenagem hilariante a Frank Sinatra), Jon Watts está também a manter viva a crença que pode haver um humor saudável apenas criado pela química de uma dupla, neste caso dois ícones, Clooney e Pitt. A prova que as verdadeiras estrelas de Hollywood podem provocar uma reação absolutamente envolvente. O timing do humor deles não se inventa, tem-se - percebeu-se isso quando ambos dançaram Sade no genérico final quando o filme foi ovacionado na Mostra de Veneza há umas semanas.…
E se é verdade que é uma comédia sobre masculinidade nada tóxica, filmada por um cineasta com veludo na câmara, não é menos verdade que a sua vibração mais reconhecível passe por Nova Iorque Fora de Horas, de Martin Scorsese. É porque também se passa em Nova Iorque fora de horas e porque tudo aqui acaba por ser imprevisível.