"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Autobiografia de Jesus

No novo romance de Miguel Real, original e inventivo, é o Filho de Deus que nos fala daquilo de que os Envagelhos não falam: a sua vida familiar, a sua aprendizagem, as suas revelações, a sua conduta com as mulheres e, sobretudo, a sua tremenda solidão.

Para o autor do presente livro, Jesus é uma coisa e Cristo é outra. Quando em pequeno, numa aula da catequese, Miguel Real explicou ao catequista que não acreditava que ninguém que tivesse morrido pudesse voltar à vida, este, amigo da família, ficou tão chocado com aquela sinceridade que foi queixar-se à sua mãe, de quem recebeu a resposta que merecia.

Foi desde então que o problema da Ressurreição não mais deixou de preocupar o escritor e, tantos anos volvidos, o levou a escrever esta Autobiografia de Jesus tomando a voz do Filho de Deus, já que nada se conhece que Jesus tenha deixado escrito pela sua mão e os Evangelhos praticamente não falam do que foi a sua vida familiar, a sua aprendizagem, as suas revelações, a sua conduta com as mulheres e, sobretudo, a sua tremenda solidão.

É sobre tudo isso que trata este romance há muito esperado, de um autor frequentemente atraído pelos assuntos religiosos e com várias obras ensaísticas publicadas em torno do pecado, da Igreja e do culto de Fátima. Com um final incrivelmente inesperado, parece que aquele nó cego criado na mente do autor durante a infância vai certamente ser desatado durante a nossa leitura.

«Trago um mistério comigo, o meu rosto nunca sorri, mesmo quando Madalena brinca comigo à beira d’água, lavando-me a cabeça com óleo de tâmara, ou quando, há muitos anos, os meus irmãos mais novos faziam pirraças montados no lombo das ovelhas ou das cabras. A gravidade e a sisudez são o meu porte, antes de agir penso duas, três vezes, criando alternativas no interior da missão que o Pai me destinou, sou sério como o era o meu pai José. Quando estou só, penso em fugir e ir para outro lado que, depois, se revelará tão bom e tão mau como o sítio onde me encontro. Gosto de estar sozinho, de me isolar, mas isolado nada posso fazer, sobretudo a missão de que o Pai me incumbiu. Estou sempre só, embora as multidões se acotovelem à minha volta, ansiando por prodígios.» 


Miguel Real possui uma vasta obra dividida entre o ensaio, a ficção e o teatro (neste último género sempre em colaboração com Filomena Oliveira), tendo recebido o Prémio de Revelação nas áreas da Ficção e do Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Ler/Círculo de Leitores, o Prémio da Associação dos Críticos Literários, o Prémio Literário Fernando Namora, atribuído ao romance A Voz da Terra, também finalista do Prémio de Romance e Novela da APE, e o Prémio SPA Autores pelo romance O Feitiço da Índia.

É colaborador permanente do JL, onde faz crítica literária.

Faz parte da equipa que prepara neste momento uma História Global da Literatura Portuguesa.
Em 2023, recebeu o primeiro Prémio Matriz Portuguesa dedicado a autores que, com qualidade, escrevem sobre temas nacionais.

Na Dom Quixote, publicou os romances As Memórias Secretas da Rainha D. AméliaA Guerra dos MascatesO Feitiço da ÍndiaA Cidade do FimO Último Europeu e Cadáveres às Costas, e reeditou A Voz da Terra e O Último Minuto na Vida de S., tendo ainda publicado os ensaios Nova Teoria do MalNova Teoria da FelicidadePortugal – Um país parado no meio do caminhoNova Teoria do SebastianismoNova Teoria do PecadoFátima e a Cultura Portuguesa e Pessoa & Saramago.

Literatura Lusófona
300 páginas
18,80 Euros
ISBN: 978-972-20-8362-1
1.ª Edição: setembro 2024
Dom Quixote | Leya

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