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Achados arqueológicos inéditos revelam vivências secretas dos frades do Convento dos Capuchos

Novo núcleo museológico expõe objetos que surpreenderam os arqueólogos, como cachimbos e peças de jogo.

Convento dos Capuchos - Núcleo Museológico © PSML / José Marques Silva Convento dos Capuchos - Núcleo Museológico © PSML / José Marques Silva Faiança decorada no Núcleo Museológico do Convento dos Capuchos © PSML / José Marques Silva Cachimbos no Núcleo Museológico do Convento dos Capuchos © PSML / José Marques Silva Peças de jogo no Núcleo Museológico do Convento dos Capuchos © PSML / José Marques Silva Relógio de Sol no Núcleo Museológico do Convento dos Capuchos © PSML / José Marques Silva Escultura do “Senhor dos Passos” regressa à Capela da Paixão © PSML / José Marques Silva

 

Pela primeira vez, estão em exposição, no novo núcleo museológico do Convento dos Capuchos, instalado no espaço do antigo Celeiro, achados arqueológicos que permitem compreender melhor as vivências dos frades franciscanos que habitaram esta casa conventual durante mais de três séculos, incluindo as que gostariam de ter mantido em segredo. A extensa investigação histórica e arqueológica, realizada desde 2011 no âmbito do projeto global de conservação, restauro e requalificação do monumento, trouxe à luz objetos que surpreenderam as equipas da Parques de Sintra, como cachimbos e peças de jogo. Peças que revelam comportamentos transgressores face aos rígidos estatutos da Ordem e que são o reflexo tanto da evolução do próprio modo de vida franciscano, como dos paradoxos inerentes à dimensão humana dos frades.

A dualidade presente nos espaços do Convento dos Capuchos e na vida da comunidade que o habitou é o mote deste núcleo museológico: o espírito e o corpo; o divino e o humano; o bem e o mal; a luz e a sombra; a observância e a transgressão. O conceito expositivo assenta, assim, na contradição entre o que dizem os austeros Estatutos da Província da Arrábida, que regiam a vida nesta casa conventual, e a realidade que os objetos exibidos deixam antever.

Apesar de os estatutos da Ordem referirem claramente a proibição de fumar, sabemos, agora, que possuíam, por exemplo, cachimbos em caulino, do século XVII, de proveniência holandesa. Peças de jogo, um prato de fazer a barba, louças de barro e faianças decoradas – como um jarro com a inscrição "Cintra" e um fragmento de uma tacinha onde se lê "Capuchos" – são outros objetos “proibidos” que permitem compreender que ao longo dos séculos, a comunidade foi deixando de ser tão restrita, por força da sua condição humana. Ao todo, a exposição inclui cerca de 70 peças, provenientes da investigação arqueológica e do acervo do Convento dos Capuchos, em reserva desde o ano 2000.

Escultura do “Senhor dos Passos” regressa à Capela da Paixão

As novidades no Convento dos Capuchos não ficam por aqui. A "imagem de vestir" ou "figura de roca" do “Senhor dos Passos”, em reserva desde 2006, está de volta à Capela da Paixão, após uma intervenção de restauro, que consistiu na remoção de repintes e no preenchimento de lacunas do suporte em madeira.

Trata-se de uma peça articulada representando Jesus Cristo a caminho do Calvário, cuja autoria se desconhece. A escultura é um testemunho das representações artísticas típicas do século XVIII, época profundamente marcada pelo fervor religioso. Recorrendo a detalhes realistas, a expressões emotivas e a uma narrativa cuidadosamente elaborada, evoca a Paixão de Cristo e o seu objetivo é proporcionar uma experiência espiritual envolvente. O seu regresso à Capela da Paixão permite uma melhor interpretação do espaço.

O Convento dos Capuchos ou Convento da Cortiça foi fundado em 1560 por D. Álvaro de Castro, conselheiro de Estado de D. Sebastião, com o nome de Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra. É notável pela extrema pobreza da sua construção, que materializa o ideal da Ordem de São Francisco de Assis, e pelo uso extensivo da cortiça na proteção e decoração dos seus pequenos espaços. O edifício funde-se com a natureza e incorpora na construção enormes fragas de granito.

Abandonado em 1834, com a extinção das ordens religiosas que o regime liberal determinou, foi adquirido pelo Conde de Penamacor e, mais tarde, por Francis Cook. Em 1949, tornou-se propriedade do Estado português.

Integrando a Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 1995, o Convento dos Capuchos e a sua envolvente estão sob a gestão da Parques de Sintra desde 2000.

Em 2013, a empresa iniciou um complexo processo de conservação, restauro e requalificação deste monumento, que foi vencedor de um Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra na categoria Conservação e Reutilização Adaptativa em 2022. Envolvendo uma equipa multidisciplinar, o projeto incidiu na recuperação do conjunto edificado, de todos os elementos construídos e decorativos e aposta na experiência da visita, potenciada por novas valências, como o novo núcleo museológico.

O Convento dos Capuchos está aberto todos os dias, entre a 9h00 e as 17h30 (último bilhete e última entrada às 17h00). O bilhete de entrada no monumento dá acesso a todos os espaços que o compõem, incluindo o novo núcleo museológico.  

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