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Dois livros e um conjunto de iniciativas para celebrar centenário de James Baldwin

No centenário do escritor e ativista James Baldwin, a editora Alfaguara publica o livro de ensaios “Notas de um filho da terra”, o romance “Another country” e prepara iniciativas para celebrar a data.

Romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano, James Baldwin, negro e homossexual assumido, nasceu em Nova Iorque em 02 de agosto de 1924 e desde cedo se bateu contra o racismo e a discriminação social, em nome da defesa dos direitos dos negros e dos homossexuais.

Esta luta travou-a na vida e na escrita, tendo publicado, até à morte, em 1 de dezembro de 1987, mais de 20 livros, entre ensaios, romances, contos, poemas e peças de teatro.

James Baldwin é este ano “o maior destaque” do catálogo da Alfaguara, que publicou em junho um “manifesto incontornável” do autor, "Notas de um Filho da Terra", e vai publicar em outubro o romance "Another Country", revelou à Lusa a editora Madalena Alfaia.

"Another Country", de 1962, um dos seus ‘romances-chave’, nunca foi traduzido em Portugal. A obra ousou abordar perspetivas tabu à época, das relações interraciais à bissexualidade, sem esquecer a segregação racial ainda em prática em Nova Iorque, um ano antes da Marcha sobre Washington e do discurso de Martin Luther King "I have a dream".

A Alfaguara está a preparar também um conjunto de iniciativas, provavelmente concentradas numa de maior dimensão, mas sobre as quais “ainda é prematuro falar”.

“Já fizemos algumas tentativas, mas esbarrámos com alguns ‘nãos’ durante o primeiro semestre, porque quisemos fazer uma coisa mais digna e associar-nos a algumas instituições, por exemplo, fazer uma parceria, mas não tivemos ainda grande sucesso”, contou a editora.

Segundo a responsável, a justificação para as recusas não tem uma razão muito forte por trás, além de um "certo desinteresse" por uma figura que não é muito conhecida, por falta de espaço ou falta de orçamento.

“Baldwin não tem aqui o impacto que tem noutros países onde está a ser celebrado e nós queríamos dar-lhe um bocadinho de destaque, pelo tamanho do vulto que é, não só enquanto escritor, mas enquanto ativista”.

Madalena Alfaia sublinha que há um “conjunto mesmo muito impressionante de iniciativas pelo mundo inteiro, como é o caso dos “Estados Unidos, onde, claro, é massivo”, mas também no Reino Unido, que vai ter iniciativas diversas da BBC, envolvendo documentários, entrevistas, leituras e palestras.

Também França e Turquia, países onde James Baldwin viveu, estão a preparar uma programação específica.

“Agora tivemos uma outra ideia e já apresentámos, e temos expectativa de que consigamos chegar a algum lado desta vez”, adiantou, considerando que, ainda que o ativista norte-americano não tenha em Portugal a projeção que tem noutros países, os tempos que se vivem deveriam ser justificação suficiente para se falar nele.

“Face a todos os extremismos e a tudo o que está a acontecer, é importante lembrar uma figura como Baldwin, um homem negro, homossexual, ativista pelos direitos humanos, que condensava à sua volta uma série de valências e de simbolismos, que ainda hoje, quase 40 anos depois da sua morte, continuam a ser tão relevantes”, afirmou, justificando a razão por que serão publicados no mesmo ano dois livros do mesmo autor, coisa que a Alfaguara nunca faz.

“Notas de um filho da terra” é uma “jornada de autodescoberta, declaração de independência individual, afirmação da condição de escritor, e um incontornável testemunho sobre pertença, segregação, fé e liberdade”, segundo a editora.

A matéria-prima desta coleção de ensaios é a própria vida de James Baldwin e aquele que foi o momento-chave da sua formação como escritor: o reconhecimento de que as suas raízes estavam em África e que nenhuma das referências culturais que o rodeavam - Shakespeare, Bach ou Rembrandt - podia oferecer-lhe um espelho onde observar e pensar a sua herança.

Escritos nos anos de 1940 e 1950, estes textos refletem sobre a negritude, no alvorecer do movimento dos direitos civis, e as complexas circunstâncias de se ser negro nos Estados Unidos, compondo o retrato de um país em ebulição, mas equilibrando a crítica feroz à injustiça e a compreensão oferecida aos agressores.

O romance “Another Country”, uma história ambientada em Nova Iorque nas décadas de 1950 e 1960, começa com a história de Rufus Scott, um jovem músico negro de jazz em luta com a pobreza, o racismo e a sua própria autodestruição, que explora temas como raça, género, sexualidade e identidade.

Após um relacionamento tumultuoso com uma mulher branca, suicida-se e o impacto da sua morte reverbera entre amigos e conhecidos. A narrativa destaca as tensões sociais e pessoais que emergem dessas interações.

A Alfaguara encetou a edição sistematizada de Baldwin em Portugal após a estreia do documentário "Eu Não Sou o Teu Negro", de Raoul Peck, com base na obra do escritor.

Desde então publicou os romances “Se esta rua falasse” (2018), “Se o disseres na montanha” (2019), “O quarto de Giovanni” (2020) e o livro de ensaios “Da próxima vez, o fogo” (2023).

Do autor, em Portugal, havia o depoimento sobre a "Explosão negra do Verão de 1967", publicado nesse mesmo ano pela D. Quixote, no volume de ensaios "A Revolta dos Negros Americanos".


Fonte: LUSA | 15 de julho de 2024

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