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Cravista Ana Mafalda Castro volta a gravar a solo

A cravista Ana Mafalda Castro voltou a gravar, a solo, cerca de 30 anos depois do seu primeiro disco, no âmbito da  Integral das "Flores de Musica", de Rodrigues Coelho, sob a direção artística do organista João Vaz, com produção de Tiago da Hora.

A série fonográfica será constituída por seis CD com os músicos João Vaz, Sérgio Silva e André Ferreira, em órgão, Miguel Jalôto e Ana Mafalda Castro, em cravo, Marco Brescia, em clavicórdio, e Maria Bayley, em harpa, e ficará totalmente disponível no final do próximo ano, disse Tiago da Hora.

O primeiro CD foi editado  em 2022, e inclui obras litúrgicas, tendo sido gravado pelo organista Sérgio Silva, no órgão histórico da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Elvas, naquela que foi a primeira vez que se gravou neste órgão de 1762, restaurado em 2016.

O CD de Ana Mafalda Castro, “Tentos e Susanas”, é o terceiro volume da série, e sucede ao do organista André Ferreira com o ensemble Ars Lusitana. Este CD foi gravado no órgão da Igreja de N. S. da Encarnação, em Mafra, um órgão, da segunda metade do século XVIII,  construído por Bento Fontanes, e que foi restaurado em 2004.

Ana Mafalda Castro gravou sete “tentos” e uma “Susana”, na igreja de St.º André, em Mafra.

"Os 'tentos', que são um repertório mais representativo da escrita de Rodrigues Coelho para tecla, um tipo de peças de caráter relarivamente livro, típíco da Penúinsula Ibérica", explicou Tiago da Hora.

Em declarações a cravista afirmou que gostou muito de preparar esta gravação, tendo tocado um outro “tento”, que o anteriormente gravado por si, e voltou à “Susana”.

Como explicou Tiago da Hora, “Susana” são um conjunto de composições às quais Rodrigues Coelho se referiu como “glosas” a partir de uma canção “muito popular na época”, “Susanne en Jour”, do compositor belga Orlando di Lasso (1532-1594).

Ana Mafalda Castro tinha já incluído esta “Susana” no seu primeiro CD a solo, “Música Portuguesa para Tecla. Séculos XVI e XVII”.

Não tendo gravado a solo desde então, porque “houve projetos que não se concretizaram”, mas participou em gravações com vários ensembles e fez parte de um álbum da Festa da Música.

“Acho importantíssimo gravar a integral de Manuel Rodrigues Coelho, um dos grandes compositores portugueses”, disse Ana Mafalda Castro, referindo  que o seu repertório é “denso, de polifónico, e corresponde a uma certa época [o Renascimento], e neste CD, os ‘tentos’ são todos tocados de seguida, o que não aconteceria na época [do compositor], em que se tocava um, e depois outro”.

Quando gravou Ana Mafalda Castro disse que teve “sempre na ideia procurar  em cada ‘tento’ algo que no fundo” chama “a ‘alma’ do ‘tento’, algo específico que seja só daquele ‘tento’”.

Para a cravista gravar este CD foi “um desafio” que gostou muito, até porque foi de reportório que “não era distante” de si.

João Vaz  disse que o facto de esta ser a primeira gravação integral da obra de Manuel Rodrigues Coelho pode vir a despertar o interesse das editoras internacionais, “estando a ser levadas a cabo diligências nesse sentido”.

Manuel Rodrigues Coelho (1555-1635) nasceu em Elvas e recebeu, provavelmente, os seus primeiros ensinamentos musicais na Catedral da cidade alto-alentejana. Trabalhou na Catedral de Badajoz, em Espanha, de 1573 a 1577 e, mais tarde, em Elvas. Em 1602 deixou Elvas para se tornar organista em Lisboa, onde morreu em 1635.

Toda a obra conhecida do compositor está preservada no volume “Flores de musica pera o instrumento de tecla & harpa”, impresso em Lisboa em 1620, por Pedro Craesbeeck.

Esta obra, com mais de 500 páginas, foi dedicada a Filipe II de Portugal (Filipe III de Espanha) e “é a mais antiga partitura impressa em Portugal”, lembrou à Lusa João Vaz, que sustentou ser “esta coleção, provavelmente, uma compilação de material produzido ao longo de toda a vida do compositor”.

Na opinião do organista titular de S. Vicente de Fora, esta obra só é ”comparável à da ‘Facultad Organica’, de Correa de Arauxo (1626), ou às ‘Fiori Musicali’, de Girolamo Frescobaldi (1635)".

Os organistas João Vaz, Sérgio Silva e André Ferreira decidiram levar a cabo uma nova edição da obra, no âmbito da ECHOM (ECHO Collection of Historical Organ Music), cujos volumes foram publicados entre 2019 e 2020, ano em que se assinalou o quarto centenário da edição original.

A única edição completa existente, preparada por Macario Santiago Kastner (1908-1992), foi publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian entre 1959 e 1961, e encontra-se “esgotada há bastante tempo”.


Fonte: LUSA | 4 de julho de 2024

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