Publicações
"O Bom Governo": A ironia distópica de Ernesto Rodrigues
Depois de no ano passado ter reinventado o romance-reportagem com Liliputine, uma originalíssima forma de repudiar Vladimir Putin, «o ditador da federação russa», Ernesto Rodrigues, Prémio PEN, em 2016, convida-nos agora a conhecermos O Bom Governo, uma distopia que colocará em causa todos os valores que constituem uma sociedade democrática.
No seu novo livro, O Bom Governo, Ernesto Rodrigues convida-nos a acompanhar os passos de um governo de cem ministros que trabalha de noite e se levanta às vinte horas para ouvir o primeiro-ministro no telejornal, que os cidadãos não vêem. Neste governo, cada gabinete tem cem funcionários, que não podem ser mais altos do que o seu ministro, e tutelam as pastas dos Negócios Estranhos, da Propaganda, do Betão, da Apneia, dos Equídeos, das Boas Intenções, entre outras, enquanto vendem a província ao estrangeiro.
De entre estes gabinetes deste Bom Governo, sobressai o da Alta Cultura ou do Verniz, octogésimo no elenco, que compensa a humilhação do lugar ao pentear-se e vestir-se vincadamente e ao levar, em cada inauguração, uma assistente mais nova do que a anterior, até estas parecerem suas bisnetas.
Após 50 anos de sono e ignorância, haverá novo primeiro-ministro, ajudado pelo narrador, que, no incumprimento de promessas, se afasta, antes de chefiar um executivo sóbrio, que visa ser o melhor governo, o qual, segundo Goethe, é aquele «que nos ensina a governarmo-nos a nós próprios.»
Uma leitura que levará os leitores a refletirem sobre estes nossos tempos estranhos. Esta é uma edição Guerra e Paz incluída na coleção «Arquipélago», território de sombrias intuições e de vivos e agudos instintos.
O Bom Governo
Ernesto Rodrigues
Ficção / Romance
120 páginas · 15x23 · 15,00 €