O rugido que se fez ouvir em 1994 ainda mexe connosco. A 24 de junho desse ano, a Disney apresentava ao mundo um absoluto original de animação dos estúdios, uma história que iria tocar profundamente os espectadores pela sua dimensão humana... ainda que não haja sombra da presença do homem em nenhum momento. Ao contrário de Bambi (1942) – o outro clássico da Disney que aterrorizou e comoveu gerações, centrando-se nos animais da floresta, mas evidenciando a maldade do homem pelas consequências dramáticas das suas ações –, O Rei Leão reserva a narrativa às atribulações do mundo animal, que em tudo partilha semelhanças com a humanidade, ou não fosse filosofia do próprio Walt Disney (1901-1966) que se dotasse os desenhos de animais com características humanas, não necessariamente antropomórficas. “Quando criamos fantasias não podemos perder de vista a realidade”, dizia ele.
Respeitando essa norma de conduta de Disney (que inclusive, no seu tempo, costumava enviar desenhadores aos jardins zoológicos, para observarem a fauna durante horas, com o objetivo de alcançar a autenticidade dos detalhes físicos das personagens), os criadores de O Rei Leão também procuraram trazer o máximo de “realidade” para a conceção do filme. O que implicou, por exemplo, uma viagem de alguns dos animadores ao Quénia, mais especificamente ao Parque Nacional Hell’s Gate, onde encontraram inspiração, desde logo, para as paisagens – à exceção da famosa Pedra do Rei (Pride Rock), desenhada por um artista em Burbank. Isto sem esquecer que, para além das fotografias e materiais de investigação trazidos de África, os zoos de San Diego e Miami ofereceram ajuda aos trabalhos, levando animais para os estúdios, leões incluídos, de maneira que pudessem ser estudados laboratorialmente nos seus movimentos...
Tudo isto para dizer: hoje em dia seria concebível tal esforço de pesquisa? Ou sequer uma equipa de mais de 600 animadores, artistas e técnicos, num processo exaustivo de pintura manual? Já não se labora a animação nestes termos. De resto, e só para fechar o capítulo fundamental da produção em si, que começou por se chamar King of the Jungle (“Rei da Selva”), importa referir que o primeiro realizador designado para o projeto, George Scribner, abandonou o barco quando a decisão artística de fazer um musical se sobrepôs à hipótese de uma espécie de filme National Geographic animado (o que seria!). Ficaram então no comando os realizadores Roger Allers e Rob Minkoff, juntamente com o produtor Don Hahn, orgulhosos de terem dado oportunidade a muitos jovens animadores – já que os principais estavam ocupados com a Pocahontas – formando uma equipa que se assumiu como “um círculo tranquilo, inclusivo e criativo”, segundo Allers, onde “todos foram ouvidos”.
Simba com o malvado tio Scar.
O fenómeno