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Programa do V centenário do nascimento de Camões prolonga-se por dois anos
O autor de "Os Lusíadas" vai ser evocado em museus, galerias, bibliotecas escolares, universidades e teatros.
As comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões vão prolongar-se durante dois anos, a partir do dia 10 de junho de 2014 e até ao dia 10 de junho de 2026.
O anúncio foi feito pela ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, esta quarta-feira, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde disse que “o alargamento do prazo, mais um ano do que o previsto, tem a finalidade de permitir ultrapassar a pesada herança deixada pelo anterior Governo”.
Dalila Rodrigues criticou o anterior Executivo ao referir "a ausência de programação e de orçamento destinado ao V Centenário do Nascimento de Luís de Camões, cujo calendário seria de 12 de março (ou 10 de junho) de 2024 a 10 de junho de 2025".
A governante explicou que "foi revogada a anterior estrutura de missão e criada uma nova, mais ampla, alargada ao Ministério da Educação, e com diversos especialistas, reputados camonianos, incluindo comissariado geral e curatorial, assim como diretor executivo”.
Na sua apresentação, Dalila Rodrigues adiantou que “as linhas de programação correspondem a três âmbitos essenciais: uma de natureza cívica e cultural, outra centrada no estudo e na crítica científica, um uma terceira linha, a de âmbito educativo”. A ministra exemplificou com o envolvimento de museus, galerias, bibliotecas escolares, universidades ou teatros.
"O Ministério da Cultura, além de tutelar diretamente este ciclo comemorativo, garante atividades em diversas instituições e serviços integrados, como a Museus e Monumentos (de Portugal), a Direção-Geral das Artes, a Direção-Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas e o Opart [Organismo de Produção Artística que gere o Teatro Nacional de S. Carlos, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Companhia Nacional de Bailado”, sublinhou.
Será dada particular atenção à influência camoniana na literatura, na arte e na cultura em geral.
A ministra destacou ainda três iniciativas a cargo da Biblioteca Nacional de Portugal, designadamente a disponibilização, segundo um plano classificativo e com instrumentos de busca de uma 'Camoneana Digital', a organização de uma grande exposição e um ciclo de conferências que culminará com um colóquio em maio de 2026 e a apresentação de uma série de estudos e publicações.
“A este núcleo de atividades centradas na Biblioteca Nacional, somar-se-ão muitas outras iniciativas", acrescentou, frisando também a importância do trabalho a ser desenvolvido pelas autarquias, organizações, empresas e associações profissionais, tendo especificado as associações de professores de História e de Português.
Camões, o refundador da língua portuguesa
As celebrações camonianas contam também com a colaboração do Ministério dos Negócios Estrangeiros, através da sua rede diplomática e consular e do Instituto Camões.
Na mesma cerimónia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, declarou que “Camões, verdadeiramente, foi o refundador da língua portuguesa”, considerando que há uma língua portuguesa antes de Camões e outra depois.
“Temos um conhecimento de um território global, porque ele foi um viajante. Nomeadamente os 17 anos que esteve entre 1553 e 1570, no caminho para a Índia e depois em Moçambique e na China, acumulou um conhecimento da Geografia absolutamente excecional.
Os Lusíadas foram escritos provavelmente nesses 17 anos. (…) Se pensarmos que, não tinha uma biblioteca, nem sequer o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde supostamente terá adquirido esse conhecimento exponencial, como é que é possível escrever, de memória, todo este conhecimento? Isto é uma coisa absolutamente inabarcável para um ser humano”, destacou.
Paulo Rangel assumiu-se ainda particularmente curioso com o contributo que as novas tecnologias podem vir a dar à obra do poeta.
“Uma das coisas que aguardo com expetativa é a influência da Inteligência Artificial na releitura de Camões. Acho que vamos descobrir muita coisa quando tivermos esse instrumento ao serviço da análise filológica, literária e ideológica de Camões”, afirmou.
“No dia do primeiro Conselho de Ministros, ainda não se pensava em dar um nome ao aeroporto e já se tinha pensado que esta cerimónia tinha de decorrer aqui, na semana anterior ao 10 de junho”, disse.
Levar poesia aos jovens
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, considerou que Camões é a essência livre da alma portuguesa”, destacando também a riqueza do legado de uma das maiores figuras da literatura lusófona.
"Nós não queremos celebrá-lo de um modo passadista ou saudosista, como também não queremos modernizá-lo em termos anacrónicas ou falsificadores da verdade histórica, da verdade histórica de Luís de Camões. Pretendemos antes, isso sim, situá-lo no espaço e no tempo que foram os seus", declarou.
O líder do Governo afirmou que dos objetivos é celebrar o programa de comemorações junto dos jovens. "A melhor forma de celebrar Camões continua a ser divulgar e conhecer a sua obra, que as suas palavras façam eco nos corações dos jovens e que lhes despertem novas significações, novos mundos, mesmo novas interpretações. Que os versos de Camões façam sentido, 500 anos depois", rematou.
A assistir à cerimónia esteve uma das alunas da Escola Portuguesa de Dili, em Timor-Leste, que foi distinguida pelo trabalho que apresentou no âmbito do Plano Nacional das Artes em parceria com o jornal Público.
Maria Guterres lembrou que a língua portuguesa não conhece fronteiras.
“Prova-se que a escola portuguesa realmente prepara os seus alunos para algo fora da escola, algo maior. É também para mostrar que os timorenses conseguem alcançar o que eu consegui e terem mais oportunidades. Infelizmente o português está-se a perder em Timor, mas eu acredito que a geração futura e os alunos da escola portuguesa possam realmente levar a língua mais para a frente, e desenvolvê-la”, afirmou.
Ao lado, a professora Flor Gomes, coordenadora do Plano Curricular de Escola associado ao Plano Nacional das Artes, assegurou que as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luis de Camões “vão ser intensamente vividas”, também em Dili.
O programa de comemorações dos 500 anos do nascimento do poeta arranca na próxima segunda-feira, 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
por Marisa Gonçalves in Renascença | 6 de junho de 2024
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença