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Parte das 219 obras compradas por Berardo ao Estado em exposição no Funchal

Uma mostra que inclui parte das 219 obras adquiridas desde 2007 pelo colecionador José Berardo e o Estado para o museu do colecionador, em Lisboa, entretanto adquiridas pela Associação de Coleções, abriu na quarta-feira no Funchal, Madeira. 

© Museu Monte Palace

A exposição intitula-se “O mundo começa aqui!”, está patente no Museu Monte Palace – Jardim Tropical, no Funchal, com curadoria de Álvaro Silva e Carina Bento.

Carina Bento, co-curadora da exposição, indicou que se trata de “uma mostra temporária de longa duração, com 123 obras em vários suportes, ainda sem data de encerramento, mas que ficará, de certeza, até ao final do ano” no Museu Monte Palace – Jardim Tropical.

Na mostra foi incluído um “conjunto significativo” das 219 obras que a Associação de Coleções, do empresário madeirense José Berardo, adquiriu em outubro de 2023, pagando a parte comparticipada pelo Estado ao longo dos primeiros anos de existência do Museu Coleção Berardo.

No âmbito do acordo firmado em 2006 entre José Berardo e o Estado, para a instalação do museu, no Centro Cultural de Belém, em 2007, com parte da coleção de arte moderna e contemporânea do empresário madeirense, foi criado um fundo de aquisições no qual ambas as partes deviam investir com 500 mil euros anuais.

No acordo, Berardo ficou com o direito de preferência para adquirir as obras compradas com o fundo – pagando a metade ao Estado – dando-se o caso de ser extinta a Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Coleção Berardo (FAMC-CB), criada para gerir o Museu Coleção Berardo.

O anterior Governo decidiu pela extinção da FAMC-CB após as obras de arte terem sido arrestadas, em 2019, na sequência de um processo interposto em tribunal pelo Novo Banco, a Caixa Geral de Depósitos e o BCP, que reclamam uma dívida próxima de mil milhões de euros ao empresário.

“As 219 obras de arte foram incorporadas na Coleção do Museu Monte Palace, que atualmente possui um total de 237 obras de artistas portugueses e estrangeiros”, indicou Carina Bento.

Dessa coleção foram selecionadas 123 – entre pintura, escultura, vídeo, desenho, fotografia e instalação - para a atual exposição “O Mundo começa aqui!”, representando 83 artistas, 21 delas mulheres, como Helena Almeida, Ana Mandieta, Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos, e ainda Ângelo de Sousa e Pedro Cabrita Reis.

Sobre as obras inéditas apresentadas, a curadora apontou trabalhos de Paulo Neves, João Alexandrino Silva (JAS) e Manuela Pimentel, nunca antes expostas ao público, e também podem ser vistas peças de artistas de relevo do século XX como Torres Garcia e Willem de Kooning.

Nesta exposição – que pretende ser “uma homenagem ao colecionador José Berardo” - encontra-se também exposta a obra de grandes dimensões de Joana Vasconcelos “Coração Independente Vermelho”.

A mostra ocupa dois pisos superiores do museu, enquanto o piso térreo apresenta a exposição “Segredos da mãe natureza”, que reúne minerais e pedras preciosas, segundo Carina Bento.

O decreto-lei que extinguiu a FAMC-CB foi publicado a 01 de janeiro de 2023, tendo a gestão do módulo 3 do CCB, que acolhia o Museu Berardo, passado para a Fundação Centro Cultual de Belém, que continua fiel depositária das obras arrestadas ao empresário por determinação judicial.

As 219 obras de arte adquiridas através do fundo de aquisições, previsto no acordo de 2006, foram entregues à Associação de Coleções de José Berardo depois de esta ter transferido para o fundo um montante na casa dos 1,774 milhões de euros, correspondente à diferença entre o valor total de obras compradas (3,776.881,45 euros) e a participação do colecionador nessa compra (2.001.500,00 euros).

Por seu turno, o Estado participou no fundo com dois milhões de euros, e José Berardo acabou por parar a comparticipação acusando, na altura, o Governo, de não cumprir as suas obrigações da contribuição.

O acordo entre José Berardo e o Ministério da Cultura para a manutenção do Museu Coleção Berardo foi denunciado em 2022, depois de a instituição ter funcionado quase 16 anos com parte das exposições baseadas em 862 obras, avaliadas em 316 milhões de euros pela leiloeira Christie's em 2006.

A 27 de outubro passado foi inaugurado o Museu de Arte Contemporânea do CCB, com obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), das coleções Berardo e Teixeira de Freitas, e da Coleção Ellipse, vinda da falência do antigo Banco Privado Português, entretanto integrada na CACE.


Fonte: LUSA | 9 de maio de 2024

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