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Artista brasileira Beatriz Milhazes expõe percurso de quatro décadas no Reino Unido

A artista brasileira Beatriz Milhazes vai apresentar quatro décadas de produção artística numa grande exposição que reflete sobre a relação com o ambiente a inaugurar em 25 de maio na galeria Tate St. Ives, no Reino Unido.

© Manuel Almeida/Lusa

Depois de ter sido presentada na galeria Turner Contemporary, a exposição "Maresias" chegará à Cornualha “reimaginada”, segundo um comunicado da Tate St. Ives relativo àquela colaboração institucional sobre o trabalho da criadora nascida no Rio de Janeiro, em 1960, e considerada "uma das principais artistas abstratas da atualidade".   

A exposição, patente até 29 de setembro, "celebra a evolução da sua abordagem ao longo de quatro décadas, ao mesmo tempo que destaca a natureza como um tema duradouro e cada vez mais importante no seu trabalho", cujo título se refere à brisa salgada do mar que faz parte do quotidiano de Milhazes na cidade costeira do Rio de Janeiro, no Brasil.

"O meu contexto foi cercado por florestas, montanhas e experiências costeiras, originando um desenvolvimento de um modo de pensar 'tropical'. Foi muito especial expor o meu trabalho na Turner Contemporary e agora na Tate St. Ives - sentir o cheiro da brisa salgada do mesmo oceano que o Rio de Janeiro. A mesma água, culturas diferentes, mas no final é tudo sobre a vida", descreve Beatriz Milhazes, citada num comunicado da galeria.

Milhazes "surgiu na década de 1980 como uma figura de destaque no importante movimento artístico brasileiro Geração Oitenta, que se afastou da austera arte conceptual da década anterior, e abraçou a pintura como uma forma de energia e expressão", contextualiza a Tate St. Ives, cuja diretora, Anne Barlow, é a curadora da exposição, em colaboração com Giles Jackson, curador assistente.

Conhecida por criar telas abstratas de grande escala, intensamente coloridas que apresentam contradições energéticas, a artista realiza "composições cuidadosas com aparência de espontaneidade", em que as superfícies lisas escondem pequenos pormenores de fissuras e camadas, que significam a importância da história e da memória no seu processo de pintura.

A exposição conduzirá o espectador através de um percurso da obra de Beatriz Milhazes desde 1989, considerado um momento de rutura pela artista quando, frustrada com o aparecimento de pinceladas, que via como sinais da mão, desenvolveu uma técnica de "monotransferência", na qual pinta os seus próprios motivos em folhas de plástico antes de os transpor para a tela.

Este processo oferece a possibilidade de manter a fidelidade das cores e intensificar os efeitos dos pigmentos fluorescentes e metálicos e permite também “criar uma superfície lisa e desafiante sem perder a qualidade pictórica, a partir da qual pode construir as suas imagens, adaptando o conceito de colagem à sua prática de pintura”.

Pinturas extensas e composições mais densas como “Maresias 2002”, algumas expostas no Pavilhão Brasileiro da 50.ª Bienal de Veneza, mostram como Milhazes “expandiu e refinou a técnica da monotransferência, caracterizada por formas geométricas, linhas arabescas e cores deslumbrantes”.

Nas palavras da artista: "A geometria organiza o meu pensamento e a minha imaginação; tenho-me interessado pela relação entre a natureza e a matemática. O meu processo criativo é muito racional, com uma lógica imaginária, construída sob a forma de equações, pensando na estrutura da natureza e na história da arte".

O trabalho de Beatriz Milhazes é influenciado por múltiplas fontes, incluindo o modernismo brasileiro e europeu, a iconografia católica, a arquitetura colonial barroca e a cultura e herança vernáculas do Brasil, e revela uma relação com a natureza, pelos motivos que escolhe, como flores abstratas, oceanos, árvores, plantas, sóis e estrelas.


Fonte: LUSA | 12 de março de 2024

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