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Uma peça sobre a identidade e morte
Pela primeira vez encenada em Portugal, A Senhora de Dubuque do dramaturgo norte-americano Edward Albee está no palco do Trindade, em Lisboa, até 21 de abril.
O dramaturgo Edward Albee (1928/2016) começou a escrever a peça A Senhora de Dubuque no final dos anos 1960 e terminou-a cerca de dez anos depois. Pelo meio viu morrer duas pessoas que o marcaram: a avó, e o companheiro - que também era seu mentor. E isso marcou aquilo que escreveu e que está em palco na sala Carmen Dolores, no Teatro da Trindade, em Lisboa. A peça começa com três casais a jogar às 20 questões, em casa de Jo e Sam. Apesar da tensão criada pelo jogo, e pelo álcool, o grupo parece estável e divertido. Contudo, isso altera-se e a animosidade surge e as boas maneiras vão-se esvanecendo. Até que aparece inesperadamente um novo casal, uma mulher elegante, de vestido preto, e um homem sofisticado, e isso expõe ainda mais o potencial destrutivo do grupo.
Apenas a anfitriã cria uma relação empática com a enigmática mulher. A pergunta inicial coloca-se: será a sua mão ou um anjo da morte? Este é o ponto de partida da peça que estreou em 1980 na Broadway.
Uma das peças malditas de Edward Albee, que também escreveu Quem tem Medo de Virgínia Woolf, como explicou em conversa o encenador, e também ator na peça, Álvaro Correia, “começou a escrevê-la no final dos anos 1960 e terminou no final dos anos 1970, início da década de 80”. O encenador recorda que este foi um período conturbado nos Estados Unidos com Nixon na presidência, a guerra no Vietname e o caso Watergate, e isso sente-se esporadicamente na peça. Álvaro Correia sublinha ainda uma característica desta peça, a forma como as personagens, oito no total, falam para o público, “como se fosse necessária uma nona personagem, o público como cúmplice”.
A escolha de Albee
Álvaro Correia, Cucha Cavaleiro e Manuela Couto queriam voltar a trabalhar juntos, no passado faziam-no com frequência no Teatro da Comuna. Essa vontade levou-os a Edward Albee e a proporem a Diogo Infante, diretor artístico do Teatro da Trindade, que a incluiu no programa desta temporada. Manuela Couto, ao DN, justificou a escolha, “é um autor de exceção, de que gostamos muito e esta peça nunca tinha sido representada em Portugal”, explica a atriz, que interpreta o papel de Jo.
Esta personagem foi das mais difíceis que já fez, conta, “foi extremamente difícil, pelo sítio em que a personagem está. Ela está a morrer e acaba por morrer fora de cena, que é um dos elementos das tragédias. Aliás, este texto tem vários elementos das tragédias”.
Questionada sobre a mensagem que fica no final da peça, a atriz acredita que cada pessoa sairá com o que já leva quando entra na sala. “A peça é muito divertida e as pessoas terão as suas reflexões consoante os momentos que estão a passar. Mas é também muito uma reflexão sobre a vida. A determinada altura, a grande questão é, quem sou eu?”. E dá exemplos, “o jogo que as personagens fazem no início da peça é sobre isso: quem sou eu? E, no limite, a grande questão da peça é essa”. A morte também está muito presente. “Albee teve um período de luto muito complicado. A história é contada na perspetiva de Sam (interpretado por Fernando Luís) e é ele que nos relata os acontecimentos, é ele que trata da mulher e que tem o encontro com o casal misterioso. E é ele que, até ao final, não consegue responder à questão sobre quem é.
O elenco conta com Alberto Magassela, Álvaro Correia, Benedita Pereira, Renato Godinho e Sandra Faleiro e os já mencionados Cucha Carvalheiro, Fernando Luís e Manuela Couto. A peça estará em cena até 21 de abril.