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Escritora mexicana Fernanda Melchor é a vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa
O livro “Temporada de Furacões” foi escolhido pelo júri do Festival que destaca no romance “o lado mais sombrio da natureza humana, numa comunidade dominada pela violência mais extrema e pela luta entre cartéis de droga”.
O livro “Temporada de Furacões” (ed. Elsinore) da escritora mexicana Fernanda Melchor é o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito da 25ª edição do Festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. O anúncio foi feito esta quarta-feira na cerimónia de abertura do festival, no Casino da Póvoa. O prémio tem o valor de 25 mil euros.
Segundo o júri, que escolheu por unanimidade, “o romance destaca o lado mais sombrio da natureza humana, numa comunidade dominada pela violência mais extrema e pela luta entre cartéis de droga”. Multipremiado, o livro relava uma escritora considera uma das novas vozes da literatura sul-americana.
“Com uma escrita torrencial marcada pela coloquialidade, a escritora dá corpo a uma narrativa polifónica que exacerba a existência de personagens, elas próprias restos na periferia da periferia. Tudo isto conduz o leitor a uma experiência de vertigem, isenta de qualquer tentação moralista”, refere a declaração de voto do júri.
Traduzido por Cristina Rodriguez e Artur Guerra, o romance policial que traça um retrato do México sem lei foi também aclamado pela crítica internacional e mereceu a escolha do júri português constituído pela académica Ana Gabriela Macedo, a jornalista Isabel Lucas, a ex ministra da cultura Isabel Pires de Lima, o editor Carlos Vaz Marques, e o escritor e tradutor José Mário Silva.
“Tempora de Furacões” já foi finalista de prémios internacionais como o International Booker Prize e foi nomeado para o National Book Award. Nascida em 1982, em Veracruz, no México, Fernanda Melchor estudou jornalismo na Universidad Veracruzana. É autora de contos e três romances e é, atualmente professora de estética e arte na Benemérita Universidad Autónoma de Puebla.
Na lista de finalistas, num ano em que o prémio vai para a prosa estavam também os livros “A História de Roma” (ed.Caminho), de Joana Bértholo; “A Vida Airada de Dom Perdigote” (ed.Casa das Letras), de Paulo Moreiras; “Apoteose dos Mártires” (ed.D.Quixote), de Mário Cláudio; “As doenças do Brasil” (ed.Porto Editora), de Valter Hugo Mãe, “Ferry” (ed. Relogio D’Água), de Djaimilia Pereira de Almeida; “Limpa”, (ed. Elsinore) de Alia Trabucco Zerán; “Montevideu” (ed. D. Quixote), de Enrique Vila-Matas; “Caçador de Elefantes Invisíveis” (ed. Caminho), de Mia Couto; “Poeta chileno” (ed.Elsinore), de Alejandro Zambra; “Quando Éramos Peixes” (ed. Companhia das Letras), de José Gardeazabal; “Suíte Tóquio” (ed. Tinta da China), de Giovana Madalosso e “Um Cão no Meio do Caminho (ed. Caminho), de Isabela Figueiredo.
Outros prémios das Correntes em ano de aniversário
No ano em que o festival literário, organizado pela autarquia da Póvoa de Varzim completa 25 anos, foram também atribuídos mais três prémios. O texto “O Piano” de Carlos Cortez Fonseca Matos foi o vencedor, por unanimidade, do Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus 2023.
Já o Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas 2024 foi atribuído, por unanimidade, ao texto “Porque sa Neblina Não Caem Lágrimas” de Gisela Cristina Ribeiro da Silva, natural de Braga que reside na Póvoa de Varzim, a terra que referiu a “adoptou”.
O Prémio Luís Sepúlveda para o Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora distinguiu tês turmas. O primeiro lugar foi para o conto “Vitória, vitória…” do 4º ano da Escola Básica José Manuel Durão Barroso, de Armamar. O segundo prémio foi para o conto “O segredo do Leão” do 4º ano da Escola Básica de Rates, da Póvoa de Varzim. Já o terceiro lugar foi para o conto “O Vizinho da Horta” do 4º ano da CVP da Escola Básica do 1º ciclo de Venda do Pinheiro.
Houve ainda duas menções honrosas, uma para o conto “Uma amizade Intergaláctica” do 4ºA do Colégio Paulo VI de Gondomar e “A Sardinha: uma história de vida” do 4º C da EB Padre Manuel de Casto de São Mamede Infesta. Já a menção honrosa para a ilustração foi para “Um País Chamado Igualândia” do 4ª B do Colégio Paulo VI em Gondomar.
Casino da Póvoa vive tempos de angústia
A 22 meses do fim da concessão de jogo, o Casino da Póvoa teme pelo seu futuro. Na sessão de atribuição do Prémio Literário Casino da Póvoa, no âmbito do Festival Correntes d’Escritas, o administrador da Varzim Sol lamentou que o concurso ainda não foi lançado.
Dionísio Vinagre afirmou na cerimónia: “Estamos em tempo de vésperas, porque estamos a 22 meses do fim desta concessão. Não sabemos o que vai acontecer, porque até hoje ninguém falou connosco. O concurso não foi lançado, não sabemos quando será, e portanto, este tempo de vésperas é de angustia, porque não sabemos o que vai ser o futuro.”
Também na sessão de abertura das Correntes d’Escritas, o autarca da Póvoa referiu-se à atual situação política e em particular à celebração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Aires Pereira, falou da importância e valor da palavra e de como está a ser usada “como instrumento e manipulação de massas”. O autarca falou da “tribalização” do espaço público como “uma ameaça real à liberdade”.
Segundo o autarca, é necessário “estar alerta” face a esses riscos que a liberdade enfrenta e à política de cancelamentos no âmbito cultural. Dando como exemplo, os álbuns do Tintin ou os livros de Eça de Queiroz e William Shakespeare, Aires Pereira referiu que “todos estes autores e muitos outros foram recentemente submetidos ao processo purificador a que nem Homero ou a Biblia escaparam”. O autarca rematou: “estai alerta porque está tudo em revisão à luz deste novo cânone”.
por Maria João Costa in Renascença | 21 de fevereiro de 2024
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença