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Ensaísta e tradutor João Barrento vence Prémio Camões 2023

À 35ª edição, o Prémio Camões, o maior das literaturas lusófonas, volta a Portugal. Foi para o ensaísta e tradutor literário João Barrento.

Incansável tradutor de Goethe, Walter Benjamin e Robert Musil (incluindo as 1300 páginas de O Homem Sem Qualidades), o português João Barrento é o vencedor da 35.ª edição do Prémio Camões, anunciou esta terça-feira, em Lisboa, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. Para esta decisão do júri parece ter pesado a polivalência e rigor da obra do autor, que também é ensaísta, crítico literário, cronista e professor universitário.

João Barrento admitiu surpresa perante a atribuição de "um prémio como o Camões, que normalmente tem sido concedido a grandes escritores de ficção ou de poesia". "Talvez faça algum sentido pensar num prémio como este, não apenas para os grandes géneros literários, como o romance ou a poesia, mas também como o ensaio ou mesmo a tradução, porque é um trabalho sobre a língua, a língua de Camões, está no nome do prémio, que exige uma criatividade que, no meu caso, considero-a quase equivalente à da escrita original", afirmou.

Na sua declaração de voto, o júri sublinhou "uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária. Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da Idade Média à época contemporânea, e em todos os géneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial".

Por sua vez, Pedro Adão e Silva considerou o mais recente Prémio Camões "um dos pensadores mais acutilantes da arte e da cultura em Portugal. O ensaio é o registo literário em que mais se tem empenhado, forma privilegiada de pensar livremente a sua relação com o mundo." O ministro destacou ainda a ação de João Barrento "enquanto dinamizador do Espaço Llansol (dedicado à escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol), testemunho de uma generosa dedicação, a mesma que se reflete nas indispensáveis traduções que têm dado a conhecer, em língua portuguesa, a obra de autores tão diversos quanto Hölderlin, Goethe, Walter Benjamin ou Paul Celan".

O júri foi constituído por Abel Barros Baptista, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Isabel Cristina Mateus, professora auxiliar da Universidade do Minho; Cleber Ranieri Ribas de Almeida, professor associado da Universidade Federal do Piauí - UFPI (Brasil); e Deonísio da Silva, professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (Brasil). Já os PALOP foram representados por Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (São Tomé) e Dionísio Bahule, professor da Universidade Pedagógica de Maputo (Moçambique).

Uma vida dedicada aos livros

João Barrento nasceu a 26 de abril de 1940 em Alter do Chão. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e publicou diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica. Foi professor nas áreas de Literatura Alemã e Comparada e de História e Teoria da Tradução na Universidade Nova de Lisboa (1986-2002).

Entre os principais livros publicados em nome próprio pelo premiado contam-se A Palavra Transversal. Literatura e Ideias no Século XX; A Literatura Portuguesa depois da Revolução, 1998; Uma Seta no Coração do Dia, 1998; António Aleixo : "a dor também faz cantar...", 2003; Origem do drama trágico Alemão, 2004; O Arco da Palavra. Ensaios, 2006; A escala do meu mundo (crónica), 2006; Na Dobra do Mundo. Escritos llansolianos, 2008; O género intranquilo : anatomia do ensaio e do fragmento, 2010; O mundo está cheio de deuses. Crise e crítica do contemporâneo, 2011; Geografia Imaterial. Dois ensaios sobre a poesia (com fotografias de Vina Santos).

Anteriormente, já fora distinguido com o Grande Prémio de Tradução do PEN Clube Português /Associação Portuguesa de Tradutores (em 1993, pela obra de Goethe, e em 1999, pela tradução integral do Fausto); Prémio de Ensaio "Jacinto do Prado Coelho", da Associação Internacional de Críticos Literários - Secção Portuguesa (1996) e Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores - APE (1996).

O Prémio Camões, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989, no valor de 100 mil euros, é o maior de língua portuguesa. Depois de ter distinguido Miguel Torga na 1.ª edição, foi atribuído a nomes como o brasileiro João Cabral de Mello Neto , José Craveirinha (Moçambique), Vergílio Ferreira, Jorge Amado (Brasil), José Saramago, Eduardo Lourenço, Pepetela (Angola), Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Maria Velho da Costa, Rubem Fonseca (Brasil), Agustina Bessa-Luís ou António Lobo Antunes.

Em 2006, o escritor angolano Luandino Vieira recusou o prémio por "razões íntimas e pessoais."


por Maria João Martins e Lusa, in Diário de Notícias | 10 de outubro de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias
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