Em rigor, os 10 anos desse espaço cultural do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto cumprem-se no dia 19, mas será no sábado e domingo seguintes que a instituição que alberga duas coleções privadas com 1.700 obras de Arte Bruta e 1.200 de Arte Contemporânea comemorará o seu aniversário, com um programa de entrada livre em todas as iniciativas.

“Vamos finalmente concretizar o objetivo de reunir numa só exposição as nossas duas coleções”, adiantou a diretora artística do Centro de Arte Oliva, Andreia Magalhães.

A mostra em causa intitula-se “Revolução na Noite”, tem curadoria de Ana Anacleto e também recorre a obras da Coleção Fundação Millenium BCP para evocar dois centenários: o do nascimento do poeta e pintor português Mário Cesariny, que se celebra em 2023, e o do Manifesto Surrealista do escritor francês André Breton, que se assinalará em 2024.

Cruzando essas três coleções e as duas mencionadas referências das artes plásticas e da literatura, o objetivo da exposição é explorar o surrealismo e demonstrar a influência dos respetivos conceitos e ideias em vários domínios culturais, ao longo do tempo.

Já no que se refere a Jaime Fernandes, considerado o expoente máximo da Arte Bruta em Portugal e uma referência internacional desse universo específico, a nova sala que o Centro de Arte Oliva passará a dedicar em permanência à sua obra é consequência da exposição “Vi uma cadela minha com lobos”.

Essa mostra foi o culminar de uma investigação destinada a localizar em Portugal e no estrangeiro, em coleções públicas e privadas, mais trabalhos do homem que, tendo dedicado a juventude à atividade rural, foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide aos 38 anos, esteve internado mais de três décadas no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda e, aos 66 anos (quatro antes de morrer), revelou um singular interesse pelo desenho a esferográfica.

“Um dos resultados dessa exposição de 2021 foi a identificação e preservação de vários desenhos de Jaime Fernandes, sendo que 23 deles estão agora em depósito na Oliva e irão ser apresentados ao público alternadamente”, adianta Andreia Magalhães.

Outra iniciativa concebida para o 10.º aniversário do centro de arte é a mostra “Matéria Impressa”, que reunirá publicações de projetos editoriais portugueses apontados pela diretora da instituição como “de qualidade excecional”.

Conversas, oficinas e venda de publicações também integram o que se antecipa como “um espaço informal para divulgação e contacto” com artistas, editores e instituições culturais na origem desses projetos.

Quanto à festa na chamada “Sala dos Fornos”, que ainda preserva equipamento de fundição do tempo em que “Oliva” era marca de metalúrgica afamada pelas suas banheiras e máquinas de costura, começa às 21:00 de sábado e terá produção da Segmenta, com diferentes DJ.

No domingo, as novas exposições complementam-se com duas oficinas também gratuitas: uma sobre os recursos necessários para constituição de um livro, no que o público explorará diferentes materiais e técnicas, e outra sobre disfarces, que demonstrará como uma folha de sala pode ser utilizada como máscara, óculo e até palco de novas histórias.

Fonte: LUSA | 9 de outubro de 2023