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Maria Rita Pais e Luís Santiago Baptista conquistam Prémio Fernando Távora 2023

O júri foi unânime ao distinguir a proposta Na Linha da Frente. A arquitectura do bunker nas linhas de defesa da Europa Central, da autoria de Maria Rita Pais e Luís Santiago Baptista, que recebem uma bolsa de viagem no valor de seis mil euros. 

Organizada pela OASRN, a 19.ª edição do Prémio Fernando Távora contou com o maior número de participantes dos últimos três anos.

Criado em 2005, o Prémio Fernando Távora é um galardão anual, uma homenagem ao arquiteto Fernando Távora (1923-2005).

Dirigido a todos os arquitetos inscritos na Ordem dos Arquitectos, consiste na atribuição de uma bolsa de viagem, no valor de seis mil euros, destinada à melhor proposta de viagem de investigação, selecionada por um júri nomeado todos os anos para o efeito e que, nesta edição, foi presidido por Ricardo Pais, ator e encenador.

A Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos (OASRN) é responsável pela organização desta iniciativa, em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitectura e a Fundação Marques da Silva, e conta nesta edição, uma vez mais, com o patrocínio da Ageas Seguros. O objetivo do Prémio Fernando Távora passa por continuar a perpetuar a memória de Távora, valorizando o importante contributo da viagem e do contacto direto com outras realidades na formação da cultura do arquiteto enquanto profissional.

Escolhido por unanimidade, o júri reconheceu que o trabalho “Na Linha da Frente. A arquitectura do bunker nas linhas de defesa da Europa Central” se destacou por ser “uma proposta consistente, com um plano de viagem extremamente bem estruturado e pormenorizado, demonstrando preparação prévia rigorosa.  O projeto apropria-se e reformula o próprio conceito de viagem, através da forma como os candidatos pensaram a relação com o território e a especificidade na aproximação a cada um dos lugares.”

“Um dos fatores que pesou na distinção desta proposta face às demais, prende-se com o seu conteúdo imagético e de fascínio por estes objetos arquitetónicos, de alguma forma ocultos e desconhecidos, inscrevendo-a numa reativação dos problemas de fronteira e de guerra que nos vêm afligindo. A proposta procura a discussão do passado destes objetos, também em Portugal, e da sua importância para a memória coletiva futura.”, salienta o júri.

No documento preparado pela dupla vencedora pode ler-se a forma como os dois arquitetos idealizaram a viagem a realizar: “Na Linha da Frente propõe um percurso pela Europa central realizado de automóvel e a pé. A viagem propõe a revisitação, no desassossegado momento presente, das estruturas mais belas e problemáticas da 2ª Guerra Mundial. Os bunkers são fortificações militares defensivas, concebidas como pontos estratégicos de localização de material militar, proteção de pessoas e reserva de mantimentos. No entanto, são igualmente concebidos para possibilitar o ataque bélico. Por questões táticas, são habitualmente construções subterrâneas, ativando as tecnologias de construção mais resistentes e eficazes. Historicamente, o bunker faz parte da terceira fase da história da evolução da arquitetura militar, que se caracteriza pela construção de pequenas estruturas super fortificadas disseminadas e invisíveis no território. Enquanto a antiga muralha e o forte abaluartado são visíveis e identificáveis, o bunker oculta-se na paisagem, fundindo-se com ela.”

O resultado da investigação de Maria Rita Pais e Luís Santiago Baptista será apresentado em abril de 2025, a mesma data do lançamento da 21.ª edição do Prémio Fernando Távora. O “Diário de Viagem” será entregue no mês anterior, precisamente dez dias antes da conferência com o vencedor.

Importa salientar que a 19.ª edição do Prémio Fernando Távora contou com o maior número de participantes dos últimos três anos e o júri foi constituído pelo ator e encenador Ricardo Pais e pelas arquitetas Andrea Soutinho (indicada pela Fundação Marques da Silva), Ana Vieira (indicada pela Casa da Arquitectura) e Susana Ventura (em representação da OASRN). Também Maria José Távora, filha do mestre Fernando Távora, foi designada pela família e integrou o grupo de jurados.

A reunião do júri, seguida da cerimónia de anúncio do vencedor, teve lugar ontem, Dia Mundial da Arquitetura, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos. Houve ainda lugar a uma conferência proferida pelo arquiteto e fotógrafo Duarte Belo intitulada “Ininterrupta Viagem”.

De saída da presidência da OASRN, Conceição Melo, que foi também responsável pela Comissão de Coordenação das Celebrações do Centenário de Fernando Távora, uma organização conjunta entre a Ordem dos Arquitectos (OA), a Fundação Marques da Silva (FIMS), a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), o Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra (DARQ) e a Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho (EAAD), não quis deixar de salientar que: “Este prémio, concedido no ano em que se assinalam 100 anos do nascimento de Fernando Távora, tem um significado ainda mais especial, tanto para a OASRN, enquanto entidade responsável pela atribuição desta distinção anual de âmbito nacional, como, certamente, para a dupla vencedora, que vai usar a bolsa atribuída para fazer investigação num tema tão interessante. Este reconhecimento é, na prática, uma homenagem a Fernando Távora que, enquanto arquiteto e professor, sempre se destacou pela influência que teve em sucessivas gerações que escolheram abraçar a arquitetura como profissão.”

Sobre Maria Rita Pais
Natural de Lisboa, Maria Rita Pais é Doutorada em Arquitetura pela FAUTL, desde 2012. Arquiteta, professora, investigadora e curadora, formou-se em Arquitetura na mesma instituição, em 1999, e é ainda Mestre em Construção pelo IST, desde 2004.

Atualmente, leciona e coordena o Doutoramento em Arquitetura na ULHT (com Carlos Guimarães) e é vice-diretora para Lisboa do centro de investigação Arq.ID. É também professora convidada na FAUL, desde 2022. É co-curadora do Lisbon Open House 2018 (com Luis Santiago Baptista); do Habitar Portugal 2009-2011 (com Susana Ventura e Rita Dourado) e co-curadora e co-editora do livro Viagem ao Invisível: Espaço, experiência, representação (com Luís Santiago Baptista), entre outros projetos.

Mantém interesses de investigação em torno da arquitetura ligados às suas representações e aos media que as divulga, avaliando o seu impacto na prática artística e nos meios editoriais. Em particular, trabalha em torno de metodologias de investigação ligadas à interpretação e experimentação da arte como forma de aprofundamento da compreensão do espaço e da arquitetura.

Sobre Luís Santiago Baptista
O arquiteto Luís Santiago Baptista, natural de Lisboa, desenvolve uma atividade multifacetada, compreendendo a prática profissional, a docência universitária, a crítica de arquitetura, a curadoria de exposições e a edição de publicações.

Mestre em Cultura Arquitectónica Contemporânea (FA-UTL) e doutorando em Cultura Arquitectónica e Urbana (DARQ-UC), está a desenvolver, neste momento, a tese Point de Folie: As Estratégias da Desconstrução na Arquitectura Contemporânea 1978-2001, com investigação na Architectural Association de Londres, no MoMA de Nova Iorque e no CCA em Montreal.

Foi assistente convidado na FA-UTL e é, atualmente, professor auxiliar convidado na ESAD-CR e na ECATI-ULHT. Na área das publicações, foi diretor da revista de arquitetura e arte arqa (2006-16) e é agora co-diretor do J-A Jornal Arquitectos (OA, 2022-24).

Destacou-se ainda enquanto curador do ciclo Geração Z: Práticas Arquitectónicas Portuguesas Emergentes (OA, 2007-12), “Falemos de casas” … em Portugal (Trienal de Arquitectura de Lisboa 2010), ARX arquivo (CCB, 2013), Arquitectura em Concurso: Percurso Crítico pela Modernidade Portuguesa (OASRS/CCB, 2016), Fernando Guerra: Raio X de uma Prática Fotográfica (CCB, 2017), Almada: Um Território em 6 Ecologias (Museu de Almada, 2020) e Viagem ao Invisível (OASRS/DGArtes, 2016-19).

Sobre o Prémio Fernando Távora
O Prémio Fernando Távora, lançado em 2005, é organizado pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos (OASRN), em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitectura e a Fundação Marques da Silva, e conta nesta edição, uma vez mais, com o patrocínio da Ageas Seguros. O principal objetivo desta iniciativa passa por incentivar e valorizar a viagem enquanto instrumento fundamental de formação e de apoio à prática profissional da profissão.

Esta distinção é uma ode ao arquiteto portuense Fernando Távora, figura indissociável da Escola do Porto e da Arquitetura portuguesa na segunda metade do século XX, que foi mestre, entre outros, de Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira.

De caráter nacional, este galardão, que distingue a melhor proposta de viagem, é atribuído anualmente e destinado a todos os arquitetos inscritos na Ordem dos Arquitectos. Tem na sua génese os hábitos que Távora teve, durante toda a sua vida, em que viajou incessantemente pelos quatro cantos do mundo para estudar arquitetura de diferentes épocas.

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