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"Palavra em Queda"
“Nem sempre os poetas (como os artistas e as pessoas em geral) estreiam bem, não sendo por isso raros os que se arrependem e tentam, mais tarde, apagar da sua bibliografia o(s) seu(s) primeiro(s) livro(s). Creio que não será esse o caso de Pedro Adão, dado que este Palavra em queda se apresenta já com um nível alto de maturidade, revelando um poeta que, embora vá certamente passar por mudanças no futuro, revela precocemente uma identidade segura.” – Francisco Topa no posfácio “Palavra em alta".
Tal como ocorreu nas suas outras obras, também adotou o método de dividir a sua coletânea de poemas em diversas partes, cada uma desabrochando uma diferente temática e diferentes facetas de sentimentos retratados pelo poeta. A primeira parte, e a mais extensa, tem como título “A primeira queda", a segunda “A segunda queda" e a terceira, a última e menor parte, “A terceira e última queda”.
Tive a honra de assistir e ser diretamente convidada pelo autor para assistir ao lançamento da sua primeira obra na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No momento em que a obra chegou às minhas mãos, dada e assinada pelo autor, pressenti logo que a sua estreia iria ter um grande sucesso e que os textos escritos nela seriam de alta qualidade e, até hoje, esse sentimento mantém-se.
Em relação aos outros livros, Palavra em Queda é o mais pequeno. Talvez a extensão se deva por ser a sua obra de estreia e o autor não querer apostar em algo maior. Contudo, Pedro Lopes Adão, como faz sempre com a escrita, consegue surpreender-nos com a sua escrita e com a sensibilidade nela presente. Como tinha referido na recensão literária sobre a segunda obra, pareceu-me impossível que um jovem com somente 20 anos pudesse transmitir emoções tão profundas e tão maduras, mas a realidade, e é o que se rem notado nos consequentes trabalhos do poeta, é que é possível alguém de tão tenra idade poder transmitir tais sentimentos viscerais que conseguem arrebatar todos os seus leitores.
Agora passemos à obra em si, à sua estrutura e aos seus poemas. Ao ler a primeira parte desta obra intitulada de “A primeira queda", como referido anteriormente, demonstra, na sua maior parte, um grande sentimento de reflexão por parte do sujeito poético, declarando assim o início da sua queda. Esta parte é como se fosse uma espécie de introdução para um caminho reflexivo a ser feito pelo eu poético e o resultado que a sua primeira queda iria ter e como afetaria as outras etapas. Desta vasta coletânea de textos, uma vez que é a maior das três partes do livros, são vários os poemas que refletem essa reflexão sobre a vida e a sua passagem. Os que me tocaram em particular foram os poemas “Temporalidade", “Pensamento" e “Quando era jovem e tinha tempo". Eles representam o espelho da reflexão do ser humano nas suas diferentes vertentes: a reflexão sobre a passagem do tempo e como a sua demora não atenua o sofrimento presente no íntimo do eu lírico (“Temporalidade", pág.13), o pensamento que nos afeta, quebra e corrói o nosso interior mas que é a única coisa à qual nos podemos agarrar (“Pensamento", pág.19) e a reflexão sobre a infância, a sua simplicidade, inocência e de ela ser uma recordação de tempos passados que não voltam mas podem ser sempre recordados (“Quando era jovem e tinha tempo", pág.23).
No que toca à segunda parte da obra, “A segunda queda", já vemos uma outra etapa destas quedas consecutivas apresentadas por Pedro Lopes Adão. Neste segmento, estão presentes sentimentos de raiva, cansaço e memórias que retornam para tormento da própria mente ou, de novo, como reflexão de um tempo passado. Admito que nesta parte da obra, não houve nenhum poema específico que me marcasse em particular, visto que todos eles transmitem emoções similares e que tocam nas feridas mais íntimas do leitor, despertando nele um espírito reflexivo face ao que se encontra ao seu redor, algo que é promovido por todo o trabalho do jovem poeta portuense. No entanto, face aos temas que referi anteriormente, existem poemas presentes nesta parte que os consegues retratar de forma perfeita: no que concerne o sentimento de raiva, o poema “Trindade acutilante" (pág.40) transparece na perfeição a transparência adquirida pelo sujeito lírico ao expelir todo e qualquer sentimento de raiva presente nele (“Rasgam a carne / e colhem-se vermelhas, perfumadas, / e dilatam feridas insanáveis. (…) Em todo o meu corpo: transparência.”, versos 1-3, 7); o sentimento de cansaço, tão comum na sociedade atual, seja qual for a idade, é nos apresentado no poema com o título “Do outro lado" (pág.44). Nesse texto, é retratado um eu poético exausto, talvez devido à vida que leva, e, numa espécie de chamamento divino, ouve-se uma voz que o chama e que é a fonte da sua força para continuar o seu caminho (“Ouço a voz, (…) e assumo-o como vida / (…) água que me abastece e / assim permite continuar", versos 1, 4, 6-7); por último, as memórias que retornam ao próprio e que as queremos recuperar porque, como o próprio poema descreve, são como a água que ajuda na continuação do nosso caminho e que podem ser a palavra reveladora de muitos segredos sagrados (“Eu quero as águas por onde foram a palavra / deslizando / (…) Eu quero essa Palavra (…) palavra redentora, / divina e salvadora, palavra / em género humano, / reveladora", versos 1-2, 5, 7-10. “Meu trote navegante”, pág.41).
A terceira e última parte, “A terceira e última queda", é a mais pequena dos três segmentos apresentados por Pedro Lopes Adão. Sendo constituído somente por dois poemas. Como o próprio título indica, esta é a última queda e, como tal, demonstra uma faceta mais negativa, no fim da persistência e perseverança do caminho que acaba de ser trilhado. Aqui pode se refletir como uma entrega ao destino que criamos e aos últimos passos que ainda iremos dar. O poema “O desejo" (pág.50), o último de toda a obra, é como se marcasse o final da jornada, cujo maior desejo é a eternidade da obra, a eternidade dos poetas. Porque a vida humana é efémera mas a arte é eterna. (“se me perguntares o que quero, dir-te-ei / a eternidade dos poetas, / nunca a hecatombe dos falhados que, / quando velhos, não viram a sua obra viver.”, versos 5-8)
Em suma, são muitas as palavras que poderiam ser ditas sobre Pedro Lopes Adão e a sua obra mas, como mais uma vez foi provado nesta viagem do tempo até ao seu primeiro livro, todo o seu trabalho demonstra uma grande maturidade por parte do autor e uma maestria bastante precisa e perfeccionista, demonstrada por poucos, na forma como usa palavra – o seu dom da palavra que o caracteriza e ao seu trabalho.
Não sabemos o que o tempo reserva para o trabalho do jovem poeta Pedro Adão, não sabemos quantas mais obras virão. Mas, enquanto vivemos no incógnito da continuação da sua obra, deixemo-nos deleitar pelas três obras da sua autoria, Palavra em Queda, Os Amorosos & Os Odiados e Ars longa, vita brevis, e com a sua organização de uma homenagem feita à saudosa poetisa portuguesa Ana Luísa Amaral com o título Alguns Ensaios de Quê? O que se deseja a este jovem poeta é que a sua obra continue, se perpetue pelas ruas do tempo e que se torne eterna.
Texto redigido por Cláudia da Cunha Azevedo
SOBRE O AUTOR
Pedro Lopes Adão (n. 2001, Porto) começou a sua carreira na escrita aos 15 anos de idade, principiando a sua jornada com a poesia que, mais tarde, se estendeu para a crítica literária. Já teve oportunidade de colaborar com diversos meios de divulgação cultural, como a revista Devaneio, de que é membro da redação, a Comunidade Cultura & Arte, a Revista Kametsa, a Revista Mirada, o Ruído Manifesto, etc. Após ingressar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi convidado a se dar a conhecer na Revista Alegre e a integrar a antologia "110 Anos, 110 poetas" (org. Isabel Morujão). Entretanto já publicou: Palavra em Queda, ed. Glaciar (2022) e Os Amorosos & Os Odiados, ed. Lema d'Origem (2023).
ISBN: 9789899090163
Editor: Glaciar
Data de Lançamento: junho de 2022
Idioma: Português
Dimensões: 114 x 185 x 4 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 56
Tipo de produto: Livro
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Poesia