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Internacionalização da peça "Antero Q"
Nos próximos dias 1 e 2 de dezembro, o encenador franco-argentino Alexandre Paita e a companhia suíça - a do Studio Théâtre de Genève - patrocinam a apresentação do espetáculo ‘Antero Q’ da autoria de Ana Rocha, produzido e encenado por Carlos J. Pessoa.
Na sala genebrina de 120 lugares, a companhia portuguesa subirá ao palco para apresentar a produção dramática com a chancela do Teatro da Garagem, num momento que corresponderá à primeira internacionalização do espetáculo. Na Primavera de 2023 e contando com os atores Guilherme Gomes, Anette Naiman, André Pardal e Rafaela Jacinto no elenco, esta produção ‘Antero Q’ foi apresentada no Teatro García de Resende de Évora e no Teatro Taborda, em Lisboa.
Sobre a personagem de Antero Q, um homem deprimido, muito atento aos seus problemas de saúde e sentindo dores por todo o lado, Ana Rocha escreveu uma obra de ficção sob a forma de uma peça de teatro e, assumidamente, não quis conceber um livro de História nem uma biografia. Esta autora encara o teatro como um sítio ideal para apresentar os conflitos humanos colocados em palco e ditos de viva-voz pelos atores.
Segundo Peter Brook, um dos maiores homens de teatro de sempre, o palco é um espaço camaleónico capaz de estimular e de libertar a imaginação e Ana Rocha decidiu colocar em palco um território proibido, o do êxtase amoroso da personagem de Antero Q por uma mulher estrangeira, apresentando o profundo enamoramento de um idealista que viveu uma peripécia experimentada como um ‘veneno rápido’ na sua atormentada vida. Na clínica hidroterápica de Bellevue, nos arredores de Paris, a personagem de Antero Q experimentou a aparição súbita de uma paixão violenta e inoportuna sob a forma de uma enigmática mulher que não aceitou casar-se com ele. Esse episódio secreto levou a investigadora e jornalista à criação da baronesa Nelly, uma personagem a fugir aos estereótipos de uma aristocrata parisiense do século XIX, uma mulher com urgência na sua emancipação, a pretender a abolição de alguns dos interditos colocados às mulheres.
‘A loucura é de todos os tempos, mas eu não estou louco’ foi a frase eleita para abrir e fechar a produção de ‘Antero Q’ do Teatro da Garagem, programada para os dias 1 e 2 de dezembro no Théâtre des Grottes de Genève. No mundo em guerra, à beira do colapso ecológico-ambiental, perante o desemprego, as migrações, a errância e o desamparo de milhões de seres humanos, perante tentativas de destruição da solidariedade social, de falências sociais e económicas e de bancos sempre a tremer, serviu a Ana Rocha o famoso fragmento de Pascal segundo o qual ‘os homens são tão infalivelmente loucos que seria loucura, por um outro golpe de loucura, não ser louco’.
Neste texto dramático são abordadas problemáticas diversas que continuam a fazer correr rios de tinta, tais como a da profunda crise portuguesa do século XIX, o impacto da Comuna de Paris entre os intelectuais portugueses, o carácter dissimétrico e hierárquico na relação entre os sexos, o quebra-cabeças dos papéis e das expectativas de género, algumas questões de matrimónio e de sexualidade(s), algumas das maiores controvérsias da medicina oitocentista europeia sobre questões de saúde mental e também o tema da construção da nossa imagem através do olhar dos outros.
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