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Vindimas ainda se fazem ao som dos cânticos tradicionais no planalto de Alijó

No planalto de Favaios, em Alijó, ainda se ouvem os cânticos que animam as festas das vindimas, uma tradição antiga que “ajuda” a aguentar o trabalho árduo, mas que vai caindo em desuso.

Foto © José Coelho / LUSA

“Fui ao Douro às vindimas, não achei que vindimar. Fui ao Douro às vindimas, não achei que vindimar. Vindimaram-me as costelas, foi o que lá fui ganhar”, canta alto Maria Helena, 65 anos, escondida entre a folhagem das videiras, sempre com a tesoura da mão e a cortar os cachos de uvas.

Ao lado, Miguel Braga, 37 anos, bate palmas e incentiva o cântico, enquanto os restantes vindimadores vão acompanhamento com a voz um pouco mais tímida.

O corte das uvas está a começar mais cedo este ano em algumas localidades da Região Demarcada do Douro. Devido à dificuldade de arranjar mão-de-obra, Mário Monteiro começou a vindima com os trabalhadores diários que vêm de Favaios, Sanfins do Douro e Alijó.

São apenas oito e o produtor prevê que, a partir de segunda-feira, o trabalho seja reforçado com “uma roga” proveniente de Resende, ou seja, um grupo de trabalhadores afetos a um empreiteiro agrícola.

Até lá, a “festa” vai-se fazendo com a “prata da casa”. Nesta vinha vão-se ouvindo cânticos tradicionais, mas este é também um costume que parece estar a cair em desuso.

“Para nós é uma brincadeira o trabalho no campo. É quente? Sim, faz muito calor, mas é a nossa vida. Agora vindimamos e durante o resto do ano granjeamos”, afirmou Maria Helena.

E este ano, acrescentou, ainda se vindima “com mais gosto” porque “há boas uvas”.

“Granjeamo-las todo o ano e também gostamos de ver muitas”, frisou. 

As previsões apontam para um ano de boa colheita no Douro, quer em quantidade, quer em qualidade.

Até ao fim da vindima, a rotina repetir-se-á todos os dias. O trabalho faz-se entre as 07:00 e as 16:00 sem “domingos ou feriados”.

Maria Helena adiantou que, após o trabalho para o patrão, ainda vai trabalhar para os seus terrenos. “Tenho a minha vindima e vou para ela”, referiu.

Em Favaios, o corte começou mais cedo e logo após as festas de Alijó e de Sanfins do Douro. “Estava a ver que não passávamos a festa este ano”, referiu Miguel Braga, residente nesta localidade.

  O trabalho é duro e faz-se debaixo de um sol escaldante. “Mas é o trabalho que é o mais desejado”, salientou o trabalhador, que garantiu gostar muito de vindimar.

São, explicou, “momentos de alegria” e de “reencontros”. “Vêm pessoas que não estão connosco todo o ano. É um convívio e é diferente de todo o resto do ano. A vindima é diferente”, frisou.      

E acrescentou que, com a dona Maria Helena e com os outros colegas, a vindima “é muito mais alegre”. “Estamos à espera de mais pessoal, porque estamos a iniciar só com o pessoal da casa e, na segunda-feira, já deve vir a equipa que costuma vir todos os anos para ao pé de nós”, referiu Miguel Braga.

Ana Meireles, 60 anos, é de Sanfins do Douro e considerou que o trabalho nas vindimas “é mais maçador” porque obriga a “andar sempre na mesma posição”.

“É um trabalho duro, mas é o nosso trabalho”, frisou, salientando que ver as uvas bonitas e saudáveis é também uma recompensa pelo ano inteiro de trabalho na vinha.


Fonte: LUSA | 20 de agosto de 2023

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