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Escritor checo Milan Kundera morreu aos 94 anos vítima de doença prolongada

O escritor checo Milan Kundera morreu terça-feira, anunciou hoje a porta-voz da Biblioteca Regional de Brno, onde foi inaugurada uma sala dedicada ao escritor a 01 de abril deste ano, 94 anos após o seu nascimento.

"Infelizmente, posso confirmar que Milan Kundera morreu ontem [terça-feira] após uma longa doença", disse Anna Mrazova à agência noticiosa France-Presse (AFP).

Exilado em França desde 1981 e autor de, entre outros livros, “A Insustentável Leveza do Ser”, publicado em 1984 e adaptado para o cinema quatro anos mais tarde, o gigante da literatura mundial é com siderado como um dos mais célebres escritores contemporâneos.

Também autor de La Plaisanterie (A Piada) e L'Immortalité (A Imortalidade), Milan Kundera nasceu a 01 de abril de 1929 em Brno, na antiga Checoslováquia, e exilou-se em França em 1975, tendo adquirido a nacionalidade francesa em 1981.

Kundera escreve os seus romances em francês, desde La Lenteur (A Lentidão), publicado em 1993. Em 2011, as suas obras foram publicadas pela Bibliothèque de la Pléiade, a prestigiada coleção editada pela Gallimard.

A sua obra foi traduzida em cerca de 40 línguas, o que faz de Kundera um dos autores mais traduzidos do mundo.

Milan Kundera tem tido uma relação complicada com o seu país de origem. Apesar de se ter naturalizado francês em 1981, obteve finalmente a nacionalidade checa em 2019. Em julho de 2020, decidiu legar os seus livros e arquivos à Biblioteca Regional de Brno, a sua cidade natal.

Autor de uma vasta obra, que abrange o romance, o ensaio e a poesia, Kundera recebeu, entre outros, o Prémio Médicis (1973), o Prémio Mondello (1978), o Prémio Common Wealth (1981), o Prémio Jerusalém (1985) e o Prémio Independent de Literatura Estrangeira (1991).

Filho do músico Ludvik Kundera (1891-1971), um importante musicólogo e pianista que esteve à frente da Academia Musical de Brno de 1948 a 1961, Milan aprendeu a tocar piano com o pai e estudou musicologia e composição musical, influências que podem ser encontradas na sua obra.

Kundera faz parte de uma geração de jovens checos que tiveram pouca experiência com uma nação democrática no pré-guerra, pois a sua ideologia foi em grande parte influenciada pelas Segunda Guerra Mundial e pela ocupação alemã.

Ainda adolescente, Kundera filiou-se no Partido Comunista, que tomou o poder em 1948. Na Universidade Carolina, de Praga, estudou literatura e, após dois semestres, mudou para a faculdade de cinema, na Academia Checa de Artes Cénicas, onde teve aulas de direção de longas-metragens e de argumentos. Em 1950, foi temporariamente forçado a interromper os estudos por razões políticas. Neste ano, tal como outro escritor checo, Jan Trefulka, foi expulso do Partido Comunista Checo por "atividades anti-partidárias". Trefulka descreveu o incidente num dos seus romances, mas Kundera utilizou o incidente como inspiração para o tema principal da obra “A Brincadeira”, de 1967.

Em 1956, Kundera foi readmitido no Partido Comunista mas, em 1970, porém, foi novamente expulso. O escritor, assim como outros artistas checos, entre eles Václav Havel, envolveu-se na Primavera de Praga, em 1968. O período de otimismo foi destruído em agosto do mesmo ano pela invasão soviética e pelo exército do Pacto de Varsóvia da Checoslováquia. Kundera e Havel tentaram acalmar a população e organizar uma sublevação reformista para fazer face ao totalitarismo comunista da União Soviética, tendo permanecido neste intento até desistir definitivamente, em 1975, ano em que edcvide exilar-se em França.

O escritor teve sua cidadania revogada após um desentendimento com o Partido Comunista da Checoslováquia, em 1979, quando o escritor já estava na França. Tal ação de retirada da cidadania do escritor é fruto de desentendimentos com os comunistas checos que começaram ainda em 1950.


Fonte: LUSA | 12 de julho de 2023

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