Mais de três dezenas de antigos conventos de Lisboa vão estar de portas abertas na próxima semana. A iniciativa "Open Conventos" é, assim, retomada, depois de uma pausa nos anos de pandemia.

Hélia Silva, do Núcleo de Estudos do Património da Câmara de Lisboa, lembra que na primeira edição, em 2019, foi possível visitar 28 locais. Desta vez são ainda mais: “Vamos abrir cerca de 32 antigas casas religiosas que hoje têm usos muito diferentes”.

Hélia Silva diz que esta é uma oportunidade única para ficar saber mais sobre a própria história da cidade, através de edifícios sobre cuja origem não se pensa quando se passa por eles e que, habitualmente, nem estão acessíveis ao público.

“Alguns não são proibidos de entrar, só que nós não entramos. Por exemplo, quando passamos a correr no Hospital de S. José, não nos interessa ir ver a sacristia, mas é uma das peças de arquitetura mais fantásticas que temos. Ou, então, vamos comer um bife à Trindade, que já foi convento, mas conseguimos olhar para lá e para o que ainda sobra? Porque não é verdade que o Carmo e a Trindade tenham caído com o terramoto”.

Uma boa surpresa, diz, pode ser ir ao Palácio das Necessidades, conhecer o antigo convento que hoje alberga o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Ou visitar a Assembleia da República, que foi um mosteiro beneditino.

“Vemos sempre aquelas imagens na televisão (do parlamento), mas aqui conseguimos ir ver o primeiro claustro, que ainda lá está intacto, muitas zonas do edifício do convento e a parte que depois foi reestruturada - no final do século XIX, princípio do século XX - pelo arquiteto Miguel Ventura Terra, que lhe deu outra feição. Mas, na verdade, por trás, está o convento de São Bento”, sublinha.

Na apresentação do evento aos jornalistas, foi possível dar uma ideia do muito que há para contar. Partindo do Convento das Bernardas, onde se situa hoje o Museu da Marioneta, passou-se pelo antigo Convento das Trinas, da Ordem Hospitalar da Santíssima Trindade, que agora alberga o Instituto Hidrográfico, e onde as antigas cozinhas são ponto de referência, com as paredes repletas de azulejos. Passou-se também pelo Convento das Inglesinhas, onde hoje funciona o ISEG, e cujo claustro é considerado único. De resto, toda aquela zona da cidade, entre a Madragoa e S. Bento, foi povoada de conventos no tempo em que o centro da cidade de Lisboa se limitava ao Castelo e à baixa.

“Um evento para lisboetas”

O Open Conventos é organizado pela autarquia em colaboração com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com o setor do Turismo do Patriarcado, através do Quo Vadis. José Manuel Pimenta, responsável por este projeto, explica que a Igreja não podia deixar de se associar.

“Era importante que o Turismo do Patriarcado integrasse este evento e fosse um dos parceiros organizadores”, o que já aconteceu na primeira edição, em 2019. De resto, “toda a programação do evento está alojada no nosso site www.quovadislisboa.com. E o nosso aplicativo é uma extensão, uma mais-valia, para que todos aqueles que queiram fazer as visitas, ou autonomamente visitar um determinado convento, o possam fazer, nas datas em que vai acontecer o evento, ou noutra altura do ano”.

Mas, numa cidade em que o turismo é prioritário, esta é uma iniciativa a pensar sobretudo nos lisboetas, em quem aqui vive ou trabalha.

“Este é um evento claramente direcionado para a cidade de Lisboa, é para os lisboetas poderem conhecer melhor a sua cidade, os seus espaços”, refere, sublinhando a oportunidade que constitui poderem ser guiados por especialistas, em espaços que nem sempre estão acessíveis ao público.

“Muitos só é possível serem visitados nesta altura, permitindo que os lisboetas possam usufruir, conhecer e deslumbrar-se com estes espaços pelos quais habitualmente passam na azáfama do dia a dia, e que agora poderão ver com mais calma, apreciando a sua beleza”.

O "Open Conventos" vai decorrer de 24 a 27 de maio. Em quatro dias, são 32 os antigos conventos que vão abrir as portas para receber quem os queira conhecer, participar numa das visitas guiadas, percorrer um dos vários itinerários propostos ou apenas entrar para ver o interior dos edifícios.

As atividades são gratuitas, mas carecem de inscrição prévia, que pode ser feita através do site Quo Vadis , do Patriarcado de Lisboa, onde pode ser consultado o programa, os itinerários e a informação histórica e cultural sobre cada convento a visitar.

A sessão de abertura está marcada para 24 de maio, às 18h00, na Sala de Extrações da Lotaria Nacional, instalada num dos antigos claustros da Casa Professa de São Roque (hoje a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa), e no dia 25 de maio, no Museu da Marioneta, terá lugar, a partir das 15h00, a conversa “Conventos e habitação”.

O evento conta com a colaboração de voluntários para acolher os visitantes e prestar informações sobre a memória de cada lugar.

Na primeira edição, em 2019, participaram mais de três mil pessoas.

Contar a história da cidade pelo seu edificado

Quando a 30 de maio de 1834 foi decretada a extinção das ordens religiosas em Portugal, havia mais de 70 conventos e casas religiosas em Lisboa.

A breve nota histórica, divulgada à imprensa na apresentação deste evento, lembra que “mosteiros, hospícios” e outros edifícios religiosos “caracterizavam a paisagem urbana de Lisboa, pela sua relevância arquitetónica e artística, mas, acima de tudo, pela vida que comunicavam à cidade: entrega total, cuidado do outro, importância da comunidade, abnegação dos prazeres individuais em ordem a um ideal.

Daí em diante, muitos e diversos foram os destinos destas casas, embrulhados nas dinâmicas de transformação urbana da Lisboa dos séculos XIX, XX e XXI. É esta história que, convento a convento, vamos dar a conhecer”.

por Ângela Roque in Renascença | 16 de maio de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença