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"Os Amorosos & Os Odiados"
É impossível começar a falar desta obra sem se falar sobre ambos os prefácios redigidos para este livro do jovem poeta Pedro Lopes Adão.
Por um lado, temos o extenso texto da parte de Pedro Villas-Boas Tavares e um mais curto da parte de A.M. Pires Cabral.
No primeiro prefácio que nos foi apresentado, escrito por Villas-Boas, vemos uma extensa abordagem da obra na sua totalidade, existindo uma constante intertextualidade entre alguns dos mais conhecidos nomes da literatura portuguesa como, por exemplo, Fernando Pessoa e Jorge de Sena. Todo este longo texto conseguiu captar a essência do jovem Pedro como poeta. Todas as musas usadas para inspirar esta obra demonstram da parte do autor uma comunicação entre ele e a sua obra e o próprio prefácio é capaz de destacar todos esses pontos que fazem a poesia de Pedro Lopes Adão tão única e sua.
No segundo prefácio, da autoria de A. M. Pires Cabral, mesmo sendo mais curto que o de Villas-Boas, consegue de uma forma consisa tocar em todos os pontos abordados na obra. Pires Cabral refere, em dois parágrafos de grande importância, a diferença patente entre a primeira e segunda partes da obra. Consegue-se observar um lado mais eufórico na primeira parte, que apela a sentimentos puros por parte um jovem autor que, mesmo no seu tempo de descoberta, consegue senti-los de uma forma tão profunda que chega a ser impensável para alguém da sua idade. Já a segunda parte é um pouco mais profunda, de acordo com Pires Cabral, e não tão eufórica quanto a primeira mas demonstra, de igual forma, muita maturidade por parte de Pedro Lopes Adão e muito cuidado na forma como escreve, fazendo com que a sua poesia seja apelativa aos olhos do leitor, como uma pintura num museu de arte.
Agora chegou o momento de falar da obra em si. Quando li a obra de estreia do Pedro, Palavra em Queda, senti que todo o sentimento lá depositado não poderia vir de alguém com 20 anos, parecia algo impensável, mas é possível que isso tenha ocorrido. Na sua primeira obra, senti uma felicidade e curiosidade indiscritível de quando se lê um bom livro e uma nova sensibilidade face à poesia que fui adquirindo ao longo do meu percurso, não só como apreciadora de literatura no seu geral, como também a nível académico.
Ao ler a primeira parte de Os Amorosos & Os Odiados, observamos um sentimento profundo por parte do sujeito poético face aos diversos cenários que o autor nos presenteia. Desde a dor da morte de um ente querido, ao desaparecimento de alguém que nos moldou a alma até às paixões tórridas que fazem com que a vida se torne numa metamorfose de emoções, Pedro Lopes Adão consegue manter o leitor ligado a cada personagem, mesmo que em poesia isso seja algo incomum, e faz nos sentir como se estivessemos a vestir a sua pele e estivessemos com a caneta na mão a escrever todas aquelas palavras bonitas e impactantes. Da vasta coletânea presente nesta primeira parte, “A tua sede de poesia”, “A Fugitiva” e “O Amor” foram alguns dos poemas que me tocaram no coração em particular pela sua beleza e entrega total aos sentimentos que muitas vezes nos negamos a expressar por serem algo tão nosso (no caso de “A Fugitiva”, p.28), de declaração a um ser amado que faz da nossa arte a ode da sua vida (“A tua sede de poesia”, p.22) e de um sentimento que tanto pode ser expressado em diversos meios mas que, quando se aplica ao nosso íntimo, muitas vezes pode ser confuso e indiscritível (“O Amor”, p.33).
Quanto à segunda parte da obra, vemos emoções mais profundas, revistos em memórias e em sentimentos que podem ser comparados ao ódio mas que, no fundo, se dissipam nas catacumbas da memória e se tornam lições para a vida. O uso das musas inspiradoras, cada uma com o seu nome ou denominação – Vera, Cláudia, Maria, mãe e tantas outras sem nome – fazem pensar se serão pessoas reais ou simples ficções. No entanto, quer existam quer não, quer a relação seja próxima ou não, a sua referência é feita de uma forma doce, sem remorso ou ódio, tornando-se uma ode bonita e recordações boas de pessoas que podem manter-se na nossa vida mas, talvez, a uma certa distância ou proximidade. Todos os poemas são impactantes devido à crueza com que são escritos e à sua técnica belíssima mas há alguns cujas temáticas marcam em particular: um amor não correspondido mas que, independentemente da relação que se possa ter futuramente, vai ser sempre visto como algo agradável e de devido respeito e devoção (“Cláudia”, p.51), alguém que retorna após vários anos, que era um tudo e, subitamente, se tornou apenas uma passagem (“A Retornante”, p.52) e a procura e, em simultâneo, o acolhimento do sujeito poético por parte do ser amado (“O Encontro”, p.55). Cada um destes poemas mostra os sentimentos de uma alma que parece incompleta mas que se tenta reconstruir aos poucos tentando alcançar, assim, um sentimento de paz sem ódio ou remorso por pessoa ou sentimento algum.
Por fim, temos o apêndice entitulado de “Nem Amores nem ódios”, é como se fosse uma reflexão de todos os sentimentos outrora depositados nas duas partes acima mencionadas, mas também a combustão de emoções que consegue irromper em palavras ásperas de dor e de sinceridade. Esta foi a parte em que o meu coração mais se apertou, por serem sentimentos tão intensos que alguém parece não conseguir descrever e depois temos o poeta, o Pedro, que consegue, através do seu dom da palavra, transmitir eles todos.
Como referi, este apêndice pode se assemelhar a uma reflexão sobre o nosso íntimo, tal como é observado no poema “Nesta noite em que em mim” (p.69). Esse poema demonstra um eu lírico que, ao olhar para beleza das estrelas, reflete sobre os vários anos da sua vida e em tudo aquilo que se tornara para se chegar até ao ponto em que se encontra. O poema “Todas as verdades” (p.73-74) espelha o que mencionei acima: a combustão de emoções que irrompe em palavras ásperas e sinceras de um artista que só quer revelar a sua verdade, o seu verdadeiro eu – mesmo que afirme que o desconheça (“A verdade é que me desconheço humano”, v.7, p.73) – e as verdades transmitidas através da sua poesia.
Muito poderia dizer sobre Os Amorosos & Os Odiados. Com esta análise retiro que estamos perante um crescimento notório de Pedro Lopes Adão, não só a nível estilístico, como a nível sentimental. Mesmo que os sentimentos possam ser do foro mais íntimo, o poeta consegue descrevê-los de uma forma tão delicada e bonita que se tornam de todos os que têm oportunidade de ler os seus poemas. Para quem tiver a chance de ler este livro, que consiga usufruir tanto da sua beleza, como dos seus sentimentos ardentes e intimistas e do fortíssimo impacto que estas palavras têm no nosso ser.
Texto redigido por Cláudia da Cunha Azevedo
SOBRE O AUTOR
Pedro Lopes Adão (n. 2001, Porto) começou a sua carreira na escrita aos 15 anos de idade, principiando a sua jornada com a poesia que, mais tarde, se estendeu para a crítica literária. Já teve oportunidade de colaborar com diversos meios de divulgação cultural, como a revista Devaneio, de que é membro da redação, a Comunidade Cultura & Arte, a Revista Kametsa, a Revista Mirada, o Ruído Manifesto, etc. Após ingressar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi convidado a se dar a conhecer na Revista Alegre e a integrar a antologia "110 Anos, 110 poetas" (org. Isabel Morujão). Entretanto já publicou: Palavra em Queda, ed. Glaciar (2022) e Os Amorosos & Os Odiados, ed. Lema d'Origem (2023).
ISBN: 9789899114326
Editor: Lema d'Origem
Data de Lançamento: março de 2023
Idioma: Português
Dimensões: 152 x 229 x 6 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 78
Tipo de produto: Livro
Coleção: Poiesis