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Em Leiria, a poesia está na rua

Sob a égide de Sophia, a 6ª edição do Festival Ronda Poética está a animar Leiria entre 20 e 25 de abril. São seis dias de mesas-redondas, espetáculos e lançamentos de livros para todos os gostos.

"A poesia não é uma arma, é uma força de desvendamento", diz o poeta e diplomata Luís Filipe Castro Mendes a propósito da 6.ª edição do Festival Ronda Poética, de que é curador. Iniciados os trabalhos esta quinta-feira, o evento prolonga-se até 25 de Abril e tem como mote o verso de Sophia de Mello Breyner Andresen "a paz sem vencedor e sem vencidos". Durante 6 dias, a poesia e a música vão ocupar vários espaços públicos da cidade, com um vasto programa rico em conversas, mesas-redondas, concertos, apresentações de livros, roteiros literários e muitas iniciativas envolvendo toda a comunidade.

Esta não é, no entanto, mais uma festa de Primavera, alheada da realidade. Como nos explica Luís Filipe Castro Mendes: "Escolhemos este tema pressionados pela situação na Europa. Não é verdade que o continente vivesse completamente em paz desde 1945 (basta pensar na guerra terrível que atingiu a Jugoslávia ou mesmo nos conflitos ocorridos na Irlanda) mas, de algum modo, tínhamo-nos habituado a viver num mundo com alguns parâmetros e hoje estamos com a guerra à nossa porta - geograficamente longe, mas politicamente muito perto. A poesia responde à vida, não está fechada num casulo. Reage através da criação de linguagem que pode despertar algumas consciências." Em foco, não estará apenas a guerra na Ucrânia: "Abordamos vários tipos de conflito, desde a guerra civil, existente hoje em países como a Colômbia, às guerras associadas às religiões ou às polarizações que não chegam à situação de guerra aberta, mas que revelam conflitos insanáveis no seio de um povo."

Os ecos da guerra chegam a Leiria através de várias iniciativas da programação. A 23, no Teatro Miguel Franco, às 21.30, o pianista Artur Pizarro preparou um repertório sui generis, constituído inteiramente por peças compostas só para a mão esquerda. Assim evoca a memória do pianista austríaco Paul Wittgenstein (1887-1961), que perdeu o braço direito na Primeira Guerra Mundial. O programa inclui obras de Bach, Brahms, Scriabin, Bortkiewicz, Blumenfeld, Godowsky, Sancan e Bartók. De destacar ainda a leitura de 10 poemas ucranianos traduzidos por poetas portugueses feita pelos atores Manuel Wiborg e Luís Lucas, em colaboração com a Casa Fernando Pessoa. O recital realizar-se-á na manhã de 25 de Abril, na Igreja da Pena, no Castelo de Leiria. Também a 25, mas às 19.00, no Museu de Leiria, o diseur e ator Pedro Lamares leva à cena uma criação da sua autoria intitulada A poesia é uma arma carregada de futuro. Isto, para além de vários lançamentos de livros, mesas-redondas e recitais.

Iniciativa essencialmente democrática, este Festival não se destina apenas aos "habitués" da Poesia. O chamado programa comunitário inclui 120 ações, incluindo a "prescrição" de poemas em várias salas de espera do hospital de Leiria, leitura de poesia no estabelecimento prisional com participação conjunta de poetas, reclusos e funcionários, e ainda múltiplas atividades em dezenas de escolas, lares, jardins de infância e outras tantas instituições e associações que quiseram associar-se à Ronda Poética. Se as atividades abertas ao público abrangem diferentes locais do centro histórico de Leiria - museus, teatros, o castelo, a biblioteca, uma livraria, uma galeria, um mercado ou uma antiga igreja -, na presente edição a Ronda Poética vai estender-se ainda à localidade de Cortes, onde vão ser evocados os serões literários que estiveram na origem deste festival.

Esta edição do Ronda encerra com o espetáculo em que Sérgio Godinho apresenta o seu 18.º álbum, Nação Valente. Acontece no Teatro José Lúcio da Silva, na noite de 25 de abril. Que, para voltar a Sophia, foi "o dia inicial, inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio."

PROGRAMA GERAL

Sexta 21
17h00 - Sessão de Abertura - VI Edição da Ronda Poética
17h30 - Mesa 1: Poesia e Guerras Coloniais
19h00 - Aprender a Usar a Baioneta em Tempo de Guerra - de António Tavares
21h30 - Lisbon Poetry Orchestra: Os Surrealistas
23h00 - 00h00 - Ruído Vário - Canções com Pessoa 

Sábado 22
10h00 - Roteiro dos Poetas
11h30 - Mesa 2: Poesia e Guerras Civis e Interétnicas
14h30 - Poesia para Salvar o Mundo
15h00 - 20h00 - Poemas Musicados de Sophia de Mello Breyner
16h00 - Acanto - Revista de Poesia n.º 7
17h30 - A Inclinação das Ervas - de Carlos Lopes Pires
18h00 - Nazaré e João Paulo Esteves da Silva: Canções
21h30 - Serões Literários das Cortes: as raízes da Ronda Poética 

Domingo 23
10h00 - O Guardador de Versos
10h30 - Aguarelas Poéticas
11h00 - Perseguição dos Dias - poesia de José Luís Tinoco
14h30 - Poetry Slam - concurso informal de poesia
15h30 - Mesa 3: Poesia e Guerras de Religião
17h30 - Poesia Musicada de Afonso Lopes Vieira
21h30 - Artur Pizarro: Recital de Piano para a Mão Esquerda 

Segunda 24
16h00 - Flor de Fumo e Outros Poemas - de Nadia Anjuman
17h00 - 19h00 - Beat a Verso
17h30 - Filme: Sophia de Mello Breyner Andresen
19h00 - Mesa 4: Poesia e Guerra na Europa
21h00 - Uma Conversa Entre Nós
23h00 - 02h00 - Beat a Verso DJ set 

Terça 25
11h00 - Sessão Solene 25 de Abril
11h00 - Quando a Primavera Chegar: 10 poemas de autores ucranianos
11h00 - Quem Vai à Guerra Dá e Leva
14h30 - Diário de Quem Ficou
15h00 - Quem Vai à Guerra Dá e Leva
16h00 - A Vocação Suspendida - de Lauren Mendinueta
17h30 - Sérgio Godinho
19h00 - A Poesia É Uma Arma Carregada de Futuro 

 


por Maria João Martins in Diário de Notícias | 21 de abril de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias
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