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Cartoons de João Abel Manta regressam em livro para "celebrar Abril"

João Abel Manta, de 95 anos, é considerado um dos "melhores desenhadores e ilustradores portugueses" das últimas décadas do século XX.

© Manuel de Almeida/LUSA 2021

A editora Tinta da China reedita, no próximo dia 20, o livro com os "icónicos cartoons" de João Abel Manta, dos anos de 1969 a 1979, no sentido de "celebrar Abril", anunciou a casa editora.

"Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição deste título", "Cartoons", agora abrangendo os anos de 1969 a 1992.

"Levou, pois, quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974", afirma a editora, no texto de apresentação da obra.

"Fechados já os jornais para onde eles foram enviados, amarelecidas ou apodrecidas as edições onde foram impressos, esquecidos até alguns dos momentos ou personagens neles representados, aqui os temos de novo, tão brilhantes e pertinentes como quando saíram do estirador de João Abel Manta", lê-se na página da Tinta da China na Internet.

Aqui se incluem "cartoons" anteriores a 1975 que não constavam da primeira edição, "Cartoons 1969-1975", "e todos os posteriores a esse ano, com notas, datação rigorosa, organização cronológica e uma introdução "contextualizadora" deste trabalho".

A organização e textos são de Pedro Piedade Marques, licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

A primeira edição, "Cartoons 1969-1975", foi publicada em 1975 pelas edições O Jornal e incluía um prefácio de José Cardoso Pires, para quem João Abel Manta ilustrara "Dinossauro Excelentíssimo", sátira a Salazar e à sua ditadura, que teve primeira edição em 1972.

João Abel Manta, 95 anos, um dos "melhores desenhadores e ilustradores portugueses" das últimas décadas do século XX, como o descreve a Tinta da China, desde cedo revelou a sua oposição à ditadura do Estado Novo (1933-1974), liderada por Oliveira Salazar e, depois, por Marcello Caetano.

Após a Revolução dos Cravos publicou os seus "cartoons" em jornais como Diário de Notícias, Diário de Lisboa, O Jornal, Jornal de Letras, Artes e Ideias (JL) e a revista Almanaque, sempre atento à atualidade, à realidade social e aos seus protagonistas.

Nascido em Lisboa, em 1928, filho único de dois pintores (Abel Manta e Clementina Carneiro de Moura), João Abel Manta comprometeu desde cedo o seu desenho com as convicções políticas da oposição democrática.

Dois anos depois da entrada na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde chegara em 1945, o artista, já militante do MUD Juvenil, ofereceu um desenho alusivo ao Natal de 1947, cuja reprodução e venda reverteriam para apoio a membros do Movimento de Unidade Democrática (MUD), presos pela PIDE.

"A sua é a geração que espera, com a derrota das forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial, a capitulação do regime de Salazar. O ativismo político valer-lhe-á a prisão em fevereiro de 1948, com duas semanas passadas em Caxias, e uma ficha nos arquivos" da polícia política da ditadura, recorda a Tinta da China na apresentação da nova edição.

Formado em Arquitetura, João Abel Manta teve importante intervenção neste domínio a partir do início da década de 1950, que abandonaria progressivamente em favor das artes plásticas, "destacando-se como o maior cartoonista português e um dos melhores ilustradores portugueses das décadas de 1960 e 1970", descreve a editora.

Além de "Cartoons 1969-1992", que regressa às livrarias este mês, a Tinta da China reeditou igualmente "Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar" (O Jornal, 1978), em abril do ano passado.


Fonte: Lusa | 15 de abril de 2023

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